Lula: “Estou aguardando que Moro diga qual foi o crime que cometi”

Lula Livre! É a palavra de ordem de manifestantes em todo o país. Nesta segunda-feira (7), completa um mês da prisão política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, resultado de um processo comandado por um juiz parcial e recheado de convicções, mas sem provas.

Lula - RICARDO STUCKERT

“Completam-se 30 dias que estou aqui aguardando que Moro e o TRF-4 digam qual foi o crime que cometi”, afirmou Lula em carta enviada em agradecimento aos atos de solidariedade. Condenado a 12 anos e um mês de prisão pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) que admitiu na decisão que a condenação foi baseada em "elementos de convicção" que corroboraram as delações contra Lula.

Numa prisão em tempo recorde – apenas 22 minutos, entre o envio do ofício do TRF4 autorizando a execução da pena e a decisão de Moro de executar a prisão. Segundo o sistema de acompanhamento processual da Justiça Federal do Paraná, o ofício chegou às 17h31 do dia 5. Às 17h53 foi proferida a decisão de Moro.

A celeridade nunca vista foi justificada por Moro que disse que não havia razão para adiar o cumprimento da sentença. Mas o real propósito era tirar Lula de circulação e, assim, impedir a sua participação no pleito de 2018.

Lula foi colocado em uma cela e mantido em regime de isolamento. As informações sobre o ex-presidente vieram apenas de seus advogados, a única pessoa a vê-lo nos primeiros dias, já que foi impedido de receber visita de seus familiares e amigos, como determina a lei. A família só pode vê-lo no dia 12 de abril.

Desde que foi preso, um acampamento formado por ativistas dos movimentos sociais e militantes foi montando próximo a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde Lula está preso.

“Eu ouvi o que vocês cantaram. Estou muito agradecido pela resistência e presença de vocês neste ato de solidariedade”, disse Lula na primeira mensagem enviada aos manifestantes.

Dezenas de lideranças e autoridades estiveram em Curitiba para tentar visitar o ex-presidente, que foram negados pela juíza Carolina Moura Lebbos, da 12ª Vara da Justiça Federal de Curitiba, responsável pelas análises dos pedidos e que, segundo fontes, antes de qualquer decisão submete o pedido ao juiz Sergio Moro.

Na primeira semana, uma comitiva de 9 governadores foi impedida de ver o ex-presidente. Outro pedido negado foi o de Adolfo Pérez Esquivel, ganhador do Prêmio Nobel da Paz, e o teólogo Leonardo Boff, um dos conselheiros do Papa Francisco. A presidente eleita Dilma Rousseff e uma comissão de deputados também foi barrada.

Caravanas de todo o país já foram até Curitiba. No 1º de maio, Dia do Trabalhador, a praça Olga Benário foi tomada por milhares de pessoas no ato unificado das centrais em defesa da democracia e contra a prisão de Lula.

Apesar de preso, a perseguição política por meio do Judiciário e os ataques midiáticos não foram capazes de acovardar o ex-presidente. O consórcio golpista, formando pela direita conservadora e a grande mídia, acreditaram que a prisão do ex-presidente seria o trunfo contra Lula e as forças progressistas.

“Um mês de Lula preso sem provas. um mês de mais um ataque à democracia. #lulalivre”, postou a pré-candidata do PCdoB à presidência da República, Manuela D’Ávila. 

A prisão do ex-presidente é a terceira parte do golpe, que depois de afastar uma presidenta eleita, impor um governo ilegítimo com uma agenda de retrocessos, a estratégia é tentar manobrar para que a direita não tenha a sua quinta derrota nas urnas, como aconteceu em 2014.

No entanto, Lula segue forte liderando as pesquisas de intenção de voto para as eleições de outubro, e o campo de esquerda está unido na luta por resistência.

Todos os dias, os manifestantes se reúnem para dar bom dia e boa noite ao ex-presidente. “Não há nada no mundo que possa pagar o carinho que vocês têm demonstrado todo dia (…) A minha tranquilidade é porque eu tenho vocês”, agradece Lula.

“Tenho certeza de que sou vítima de um conluio entre imprensa e força-tarefa da Lava Jato que não sabem como sair da emboscada que se meteram com tantas mentiras”, diz outro trecho da carta. “Estou tranquilo e sereno. Não sei se os acusadores dormem com a consciência tranquila que eu durmo. A minha tranquilidade é porque eu tenho vocês. Obrigado!”, finaliza.