Ninguém precisa ser submetido às desigualdades que existem no Brasil

A pré-candidata à presidência da República pelo PCdoB, Manuela D’Ávila, esteve em Campinas na noite de 28/06 para participar do ciclo de debates Brasil um sonho intenso: saída para a crise e a construção de um projeto de país, organizado pelo DCE da Unicamp. A atividade lotou o auditório III do Centro de Convenções da universidade e foi preciso instalar telões em outro local para que todas as pessoas pudessem ouvir Manu falar.

manuela em campinas

Ela afirmou que a saída para o Brasil é a eleição, o povo dando o recado que deu nas últimas quatro eleições, e que varreu uma elite entreguista do governo federal. “O caminho é o povo tomar o poder em suas mãos”, disse. Segundo Manuela, houve um golpe antidemocrático, antinacional e antipopular, e a resposta tem que ser um projeto nacional de desenvolvimento, porque o campo progressista ama este país e todas suas as potencialidades. Para ela, terá que ser um projeto radicalmente democrático porque “só com o povo ocupando e participando das estruturas de poder nós teremos forças para fazer as reformas que nós queremos, pois o país precisa delas. É um projeto popular, feminista, antirracista, contra a homofobia, porque nenhum de nós precisa ser submetido ao conjunto de desigualdades que existe no Brasil”.

Manuela afirma que não é só a ela que tentam silenciar, mas todo o projeto que o campo progressista representa. Ela considera que as máximas da macroeconomia têm que servir ao povo e não o inverso. “É preciso falar de juros, de câmbio… Que deus mercado é esse que é injusto com os brasileiros, mas justo com os norte-americanos, com os europeus? É um deus que só pune os países em desenvolvimento.

Para ela, não é possível que em 2018 ainda existam pessoas que acham que dinheiro vale mais do que a vida de uma pessoa. “É preciso dizer que a gente não acha isso, que a gente acha que este país pode ser rico porque ele é extraordinário, que a gente precisa produzir e distribuir riquezas. E que neste país, em primeiro lugar, estão as brasileiras e os brasileiros que não se calam. Nós merecemos viver e ser felizes”, arremata.

Outro ponto neoliberal que Manuela desconstruiu é a questão de que não existe Estado nas nações de capitalismo avançado. “Eles fazem uma confusão e mistur
am o conceito de Estado com o de Estado de bem estar social e a quantidade de políticas públicas que cada nação implementa. É mentira! Os EUA é o exemplo de um país que não têm muitas políticas de interesse social, mas cujo Estado defende com unhas e dentes sua indústria armamentista, investindo, inclusive, verbas públicas em empresa privadas”, afirmou.
 
Falando sobre violência no Brasil, ela lembrou o caso do jovem Marcos Vinicius da Silva, de 14 anos, baleado durante um tiroteio no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. “Nunca vi frase tão triste quanto à desse menino que antes de morrer disse para a mãe: ele não viu que eu estava de uniforme. Isso representa a falência de todo esse sistema repressivo, porque o menino estava certo. O que mais pode representar algo como a roupa de um super-herói na cabeça de um menino de 14 anos do que o uniforme escolar? A mãe devia se achar vitoriosa com o filho na escola, pois a evasão escolar na Maré é altíssima. O menino já era um vitorioso, estava indo para a escola, onde ia estudar, praticar esportes. E aí, matam esse menino? Não é apenas uma criança que morreu, é o futuro do nosso país. Alguém de uniforme é fuzilado, com fortes indícios que tenha sido o Estado, e a gente acha que tá tudo normal, que é apenas mais um número para as estatísticas? A gente não pode ser calado. As balas no Brasil têm GPS, e acertam só pobres e negros!”


Foto: Fabiana Ribeiro

Jogral da Manuela

Antes do início do debate, um grupo de mulheres leu um texto em homenagem à Manuela, que destaca o caráter misógino da entrevista que ela concedeu ao programa Roda Viva, da TV Cultura. Confira:

Helenira Rezende – Ex-presidenta da UNE durante a ditadura militar, foi brutalmente assassinada durante a Guerrilha do Araguaia. E foi desta maneira silenciada.

Dilma Rousseff – Primeira Presidenta da República eleita democraticamente sofreu um golpe parlamentar e teve sua voz silenciada.

Marielle Franco – Quinta vereadora mais votada da cidade do Rio de Janeiro, após realizar denúncias contra a milícia carioca foi brutalmente silenciada.

Manuela D’Ávila – Deputada estadual pelo Rio Grande do Sul e pré-candidata à presidência da República foi interrompida 62 vezes durante o programa Roda Viva nesta segunda-feira. Tendo assim, sua voz silenciada.

Diariamente diversas mulheres são sutil e brutalmente silenciadas nas ruas, nas escolas, nas empresas e na política. O Brasil é o 5º país em feminicídio de um ranking de 83 países. Independente de tudo isso, nós mulheres resistimos e continuamos falando, gritando, lutando e ocupando os espaços.

Deixem elas falarem!