Na incerteza do resultado, a certeza de uma vitória

Depois de um verão excepcionalmente quente e prolongado, Lisboa amanheceu subitamente fria, com alguns aguaceiros mas instalando-se o Sol pelo meio da manhã. É nesse clima ambíguo que milhares de brasileiros se apresentaram à votação, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

Por Alexandre Weffort*

Haddad, manuela e ana estela

É preciso aguardar o correr do dia, para um resultado que não se adivinha. A possibilidade de vitória ombreia com a de derrota. O risco de uma curva ainda mais à direita, de um Brasil nas mãos de Bolsonaro&Cia., foi sendo contrariado pela notável campanha de Haddad e Manuela.

A possibilidade de uma virada na 2ª volta, pela união das forças democráticas e progressistas mostrou como estavam certas as teses defendidas pelo PCdoB, no trabalho realizado junto dos movimentos sociais, das bases e das populações. O excepcional desempenho de Manuela d'Ávila, desde a sua designação como pré-candidata do PCdoB à sua inclusão na chapa de Fernando Haddad é um valor a sublinhar neste momento em que o Brasil vira uma página da História.

Não adivinhamos o resultado, nem sabemos a cor das nuvens que se perfilam no céu. Sabemos, podemos isso afirmar com convicção, que serão tempos difíceis, de uma luta que se vincou nestas três semanas de combate após a conquista da 2ª volta eleitoral.

Independentemente das dificuldades que virão, a força moral patente na campanha de Haddad e Manuela, a força política patenteada pelo PCdoB, que soube ser simultaneamente organicamente independente e politicamente solidário (com Lula e o PT, perante as agressões sofridas pelo parceiro de coligação, após 14 anos de governação progressista no Brasil), essa força que afirma a natureza ideológica da sua acção política, galvanizou a sociedade brasileira (aquela que se reconhece como progressista).

Alguns ficaram ainda sentados "em cima do muro", por "razões que a razão desconhece" como diria Pascal. E, outros por razões mais "práticas" (ou seja, daquele pragmatismo que nos faz questionar frequentemente a moral do político comum) e que são explicáveis por razões mais profundas, de classe (da sua origem de classe; da sua participação na dominação de uma classe sobre os demais), razões que se podem elucidar por via de uma análise teórica, tanto da teoria política como da psicologia.

Independentemente do resultado das eleições brasileiras, a luta que se adivinha para o futuro será intensa e extravasará as fronteiras do Brasil e da América Latina. Terá impacto a nível global. Isso foi sentido e entendido por milhões de brasileiros no Brasil e mundo, e, também, por milhares de pessoas de outras nacionalidades, que solidariamente se envolveram na denúncia do fascismo em ascensão, processo tem uma dimensão global, intimamente relacionado com a geo-política em que povos e nações se confrontam com o Imperialismo (seja este entendido na sua expressão geográfica – onde os EUA surgem como polo determinante – seja na sua expressão económica, da fase história do capitalismo em que nos encontramos mergulhados).

Olhar para as referências teóricas, do pensamento que tem guiado os vários movimentos de transformação da sociedade, nomeadamente desde a revolução industrial, no século XIX; olhar para os processos históricos como a revolução russa de 1917, do surgir da URSS e do seu ocaso, das revoluções chinesa e cubana, para referir aquelas que apresentam características mais marcantes; olhar para as experiências, os acertos e os erros, de cada movimento e país; olhar para o sucesso dd cada movimento social específico – e aprender com isso – é fundamental.

Na campanha protagonizada por Haddad e Manuela foi dado um passo gigantesco no caminho de construção da sociedade brasileira pela qual lutamos, pela coragem demonstrada, pela capacidade de entrega solidária, pela singeleza dos argumentos utilizados na batalha concreta de convencimento do eleitorado. Independentemente do resultado, é já uma vitória.