Um mês após execução, marcha refaz último percurso de Marielle

Cerca de 10 mil pessoas marcharam pela cidade do Rio de Janeiro na noite deste sábado (14) para lembrar o brutal assassinato que, há um mês, tirou a vida da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista do carro no qual ela estava, Anderson Gomes. Cobrando justiça, a marcha repetiu simbolicamente o trajeto feito na noite do crime, quando Marielle participou de um evento na Casa das Pretas, na Lapa, e rumava para sua casa, na zona norte.

Marielle Franco - Wikimedia Commons

Com muitas flores, batucadas e performances, a concentração de pessoas tornou-se marcha ao tomar a rua Mendes Sá, entoando palavras de ordem como "por Marielle eu digo não, eu digo não à intervenção". Ao passarem em frente ao Batalhão de Choque, os manifestantes também entoaram palavras de ordem pelo fim da Polícia Militar. A caminhada ocorreu sem qualquer confronto com as forças de segurança.

O ato terminou na rua João Paulo I, no bairro do Estácio, local onde ocorreu o assassinato. Ali foram feitas projeções, cânticos intercalados com 1 minuto de silêncio e uma lavagem simbólica. Também foram deixadas flores, velas e outras homenagens às vitimas.

“As pessoas estarem reunidas aqui e fazerem esse percurso é bem simbólico, para mostrar que tem um mês e a gente ainda não conseguiu encontrar justiça para Marielle e nem para Anderson. A gente está aqui na rua mostrando nossa resistência por ela, continuamos sendo sementes de
Marielle e vamos estar muito mais fortes”, afirmou o vereador David Miranda (PSOL).

O vereador disse ter confiança nas investigações que estão sendo conduzidas por pessoas que conheciam Marielle desde os tempos que ela era assessora do deputado estadual Marcelo Freixo. Mas ressaltou que a pressão é constante e, também, internacional. A campanha Justice for Marielle, liderada por Miranda, já conta com apoio como Edward Snowden, Noam Chomsky e Naomi Klein, além de integrantes do movimento Black Lives Matters e de integrantes dos
parlamentos alemão, inglês e norte-americano.

A poetisa e organizadora do Slam das Minas, Letícia Brito, também esteve na marcha e traduziu o sentimento de suas companheiras de rima. “Marielle era uma representante negra, periférica, de favela e era uma voz dentro da Câmara de Vereadores muito importante pra gente. Marielle apoiava o Slam. A gente chegou a fazer eventos com Marielle e as nossas poesias são muito políticas. Então, Marielle era uma liderança que a gente tinha, a gente perdeu e a gente quer
justiça”, resumiu.

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) destacou que a marcha era muito importante para confortar as famílias das vítimas e fazer jus ao legado de Marielle. “Um mês depois as pessoas continuam na rua. Acho que é uma demonstração para a sociedade que a morte não significa a morte. Revive-se o processo, o próprio trajeto que a caminhada vai fazer, dando um significado novo, de que a luta se mantem”, declarou.

Abalada também pela prisão do ex-presidente Lula, Jandira destacou que demostrar força de mobilização agora é fundamental para combater o estado de exceção e as injustiças crescentes no país. “É muito dolorido nem ver o sorriso da Marielle e nem ter a presença do Lula nas ruas. Mas, essa dor tem que ser transformada nessa capacidade que a gente tem de gerar esperança, de gerar alegria, de gerar solidariedade”, apontou.