"Levar jogo ao terreno dos gorilas é autorizá-los a agir como gorilas"

Todos aqueles comprometidos com a preservação da democracia no Brasil devem repudiar o atentado contra Bolsonaro, assim como a apologia à violência política feita pelo próprio Bolsonaro (que ontem "brincava" em prometer fuzilar seus adversários). Duas reações ao atentado, contudo, destoam completamente da reafirmação do compromisso com a democracia que deveria resultar do atentado.

Por Pedro Paulo Zahluth Bastos*

ódio

Primeiro, o presidente do PSL, o partido de Bolsonaro, e seu braço direito, disse à Folha que "Agora é GUERRA!!!", ao ser questionado sobre o ataque. Isso lembra um pouco a reação do próprio Bolsonaro ao atentado sofrido pelo ônibus de Lula em abril: ao invés de repudiar, naturalizou a ação como um ato de auto-promoção e vitimização do próprio PT.

Segundo, a convenção do mercado financeiro considera que a facada em Bolsonaro (desde que ele se recupere) vai melhorar a situação econômica e/política do país, ou melhor, vai promover e vitimizar Bolsonaro. A bolsa subiu quase 2% e o dólar caiu 1% depois do atentado.

Conclusões: em geral e no caso concreto, a melhor reação contra a violência política prometida por Bolsonaro e cia. não é a violência, mas a dissuasão moral que repudia toda forma de violência. Levar o jogo para o terreno dos gorilas é autorizá-los a agir como gorilas. E a diferença entre gorilas e gestores financeiros é cada vez menor, pelo menos no que tange à visão de país e de democracia que desejam.

*Pedor Paulo Zahluth Bastos é professor da Unicamp