CNI descobre que Bolsonaro é prejuízo para a indústria nacional

“Vamos salvar a indústria brasileira, apesar dos industriais brasileiros”, afirmou Paulo Guedes, futuro ministro da Economia anunciado porJair Bolsonaro. Para isso o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic) deixará de existir. Para o analista político Marcos Verlaine e sindicalistas, o movimento do novo governo pode ser um golpe para a indústria. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) criticou a decisão.

Por Railídia Carvalho

jair bolsonaro e paulo guedes

Guedes acusou os industriais de fazerem do Mdic uma “trincheira” que favorece alguns setores e prejudica o país. “Estão lá com arame farpado, lama, buraco, defendendo às vezes protecionismo, subsídio, desonerações setoriais, que prejudicam a indústria brasileira”, disparou Guedes, visto, segundo a Folha de S.Paulo, como “descortês” nas rodas informais da indústria.

Em nota, o presidente da CNI, Robson Andrade, afirmou que a indústria não pode ficar atrelada a um ministério que está mais preocupado em arrecadar impostos e administrar contas públicas. O empresário lembrou que é necessário um ministério específico para um setor que “é responsável por 21% do PIB nacional e pelo recolhimento de 32% dos impostos federais”. A nota ressaltou que a indústria gera cerca de 10 milhões de empregos no país e é responsável por 51% das exportações nacionais.

Apesar do apoio massivo de empresários à Bolsonaro, a CNI havia feito críticas durante a campanha eleitoral à proposta de abertura comercial do até então candidato do PSL. “O Brasil vive uma situação muito delicada do ponto de vista econômico para correr o risco de apostar em soluções aventureiras em detrimento da renda e do emprego de milhares de pessoas”, alertou.

Marcelo Toledo, secretário de Formação da Federação dos Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil afirmou que Bolsonaro foi um engodo para perspectiva da indústria nacional. “Essa proposta de fazer economia fundindo ministérios é na verdade esconder que ele não tem política para o desenvolvimento da indústria nacional. É clara a posição a serviço dos Estados Unidos e contra política industrial nacional”, declarou ao Portal Vermelho.

Miguel Torres, presidente interino da Força Sindical, confirmou que o anúncio de Guedes foi mal recebido pelos industriais com quem ele tem conversado. “Não existe país no mundo que para se desenvolver não aposte em uma indústria forte. Que não tenha a indústria como principal alicerce. Ele quer deixar a indústria de fora dos setores estratégicos. Aqui não protegemos nossas indústrias. Até o Trump protege a indústria americana. Voltaram atrás na abertura de mercado. O que falta é um projeto de desenvolvimento para a nação”.

De acordo com Miguel, Bolsonaro vai no sentido opostos a iniciativas que buscam saídas para a reindustrialização do país. “A massa salarial que gira na indústria faz girar a economia. O que temos hoje é o desemprego, empregos de baixa qualificação e isso é preocupante porque a indústria é tradicionalmente onde tem os melhores salários e desenvolve tecnologia fazendo o restante da economia girara”.

Segundo Marcos Verlaine, jornalista e assessor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Bolsonaro não acertou em nenhum anúncio até agora. A fusão anunciada entre o Ministério do Meio Ambiente e da Agricultura gerou críticos de setores que apoiaram a eleição e Bolsonaro e aquels que estiveram do lado opostos. Ruralistas, atuais ministros, ex-ministros se manifestaram contra a fusão, o que levou Bolsonaro a recuar, segundo noticiou a Folha de S.Paulo.

De acordo com ele, esses anúncios que tem sido feitos de fusões de ministérios “não são precedidos de uma análise técnica e nem política”. Para Verlaine, as críticas mostram que não houve diálogo com os setores envolvidos. “São anúncios meio tresloucados, sem diálogo e tomam uma decisão sem reflexão. Mostra inexperiência o que em política é grave”.

O analista afirmou que o conflito instalado com a CNI é para fazer uma economia que é muito pequena com a fusão de ministérios. “Não vale a economia da fusão diante dos problemas que ele está tendo com esse anúncio. Antes desses anúncios, ele deveria fazer uma reflexão com os principais assessores, reuniria as empresas mais relevantes do país para pensar junto”.

“Bolsonaro nunca participou de negociação importante no Congresso, não foi mediador, não tem uma trajetória parlamentar relevante. Diante deste currículo tem que ouvir”, ressaltou Verlaine. De acordo com ele, a fusão do Mdic pode ter criado uma queda de braço entre os industriais e o sistema financeiro. “Os industriais têm força mais quem tem mais força é o sistema financeiro. Paulo Guedes é o homem do sistema financeiro”, completou.

O jornalista vê dificuldades para Bolsonaro com a dupla Paulo Guedes e Õnix Lorenzoni. Segundo ele, os dois homens de confiança não tem a compreensão da máquina pública como seria necessário.