'Nem preso nem exilado, resolvi derrotar Bolsonaro', diz Haddad em ato no Rio

70 mil pessoas tomaram os Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro, nesta terça-feira (23), para o Ato da Virada – Brasil pela Democracia, realizado em apoio ao candidato à Presidente da República Fernando Haddad.

Haddad e Manuela em Ato da Virada no Rio - Ricardo Stucker

Aos gritos de “Ele, não!” e “Lula presente, Haddad presidente”, artistas, intelectuais, lideranças políticas e de movimentos sociais marcaram presença do ato. Chico Buarque, Caetano Veloso, Mano Brown foram algumas das personalidades que manifestaram seu apoio a Haddad e repudiaram as declarações de Jair Bolsonaro (PSL), ameaçando a democracia.

Em seu discurso, Haddad ironizou as declarações de Bolsonaro e demonstrou confiança na virada na reta final da campanha. “Bolsonaro disse em discurso transmitido na Avenida Paulista no domingo que, depois das eleições, eu teria dois destinos: a prisão ou o exílio. Eu fiz uma opção: resolvi derrotar Jair Bolsonaro", disse ele sob aplausos.

"Eu não o quero preso nem exilado. O que eu quero é que ele viva com saúde para ver os negros na universidade, as mulheres emancipadas e donas dos seus destinos, as terras indígenas demarcadas, os nordestinos progredindo com água, comida, trabalho e educação”, disse.

O presidenciável rebateu o adversário Bolsonaro, que disse que a política de cotas é “coitadismo” e o desafiou a encará-lo num debate.

“Ele disse que quer acabar com o ‘coitadismo’ de mulheres, negros, nordestinos e gays. O meu recado pra ele é: Jair, se olha no espelho, o coitado é você, que não passa de um soldadinho de araque e só fala grosso porque tem gente armada à sua volta. Você não é capaz de enfrentar um debate, não é capaz de enfrentar uma entrevista sem censurar jornalista livre”, disparou.

“A primavera vem e vem forte com os homens e as mulheres prontos para derrotar o fascismo”, afirmou a vice na chapa de Haddad, Manuela d’Ávila (PCdoB) sob os gritos de “Manu no Jaburu”, em referência a residência do vice-presidente da República. “Sabemos que temos menos de cem horas até o domingo. E serão as cem horas mais importantes de nossas vidas”, completou.

Haddad também enfatizou a possibilidade de virar o jogo até o dia da votação. "Não estou falando dos coxinhas que sempre nos odiaram, mas das pessoas que estão revoltadas porque estão desempregadas ou deixaram a universidade", explicou. "A essas pessoas nós precisamos abraçar e sentar para conversar daqui até o domingo. Vamos dialogar, eles não são nossos inimigos. Vamos fazer um projeto fraterno e avançar do ponto de vista social. Domingo nós vamos ganhar a eleição. Estou sentido no ar uma virada. Nós começamos a crescer e ele começou a cair. Nós temos cinco dias para fazer crescer ainda mais essa onda positiva."

Em defesa da democracia

“Esta eleição está ocorrendo sob fraude, crime eleitoral e mentira. Neste momento, o Brasil está correndo o sério risco de legitimar pelo voto uma ditadura no país. Corremos o risco de eleger um ditador corrupto e mentiroso. Queremos defender o direito de discordar e a democracia”, disse a deputada federal reeleita Jandira Feghali (PCdoB).

Para Guilherme Boulos, coordenador do MTST e candidato pelo Psol no primeiro turno, o momento é de luta pela democracia. “Há um candidato a presidente que ameaça as instituições, que ameaça seus opositores com a prisão ou o exílio, que diz que vai tratar como terroristas os movimentos sociais. O único jeito de acabar com o MTST é construir 6 milhões de casas no país”, desafiou.

Marcelo Freixo, deputado federal eleito pelo Psol, lembrou de Marielle Franco, vereadora assassinada no Rio de Janeiro, e reafirmou a disposição de luta em defesa da democracia.

“Bolsonaro, a sua capacidade de provocar medo não é e nunca será maior do que a nossa capacidade de sonhar por liberdade e democracia. É a eleição mais importante da história das nossas vidas porque precisamos derrotar um projeto fascista. Pelo terror, tiraram de nós a Marielle, que estaria aqui conosco neste momento”, disse.

Alessandro Molon, deputado reeleito pelo PSB, comparou Bolsonaro a Michel Temer. “Estamos aqui nesta praça porque acreditamos na força transformadora da educação. Por isso vamos votar em quem defende dar para cada criança do nosso país um livro, um lápis e uma borracha e não uma arma. Quem faz uma campanha suja não pode fazer um governo limpo. Temos que tirar o Brasil do atoleiro em que Temer, Bolsonaro e sua turma o colocaram”, disse.

Caetanos Veloso levantou a multidão ao dizer que um “cafajeste” não representa os brasileiros. “Precisamos encontrar meios de dizer àqueles que se deixaram hipnotizar por essa onda. Eu estou aqui por causa disso, para evitar a ‘cafajestização’ do homem brasileiro. A eleição de Fernando Haddad e Manuela d'Ávila representará a dignidade do povo brasileiro, de cada homem brasileiro”, disse Caetano.

Chico Buarque enfatizou que apear do pouco tempo é possível virar e vencer as eleições. “Não queremos mais mentiras, não queremos mais força bruta. Queremos paz, queremos alegria, queremos Fernando e Manuela”, afirmou.

“Imagino que lá fora, muita gente – cidadãos conservadores, de direita, cristãos, os chamados coxinhas – tenham votado no candidato fascista e agora estejam vendo a onda de boçalidade que toma conta das ruas cada vez mais e que depois do primeiro turno só fez piorar e ninguém sabe onde vai parar a matança de gays, de mulheres, de trans, de estudantes, de capoeiras que ousaram dizer que votaram no PT. Nas periferias, onde afinal está o povo que mais sofre com a miséria e a violência, e votaram por mais miséria e mais violência, eles talvez na última hora virem o voto”, completou.

Mano Brown fez um dos discursos mais contundentes da noite. Apesar do ambiente festivo, o rapper lembrou que é preciso entender o que o povo quer.

"Se não está conseguindo falar a língua do povo, vai perder mesmo”, disse ele, que recebeu uma reação negativa de uma pequena parte da plateia. “Falar bem do PT para a torcida do PT é fácil. Tem uma multidão que não está aqui que precisa ser conquistada", acrescentou o rapper.

E segue: "Não gosto do clima de festa. O que mata a gente é a cegueira e o fanatismo. Se somos o partido dos trabalhadores, temos que entender o que o povo quer. Se não sabe, volta para a base e vai procurar saber".

Haddad concordou com Mano Brown. “O que ele disse é sério… Tem irmãos e irmãs nossos que estão na periferia revoltados com tudo que está acontecendo e com razão. Temos que, nesta semana, abraçar essas pessoas, que sempre estiveram conosco”, afirmou Haddad.