China aposta em esforços coletivos na próxima cúpula do BRICS
Para o pesquisador do Grupo de Estudos sobre o BRICS da Universidade de São Paulo, Diego Amorim Xavier, o BRICS pode ser compreendido, no geral, mais como um espaço político das novas discussões globais do que propriamente como um grupo econômico
Por Rafael Lima
Publicado 25/06/2018 17:08

"Sua força vem especialmente da criação de caminhos alternativos às propostas globais tradicionais. Os grandes desafios do BRICS residem nas questões culturais", disse Diego à Xinhua um mês antes da abertura da 10ª Cúpula do BRICS, que acontecerá entre os dias 25 e 27 de julho no Centro de Convenções de Johanesburgo, na África do Sul.
Os líderes dos países do grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul se encontrarão no próximo mês no país africano em meio a tensões geradas pela ameaça de uma guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.
Diante dessa ameaça de aprofundamento dos desequílibrios globais, em particular da distribuição injusta de renda e do desenvolvimento, iniciativas como o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) do BRICS se destacam.
Para Diego, que também é doutorando na área de pesquisa China-Brasil pela Universidade de Estadual de Campinas, o NDB pode ser considerado um dos passos mais concretos dessa aproximação.
"Esse é o efeito mais palpável dos países do BRICS. Entretanto, também devemos reforçar a criação de vários organismos e espaços de discussão em áreas como ciência e tecnologia. No âmbito acadêmico, a criação da Universidade em Rede do BRICS e a instalação do centro de estudos do BRICS em várias universidades reforçam esse interesse de aproximação e interação", explica.
O especialista brasileiro recorda ainda que a China vem passando por um processo econômico muito intenso desde a reforma e abertura em 1978 e que os recursos gerados nesse caminho são frutos desse longo esforço chinês.
Neste ano a China celebra o 40º aniversário da sua reforma e abertura, ao mesmo tempo em que se dedica à construção de uma economia global mais aberta e justa.
A China permanece sendo um país em desenvolvimento e tem se comprometido, conjuntamente com os outros países do BRICS, a salvaguardar a estabilidade global e o desenvolvimento comum.
"Os desequilíbrios globais de desenvolvimento, em particular a distribuição injusta de renda e o espaço de desenvolvimento desequilibrado, são as questões mais urgentes colocadas à comunidade internacional e constituem as principais causas de convulsões sociais em alguns países", disse o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, no início de junho, durante a Reunião Formal dos Ministros das Relações Exteriores do BRICS.
O chanceler chinês afirmou ainda que neste século o mundo está experimentando mudanças sem precedentes e que, sob as atuais circunstâncias, os países do BRICS devem demonstrar uma visão estratégica ainda mais ampla, realizar maiores esforços coletivos e assumir a responsabilidade que o grupo dos países em desenvolvimento tem de gerar mais bem-estar para os seus povos e para a humanidade.
Para Diego Amorim, a relação entre o Brasil e a China é uma das mais importantes dentro do grupo BRICS, mas o grande desafio ainda é o da compreensão mútua, "sem estereótipos e conceitos pré-estabelecidos", concluiu.