Vanessa Grazziotin: A farsa da meritocracia tucana

Em artigo, a senadora Vanessa Grazziotin questiona a indicação do diplomata Eduardo Sabóia para assumir a Embaixado do Brasil no Japão.

Embaixador Eduardo Saboia - Foto: Evaristo Sá/AFP

O diplomata Eduardo Saboia, que em 2013 organizou a operação que trouxe – através de uma fuga espetacular – o então senador Roger Pinto Molina ao Brasil, sem autorização dos governos Dilma e Morales; que já havia sido promovido por Temer, em 2016; que foi assessor da comissão de Relações Exteriores e do Gabinete da Liderança do governo no Senado, e virou chefe de gabinete do ministro Aloysio Nunes, agora, possivelmente, terá sua primeira experiência como embaixador, e, pasmem, foi indicado para a embaixada do Brasil no Japão!

Posto, dos mais cobiçados pelos embaixadores e, para onde vão geralmente os mais experientes.

E qual a justificativa técnica ou administrativa para que o senhor Saboia fure a fila e passe à frente de diplomatas muito mais experientes e com uma carreira construída ao longo dos anos representando o Itamaraty em diversos países da América latina, África, Europa e Ásia?

O diplomata Saboia entrou no serviço diplomático há pelo menos 28 anos, mas sua carreira ganhou um impulso inédito e atípico no Ministério de Rio Branco a partir da assunção de Temer.

Em pouco mais de 2 anos, passou de suspenso a ministro de primeira classe, e agora foi aprovado como embaixador do Brasil no Japão.

O relatório conclusivo de sindicância do Ministério das Relações Exteriores mostrou de forma cabal a quebra de hierarquia e o desrespeito às normas internas daquele órgão.

Uma postura voluntarista, contrária ao espírito construído pelo Itamaraty ao longo de décadas e que seria punida pelo serviço diplomático de qualquer país.

E é importante relembrar quem foi o ex-senador cuja fuga foi patrocinada e executada pelo agora embaixador Saboia.

O falecido ex-senador era acusado pela justiça boliviana de formar milícias armadas, as quais promoveram uma verdadeira chacina contra camponeses e indígenas que em marcha defendiam a integridade territorial da Bolívia. Uma chacina classificada pela Unasul como crime contra a humanidade.

Além disso Molina respondia a inúmeros processos por corrupção e malversação de recursos públicos, o que redundou, em 2013 a uma condenação. Essa condenação ocorreu após um ano de seu refúgio na embaixada brasileira.

Mesmo assim o governo brasileiro vinha negociando a saída do senador da embaixada, visto o iminente embaraço às relações bilaterais, e a posição de não retirar o senador da embaixada sem um salvo conduto estava apoiada em pareceres da AGU e da Procuradoria da República. Tratava-se portanto de uma posição de estado e não de governo.

Mas para garantir os holofotes e a atenção dos então opositores do governo Dilma, o encarregado de negócios Eduardo Saboia utilizou um carro oficial da embaixada para trazê-lo a cidade de Corumbá (MS).

Pois bem, a meteórica ascensão de Eduardo Saboia mostra que ele atuou de forma decidida. Decidido a aproveitar a enviesada meritocracia tucana para passar à frente dos demais colegas de ministério com a tosca justificativa de ajudar um condenado pela Justiça que estava “em depressão”.