Cravos de Abril, um poema 

Por Adalberto Monteiro

revolução dos cravos

Os cravos portugueses
Sagraram-se
Pelo sangue derramado
De negros e alvos.

Os cravos, o povo português
Os porta à mão como quem empunha um fuzil.
E ao cravá-los na lapela,
Pulsa-lhes um segundo coração.

Os cravos portugueses
São perfumados e encarnados
De hastes altas, altivos mastros.
Na primavera suas pétalas
São jorros rubros de vinho.
Os cravos dessa terra.
O povo os semeia, os cultiva,
Os celebra.

No 25 de abril,
Os portugueses adquirem cravos
Como quem compra pão.
Carregam cravos e desbravam trevas,
As mãos seguram cravos como quem conduz
Tochas de fogo e luz.

Portugal que criou a ciência dos mares,
Vê Lisboa alagada pela esperança,
Vê, novamente, nos punhos cerrados do povo
A bravura de quem venceu a fúria dos oceanos,
E a selvageria dos tiranos.

Os opressores argumentam,
– Os tempos são outros.
E para ter, eternamente,
Os trabalhadores como escravos,
Alardeiam: os cravos de Abril
Murcharam, para sempre, irremediavelmente…
Esquecem que eles,
São viçosos, teimosos e persistentes.
Desconhecem que a Revolução

Semeou suas sementes
No solo e nas mentes.
E feito vinhas e feito trigo
Elas brotam e vicejam.
E sempre cá estão os cravos
A irmanar e a encantar o povo
A lembrá-lo a cada dia de trabalho,
A cada livro aberto,
A cada retalho de tecido para um
Vestido novo,
A cada taça de vinho
A cada verso de um fado
A continuar lutando
Contra o fardo da opressão.
Até que as algemas se quebrem,
Até que um novo Abril renasça,
Se faça, floresça e, dessa segunda vez,
Permaneça e daqui não mais parta.