O futuro tem o coração antigo e a mente alerta para os novos tempos
Neste 9 de julho instituiu-se nova data do calendário para além da dita Revolução Constitucionalista de 1932. Trata-se do Dia da Luta Operária – em memória das lutas e conquistas da classe trabalhadora do Brasil. Foi instituída ano passado, pela Câmara dos Vereadores de São Paulo, por iniciativa do vereador Antônio Donato, do PT.
Por Walter Sorrentino*
Publicado 09/07/2018 14:54
A data homenageia a grande Greve Geral de 1917, centenária o ano passado. E para isso, homenageou José Luís del Roio, que acaba de lançar seu livro A greve de 1917 – os trabalhadores entram em cena, recém-publicado pela Fundação Lauro Campos em coedição com a Alameda Editorial. Na capa, contém a foto de uma mulher liderando a greve.
A justa homenagem a Del Roio encheu o armazém tombado dos Matarazzo, na rua do Bucolismo, Brás, concentração operária, em grande parte imigrantes, e foi local de manifestação da referida greve – disputada entre anarquistas e futuros comunistas – onde pela primeira vez se entoou em público o hino A Internacional.
O evento coroa uma nova data, como disse, de comemoração das lutas de classes dos trabalhadores. Aliás, a terceira: consta também o 9 de julho da Revolução de 1924, na mesma São Paulo. Uma revolta tenentista liderada Por Isidoro Dias Lopes, general de brigada que agiu como o Marechal da Revolução. Tomaram a cidade por 23 dias, bombardeados pelo governo federal – especialmente o Brás operário -, expulsaram o governador. Mas face à desigualdade de forças, retiraram-se mil mortos e quatro mil feridos depois, e muitos deles se integraram à Coluna Prestes, chegados a Foz de Iguaçu.
A todos os títulos, ambos os 9 de julho, representam mais o que é São Paulo do que a de 1932, quando setores da elite paulista, insurgindo-se contra o poder de Getúlio Vargas, foram às armas e derrotados para abrir caminho à modernização conservadora do Brasil. Tivessem vencidos, estaríamos dobrando as aposta no velho papel de exportadores de produtos primários agrícolas, quando se desfazia a hegemonia imperialista inglesa e assomava a dos EUA, consolidada após a Segunda Guerra Mundial. A propósito disso, não se salvaram os irmãos argentinos, na mesma circunstância, que viveram um período de decadência da qual emergiu o general Perón.
Del Roio é dessas figuras emblemáticas e imprescindíveis do movimento operário revolucionário. Membro do PC do Brasil, adiante liderou com outros revolucionários a formação da Aliança Nacional Libertadora, cujo líder foi Marighela. Sua primeira esposa foi dada como desaparecida na ditadura militar. Historiador, publicista e escritor, é ligado profundamente à memória do movimento operário. Foi senador pela Itália, membro da Refundação Comunista. Um ideólogo da causa socialista dos trabalhadores.
Homenageá-lo é reviver e viver esse compromisso, com a saudável ortodoxia que não perde de vista que os interesses fundamentais dos trabalhadores serão os de emancipar toda a sociedade da exploração e opressão de qualquer tipo. É compreender que, malgrado novas morfologias, composição e formas de exploração, as classes trabalhadoras serão sempre o artífice principal dessa gesta. É reafirmar que o futuro tem o coração antigo e a mente alerta para esses novos tempos.
No Brasil, essas lutas legaram instrumentos fundamentais a elas: da greve geral de 1917 gestou-se o Partido Comunista do Brasil, que viria depois a liderar as maiores greves do país em 1953 – onde campearam figuras como Roberto Morena e Ângelo Arroyo; das grandes greves de São Bernardo do Campo, gestou-se o Partido dos Trabalhadores.
É com esse patrimônio acumulado que, ao homenagear Del Roio e a data, se fixa o olhar para o tempo atual, pleno de contradições, mas que têm um vetor essencial: a luta de resistência contra o desmonte do Estado de direito democrático protagonizado ontem pela subversão de setores do Judiciário com Sérgio Moro à frente de outros asseclas, que puseram a nu seu papel nefasto. Quem foi posto no banco dos réus, além da democracia, foi a soberania nacional, os direitos do povo. Por isso a liberdade e justiça a Lula são símbolos maiores dessa luta.
Mas a resistência se fortalece se houver perspectivas e elas abrem uma oportunidade imperdível para a esquerda, as forças progressistas e democráticas nas eleições vindouras. Fracassado em toda a linha o golpe de 2016, exigem tirocínio político que se ponha acima dos legítimos interesses de cada força partidária para produzir uma convergência programática única para salvar o Brasil e, em alto e bom som, compreender que unidos somos mais fortes e podemos chegar ao 2º turno e vencer.
Viva o Dia da Luta Operária de São Paulo! Viva Del Roio, um de seus mais representativos mensageiros.