Doria defende Previdência que penaliza trabalhador e população 

O prefeito de São Paulo, João Doria, alega que a previdência municipal da capital paulista é deficitária e por isso precisa ser reformada, mas para usuários, professores e dirigentes sindicais ouvidos pelo Portal Vermelho o objetivo do tucano é o desmonte das políticas públicas, ação alinhada à política do governo de Michel Temer que fracassou quando quis reformar a Previdência Social. Pressão governista pode garantir votação do projeto ainda nesta terça-feira (27).

Por Railídia Carvalho

Trabalhadores do serviço público de São Paulo protestam na Câmara contra projeto de Doria - Mídia Ninja

Doria deixa a prefeitura de São Paulo dia 7 de abril para concorrer ao governo do Estado de S.Paulo mas pretende aprovar na Câmara o PL, conhecido como SampaPrev, e que, entre outros itens, aumenta a contribuição previdenciária dos servidores de 11% para 14%, com adicional de até 5%, dependendo da faixa salarial. Em protesto, trabalhadores do serviço público da capital estão há 19 dias em greve.

No encontro com dirigentes grevistas neste dia, Doria sinalizou que pode recuar dos 5%. De outro lado ameaçou: Segundo sindicalistas, o prefeito afirmou que se o PL não passar na Câmara não haverá dinheiro para cumprir programas da educação e nem pagar salários dos servidores.

O projeto foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) mas ainda precisa passar por mais três comissões na Câmara e ser aprovado em dois turnos no plenário da Casa. Dirigentes sindicais denunciam que o prefeito tenta aprovar o projeto ainda nesta terça.

Sucateamento do serviço público

“É o maior ataque que essa categoria vem sofrendo em São Paulo em um cenário nacional de ataque aos direitos dos trabalhadores. Ano passado fizemos greve contra a reforma da previdência nacional e graças à mobilização popular foi suspensa. Mas como não conseguiram na esfera nacional estão atuando nos municípios e estados. O objetivo dos governantes é desmontar o serviço público iniciando por aumentar a contribuição do trabalhador e diminuir o salário. O efeito será a exclusão da maioria da população dos serviços básicos”, avaliou Sara Siqueira, professora da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Alceu Mainardi, no bairro do Bom Retiro em São Paulo.

Na sexta-feira (23), Sara participou de um protesto contra o SampaPrev reunindo professores, gestores e pais de alunos nas ruas do bairro e que ocupou um trecho da Marginal Tietê, uma das vias mais movimentadas de São Paulo. Ela enfatizou que o argumento do rombo, usado por Doria, é mentiroso. “Sabemos que os maiores devedores são os banqueiros” apontou a professora.

Trabalhadores da educação penalizados

Sara explicou que o aumento na alíquota de contribuição vai rebaixar o salário dos professores pela metade em uma profissão para quem é prevista aposentadoria especial justamente por conta do desgaste da atividade.

“Hoje o salário inicial de um professor está em torno de 2.500 reais. Uma contribuição para previdência de quase 20% combinada com os 20% do imposto de renda vai deixar o salário pela metade. Para aqueles que chegam no topo da profissão depois de muitos anos de estudo e que alcançam os 8 mil reais de salário com a reforma se aposentarão com 4 mil reais. Depois de uma vida de muitos cursos pagos, horas a mais investida na profissão porque a jornada no professor não se encerra na escola”, explicou Sara.

Dona Maria de Lurdes, avó de duas estudantes da EMEI onde ocorreu o o protesto da sexta, afirmou ao Portal Vermelho que apoia a greve. Segundo ela, a reforma da Previdência de Doria é para atender aos grandes empresários. “Vai penalizar o professor que tem que trabalhar em duas, três escolas para ter o pagamento justo para pagar suas contas. Tem muita família que depende da prefeitura do serviço público e que será prejudicada”, lembrou Lurdes.

A luta é para preservar direitos

Sara acrescentou que a reforma do SampaPrev faz parte de um conjunto de medidas da prefeitura que extinguiu o programa do leite gratuito para as crianças e também o transporte escolar gratuito. “Também acabaram com o horário de tempo integral. Agora essa Emei só atende meio período. Estão aqui os filhos dos trabalhadores das fábricas de costura que não tem mais onde deixar as crianças, que agora ficam correndo no meio do maquinário nos locais onde os pais trabalham”, informou Sara. Segundo ela, na região cerca de 80% dos estudantes são imigrantes sul-americanos.

A ideia do protesto na Marginal foi de Valdemiro Vieira Rodrigues, que é pai de uma criança atendida na Emei local. Ele também apoia a greve dos professores. “Eu só fiz diferença na minha vida porque eu fui em busca do conhecimento. A educação é o mínimo que a gente precisa ter e buscar. É um direito que nós já temos e temos que vir aqui nos manifestar na marginal para evitar perder esse direito. É muito triste. O país está nessa situação porque não investe na educação. Tirar o direito à aposentadoria de quem foi em busca de se formar professor é muito triste”, indignou-se Valdemir.

Confisco salarial e caos social: o caso do Rio de Janeiro

Dimitri Silveira, diretor do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Simpeem-SP), definiu o projeto de Doria como um “confisco do salário do servidor público”. Ele lembrou os efeitos que o confisco salarial e o sucateamento dos serviços públicos provocou no Rio de Janeiro. “A população está sendo penalizada com o corte de verbas em saúde, educação e serviços básicos. Confiscaram o salário do funcionalismo público. Essa política provocou um caos social. É o que vemos no Rio de Janeiro e não queremos isso para São Paulo”, afirmou Dimitri.

Na opinião dele, a população tem apoiado o movimento dos trabalhadores do serviço público em São Paulo. O dirigente lembrou mais uma vez o fim do programa do leite nas escolas e o impacto na população usuária das escolas públicas. “E não é apenas isso. Doria anunciou que vai fechar linhas de ônibus e mais de 200 Amas (Assistência Médica Ambulatorial) e mais o confisco salarial. Esse cenário criou as condições para uma greve histórica. Há muitos anos não se via a unidade entre os setores do funcionalismo público contra o sucateamento dos serviços públicos em São Paulo”, enfatizou Dimitri.