Arábia Saudita ataca cidade e porto de entrada de aliementos no Iêmen

A Arábia Saudita e líderes iemenitas que a apoiam, com os seus aliados, principalmente os Emirados Árabes Unidos e o Sudão, que têm tropas no terreno, garantem que vão expulsar o movimento huthi da cidade erguida no mar Vermelho e começar assim “a reconquista do Iêmen”

porto do Iêmen

A ONU diz que o ataque a Hudheida iniciado nessa quarta-feira (13) pode “piorar de forma drástica” as condições de uma população que já vive em desespero há três anos.

Em Hudheida e nos seus arredores vivem 600 mil pessoas, incluindo 300 mil crianças. A coordenadora da ajuda da ONU no país, Lisa Grande, avisa: “No pior cenário, com uma operação prolongada, tememos que até 250 mil pessoas possam perder tudo – até as suas vidas.”

O Iêmen, que já era o mais pobre dos países árabes (em 2014, metade da população vivia com menos de dois dólares por dia e sem acesso a saneamento básico, com 41% delas vivendo em insegurança alimentar), atravessa uma crescente tragédia desde que a Árabia Saudita decidiu formar uma coligação e enfrentar os huthis, uma tribo do Sul marginalizada pelo governo que os sauditas ajudaram a formar depois dos protestos de 2011, que derrubaram Ali Abdullah Saleh, um ditador há 33 anos no poder. Os huthis assumiram o controle de grande parte do país e, segundo os sauditas, estes são aliados do Irã, e que portanto a Arábia Saudita não pode permitir que vençam.

A coligação formada pela Arábia Saudita é composta principalmente por países árabes, mas os EUA apoiaram os sauditas reabastecendo aeronaves sauditas e dos Emirados Árabes Unidos e fornecendo assistência para realizar ataques aéreos e compartilham informações de inteligência. A Arábia Saudita é aliada dos Estados Unidos, grande provocador e inimigo do Irã. 

O resultado são 8,4 milhões de pessoas passando fome (números da Organização Mundial da Saúde) e dependentes do porto de Hudheida para a entrada de alimentos, medicamentos ou combustível (80% de tudo o que entra atualmente no país chega por essa via).

Desde que os sauditas se envolveram no que era até então uma guerra civil, em 2015, já morreram pelo menos 10 mil pessoas (dois terços destes mortos eram civis) nos combates, a maioria atingidos por ataques aéreos da coligação. A ONU não inclui aqui os mortos por doença ou malnutrição – só o surto de cólera matou 2290 pessoas.

"Pensávamos que não podia piorar.."

É a primeira vez que a coligação formada por Riade tenta tomar Hudheida (ou uma cidade tão fortificada e bem defendida como esta). A operação Vitória Dourada começou de manhã, com cerca de 30 ataques aéreos contabilizados pela CARE International, uma das poucas organizações que ainda operam na cidade. “Alguns civis estão encurralados, outros tiveram de fugir das suas casas. Pensávamos que não podia piorar, infelizmente estávamos enganados”, disse à BBC a diretora da ONG para o país, Jolien Veldwijk.

A televisão saudita Al-Arabiya cita testemunhas que descrevem bombardeamentos “concentrados e intensos” nas imediações do porto. Já ali se encontravam cinco navios que descarregam bens, mas foram proibidas quaisquer novas chegadas por causa dos ataques.

A ONU tem tentado forçar um acordo entre as partes, mas esta operação “vai provavelmente exacerbar uma situação humanitária que já é catastrófica", diz a porta-voz da Cruz Vermelha, Marie-Claire Feghali.

Na terça-feira (12), a Cruz Vermelha Internacional e a ONU retiraram seus trabalhadores humanitários internacionais do porto iemenita de Hodeidah, temendo o ataque de forças pró-governo apoiadas pelos EUA, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos (EAU).

Martin Griffiths, o enviado especial das Nações Unidas para o Iêmen, avisou que este ataque vai ser um golpe para os seus esforços. “Estou muito preocupado com os desenvolvimentos militares em Hudheida. Uma maior escalada militar terá sérias consequências na situação humanitária desesperada que o país vive”, diz Griffiths num comunicado. “Não existe uma solução militar para o conflito".