Mark Zuckerberg fala pela primeira vez após vazamento de dados

Zuckerberg sempre apareceu para o mundo como uma pessoa fria e calculista. Agora, em seu primeiro pronunciamento após o escândalo que envolveu o Facebook e a Cambridge Analytica, responsáveis por utilizar dados de usuários sem sua permissão à favor da campanha de Trump e do Braxit, ele tenta parecer comprometido em consertar os erros de sua empresa- talvez por convêniencia 

A Cambridge Analytica comprou, segundo a investigação, acesso a informações pessoais de usuários do Facebook (sem sua autorização) e usado esses dados para criar um sistema que permitiu predizer e influenciar as escolhas dos eleitores nas urnas, segundo a investigação dos jornais The Guardian e The New York Times.

Desde que o escândalo está sob investigação, as ações do Facebook recuaram 2,6%. Somadas as perdas de segunda-feira (19), a desvalorização da empresa desde que o caso veio à tona no fim de semana é de quase US$ 50 bilhões, conforme informa o Valor Econômico. O antigo mentor do empresário, Roger McNamee, disse à rede de TV norte-americana CNN que a empresa "sequer deu o primeiro passo de admitir que há um problema". "Se eles não fizerem algo muito em breve, as pessoas vão perceber que não podem mais usar o Facebook", afirmou. 

Não é espanto que Zuckerberg tenha decidido demostrar mais comprometimento em resolver os erros cometidos, especialmente após a pressão por parte dos EUA e da União Europeia. “Quero que minhas filhas tenham orgulho do que faço", disse ele em uma entrevista exclusiva dada à CNN.

"Há uma grande eleição na Índia neste ano, há uma grande eleição no Brasil (…) você pode apostar que estamos realmente comprometidos em fazer tudo o que for preciso para garantir a integridade dessas eleições no Facebook", disse, admitindo que as eleições legislativas de novembro nos EUA ainda correm riscos.

Depois de se divulgar que a Cambridge Analytica teve acesso a mais de 50 milhões de perfis sem que a rede social se desse conta disso, a pressão para que Mark Zuckerberg deponha vai além dos Estados Unidos. O Facebook sustenta que a empresa britânica inicialmente coletou a informação com fins acadêmicos e que só depois violou as normas ao ceder os dados a terceiros, conforme relata o El País. 

O criador da rede social recuou frente à possíbilidade de regulamentação do Facebook. “Não tenho certeza se isso é necessário, mas acredito que a transparência na publicidade deve ser regulada”, disse.

Segundo o El País, Zuckerberg lamentou a quebra de confiança dos usuários: “Foi uma quebra de confiança e sinto muito por isso. Temos a responsabilidade de proteger os dados das pessoas. Nossa responsabilidade é evitar que aconteça de novo.” Entre as medidas mais imediatas, mencionou limitar o acesso dos desenvolvedores de aplicativos aos dados do Facebook. Também prometeu rever, com efeito retroativo, o acesso que esses aplicativos têm atualmente. “Será um processo intenso, não sabemos o que vamos encontrar”, admitiu.

Zuckerberg se arrependeu, aparentemente, de não ter agido antes. No início do ano já declarou que seu desafio para 2018 era arrumar o Facebook. Em 2015 ficaram sabendo das técnicas da Cambridge Analytica, mas não agiram.