Autor do atentado de Toronto tinha ligação com grupo sexista
Alek Minassian, o homem de 25 anos suspeito de ser responsável pelo atropelamento intencional de várias pessoas em Toronto, no Canadá, estaria ligado a um movimento online de “celibato involuntário”, constituído por homens solteiros que se sentem "rejeitados" pelas mulheres
Publicado 26/04/2018 17:48
Na segunda-feira (23) morreram dez pessoas. O atropelamento deixou ainda outras 15 feridas. As vítimas são "predominantemente mulheres", disse o sargento da Polícia de Toronto Graham Gibson, citado pelo New York Times.
O que levou as autoridades a formular estas suspeitas sobre Minassian, um estudante de ciências informáticas de 25 anos, foi uma mensagem que surgiu na sua página do Facebook minutos antes de atirar uma caminhonete alugada contra uma multidão de pedestres, na sua maioria mulheres, em Toronto. "A rebelião da Incel já começou!", dizia, e invocava também o assassino em massa californiano Elliot Rodger.
Rodger matou seis pessoas e feriu 14 num ataque em 2014 e escreveu um manifesto em que atribui a culpa às mulheres em geral pela sua solidão e pelo fato de ainda ser virgem, explica a organização Southern Poverty Law Center, que acompanha a atividade de grupos fascistas, neonazistas nos Estados Unidos. "Sou o tipo perfeito e vocês atiram-se a estes homens horríveis em vez de mim, o supremo cavalheiro", escreveu o assassino sexista que se suicidou depois de ter matado as suas vítimas. É visto como um santo padroeiro dos homens que se identificam com este movimento, o Incel.
O termo Incel teria sido criado há cerca de duas décadas para se referir a um grupo de pessoas “involuntariamente celibatárias”, que funcionava como uma comunidade de apoio online para pessoas solteiras. O termo criou a expressão “incel”.
No entanto, agora a expressão ganha um novo significado, depois de ter sido adotada pelo movimento misógino, machista e sexista. Segundo Mike Wendling, autor do livro "Alt-Right: do 4Chan à Casa Branca" e jornalista da BBC, esta comunidade se assemelha aos grupos de supremacistas brancos e neonazistas, na medida em que se movimenta nas mesmas plataformas e recorre ao mesmo tipo de terminologia.
"A Comunidade Incel é uma das áreas mais violentas da Internet", disse ao New York Times Heidi Beirich, que segue grupos de ódio para o Southern Poverty Law Center. "Para algumas pessoas podem parecer um grupo de homens brancos patéticos, vitimatizados e solitários. Mas não. É uma coisa muito dura", explicou.
Por exemplo, os incel têm nomes para as figuras nas quais destilam o seu ódio. As Stacys, por exemplo, são as mulheres bonitas. Os Chads são os homens atraentes. Depois existem os Normies¸ as pessoas que não são necessariamente atraentes, mas que conseguem encontrar um par amoroso. Os incels são o grupo que não consegue encontrar ninguém no campo amoroso e/ou sexual e por isso tornam-se violentos contra quem consegue.
Entre as ideias de ataques e “vinganças” discutem punições para estas mulheres, como violações em grupo, ou dicas de como perseguir mulheres, sem serem detectados. Culpam o feminismo e o controle contraceptivo pelos seus fracassos amorosos, e planejam ações violentas. Discutem como fazer uma mulher se sentir inferior e inseguras para que possam dominá-las. Um grupo violento, opressor e de ódio.
Apesar de não se saber a dimensão do movimento e quantos membros possui, o jornalista da BBC acredita que “não se trata de um pequeno grupo no Reddit”. “É grande. É substancial. É um movimento que atrai dezenas de milhares de pessoas que visitam estas plataformas e estes são locais seguros para eles”, acrescenta. No ano passado, o Reddit baniu o subreddit (um fórum online da plataforma) da comunidade incel, acusando-os de incitar a violência contra as mulheres.