Condutor do desmonte, Meirelles sairá do governo de olho nas eleições
O presidente Michel Temer confirmou nesta segunda-feira (26) que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, vai deixar a pasta em breve, para tentar se viabilizar como candidato à Presidência da República. O governo ainda não informou quem irá substituí-lo. Queridinho do mercado financeiro e símbolo do desmonte do Estado, Meirelles deve filiar-se ao MDB, segundo confirmou o titular da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Publicado 26/03/2018 18:30
"Já era a intenção dele [se desincompatibilizar do cargo]. Acertamos nesses últimos dias", disse Temer, ao Broadcast Político (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado). Pela legislação eleitoral, o ministro, hoje filiado ao PSD, tem até o dia 7 de abril tanto para sair do cargo como para entrar no novo partido.
Até o momento, os nomes mais cotados para assumir a Fazenda são os do secretário-executivo da pasta, Eduardo Guardia, e o do secretário de Acompanhamento Fiscal, Mansueto Almeida.
Em Porto Alegre, onde participava de palestras com lideranças empresariais do Estado, Meirelles – que personifica a agenda econômica do governo que pormoveu o desmonte do Estado, o aprofundamento da recessão e o ataque aos trabalhadores – preferiu não confirmar o acerto com Temer.
Disse que vai se posicionar no início da semana e que mandou fazer pesquisas qualitativas para tomar a decisão. Levantamentos de intenções de voto mostram que ele conta com apoio de apenas 1% do eleitorado.
Plano B?
Apesar de reprovado por 93% da população, na sexta-feira passada (23),Temer assumiu, em entrevista à IstoÉ, que deseja disputar a Presidência. "Acho que seria uma covardia não ser candidato", disse à revista. Adotando um discurso descasado da realidade mostrada nas pesquisas, nos indicadores econômicos e sociais e no dia a dia do trabalhador, ele defendeu que deve concorrer, porque teria recuperado "um País que estava quebrado".
A estratégia do MDB em relação a Meirelles seria, então, ter uma segunda opção, caso o projeto de Temer – que também aparece com 1% das intenções de voto nas sondagens – não vá para frente. Ele enfrenta dificuldades para conseguir apoio da própria base aliada. Das nove maiores siglas da base, três já lançaram ou lançarão pré-candidatos à Presidência. Outras seis sinalizaram apoio a outros postulantes.
Nesse cenário, o ministro começou a ser testado durante viagem ao lado do presidente pelo Nordeste, na semana passada. A ideia do MDB é a de que, se Temer não recuar, Meirelles poderia concorrer como seu vice.
Questionado nesta segunda-feira sobre a possibilidade de disputar como companheiro de chapa de Temer, Meirelles respondeu que a sua consideração sobre concorrer ou não era "sobre a Presidência". Embora não tenha descartado a hipótese da vice, ele lembrou que já foi convidado em outras duas oportunidades a concorrer ao cargo, e nas duas vezes negou a proposta. Aos 72 anos, o ministro considera que pode ser sua última oportunidade de disputar uma eleição presidencial.
Na entrevista em Porto Alegre, ele aafirmou que ainda analisa uma eventual mudança para o MDB, mas destacou que o PSD "está com outro projeto e não acredito que terá candidato próprio a presidente. É uma decisão que ainda não está tomada, mas eu acho que é um caminho, um caminho respeitável. É uma questão de estrutura do partido, de tamanho, de condições, de momento, etc. O MDB é diferente porque certamente está num momento em que tem tamanho, tem história, é o grande partido do governo e tem o Presidente da República atual".
Ponte para o precipício
Respondendo a perguntas já em tom de candidato, o ministro reafirmou que o governo trabalha agora numa "Ponte para o futuro 2", numa sinalização de que o programa neoliberal em curso deverá ser aprofundado. A primeira fase da plataforma tem sido implementada, com foco na iniciativa privada, no encolhimento do Estado, no ataque a garantias e direitos sociais.
No que depender do desempenho do governo, em especial na área econômica, as possíveis candidaturas de Temer e Meirelles parecem, até então, um abraço de afogados. Ambos assumiram com o discurso de que colocariam o país nos trilhos, retomando o cerscimento. Passados quase dois anos e meio a uma recessão que provocou um recuo de mais 7% no PIB, as promessas não forma cumpridas.
O país registrou um crescimento pífio de 1% em 2017, mas o início deste ano já foi de nova retração. Mais de 12,7 milhões de trabalhadores continuam sem emprego, e as poucas vagas abertas são informais, que significam maior precarização do mercado de trabalho.
Neste cenário, até mesmo representantes do mercado afinados com Meirelles já admitem que não haverá recuperação econômica pelo consumo. Especialistas também apontam aumento da desigualdade. E, para além dos indicadores, é visivel o aumento da pobreza e da violência nas cidades brasileiras.