Resistência na América Latina é tema de ato de solidariedade em Lisboa

A situação na América Latina e Caribe foi tema de uma sessão de solidariedade promovida pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) em Lisboa, nesta quinta-feira (7). A entidade convidou os Embaixadores de Cuba, Mercedes Martínez Valdés, e da Venezuela, Lucas Rincón, a representante do núcleo do Partido dos Trabalhadores em Lisboa, Tânia Veiga, e Moara Crivelente, membro da Comissão de Política e Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil.

solidariedade em lisboa

A sessão foi introduzida com uma rica apresentação musical por parte da banda El Sur, que cantou temas de Violeta Parra e outros latino-americanos. Discutindo as graves ofensivas do neoliberalismo, sob forte influência do imperialismo estadunidense, abriram o debate a presidenta do CPPC, Ilda Figueiredo, o professor Luís Carapinha, também membro da entidade, e o presidente da Associação de Amizade Portugal-Cuba (AAPC), Augusto Fidalgo.

Ilda Figueiredo pontuou os principais desafios do movimento da paz e a gravidade conjuntural na América Latina e Caribe, ressaltando a persistência do bloqueio criminoso contra Cuba, as constantes tentativas de derrubada do governo do presidente Nicolás Maduro, na Venezuela, e o golpe de Estado no Brasil. Entretanto, enfatizou que a luta conjunta das forças da paz será capaz de fazer frente a esta ofensiva e expressou a firme solidariedade do povo português a esta empreitada na região.

Cerca de 100 pessoas estiveram presentes ao evento

Fidalgo e Carapinha abordaram a geopolítica da corrente encruzilhada na América Latina e Caribe. O presidente da AAPC afirmou o apoio resoluto às lutas do povo cubano e venezuelano e também rechaçou o golpe de 2016 no Brasil, passando ainda pelos desafios enfrentados pelos povos em todo o mundo, destacando o caso do povo palestino em sua luta contra a ocupação israelense. Carapinha fez uma análise mais abrangente, passando pela tentativa de liquidação do projeto de integração regional e soberana promovida pelas forças conservadoras, mas enfatizou na necessidade de se defender as conquistas alcançadas nesses 15 a 20 anos de governos progressistas.

Os embaixadores de Cuba e da Venezuela asseguraram que seus povos seguem firmes na resistência e que sairão vitoriosos desta batalha. A embaixadora Mercedes Valdés falou da reforma constitucional em Cuba para a evolução do projeto nacional socialista e da luta constante contra a ingerência externa, e manifestou contundente apoio à luta do povo brasileiro pela liberdade do presidente Lula. O embaixador Rincón também expressou solidariedade a esta luta e, denunciando a incessante guerra midiática contra a Revolução Bolivariana, atestou o seu fracasso ao comentar os resultados das eleições presidenciais de 20 de maio, com participação eleitoral até superior àquela de muitos países ditos democráticos, como os EUA. O diplomata deixou contundente mensagem de resistência e assegurou que o povo venezuelano e os povos latino-americanos em geral seguirão firme na luta.

Já as representantes do PT e do PCdoB abordaram os desafios da região na resistência anti-imperialista e de afirmação soberana em prol dos rumos progressistas, de combate à desigualdade social crônica. Tânia Veiga abordou a persistente política de ingerência dos EUA para a América Latina e Caribe, passando pela Doutrina Monroe e a visão de que a região não passa de um quintal dos Estados Unidos, ressaltando o papel inspirador da República de Cuba e da Venezuela bolivariana para a resistência regional. Moara Crivelente expressou a solidariedade dos brasileiros com a luta dos povos cubano, venezuelano e colombiano, ressaltando a importância da defesa da paz formal alcançada na Colômbia, mas ameaçada pela persistência do paramilitarismo e a herança de militarização da política promovida pelos EUA.

Moara pontuou também alguns dos retrocessos impostos pelo governo ilegítimo de Michel Temer ao povo brasileiro, com a ofensiva antipopular e antinacional, contra os trabalhadores e o movimento sindical, o avanço da privatização de setores estratégicos, como o leilão e desmantelamento da Petrobras, mencionando a notícia do mesmo dia de entrega de campos importantes do Pré-Sal a petrolíferas estrangeiras. Falou ainda do giro de 180º na política externa brasileira, para uma de subserviência ao capital estrangeiro e à agenda hegemônica, com destaque para a rendição ao imperialismo estadunidense, com o exemplo do desengajamento de metade dos membros da Unasul e a promoção de uma integração entre o Mercosul e a Aliança do Pacífico. Ressaltando também a ofensiva contra a vizinha Venezuela pelo chamado Grupo de Lima e a Organização de Estados Americanos (OEA), o “ministério das colônias”, como dissera o diplomata cubano Raúl Roa García, expressão retomada por Maduro para confirmar a saída venezuelana da entidade.

À mesa (da esquerda pra direita): presidente da AAPC Augusto Fidalgo,
presidenta do CPPC Ilda Figueiredo e membro do CPPC Luís Carapinha

O evento aconteceu na Casa do Alentejo, em Lisboa, e contou com a participação de ao menos uma centena de pessoas, numa contundente manifestação de esperança e solidariedade à luta dos povos latino-americanos e caribenhos pela superação deste momento de grave ofensiva.