Boaventura: sem frente ampla, esquerda brasileira estará em risco

Considerado o maior cientista social de língua portuguesa do mundo, Boaventura de Sousa Santos, professor titular da Universidade de Coimbra e doutor pela Universidade de Yale (EUA), anda preocupado com o destino do Brasil após a consolidação da vitória de Jair Bolsonaro nas urnas. Em entrevista à TV 247, ele ressalta que a única forma dos setores progressistas sobreviverem aos próximos anos de governo de extrema-direita é através "da composição de uma frente ampla de esquerda".

Boaventura de Sousa Santos - Divulgação

Boaventura considera que a vitória de Bolsonaro foi uma tragédia anunciada, mas que não pode ser vista "como um fato isolado". "Na Europa, América, também existem diversas manifestações da extrema-direita", aponta.

O professor afirma que parte da ascensão de Bolsonaro é por culpa do não ajuste de contas com a ditadura militar. "Por isso os militares regressam ao poder pela via democrática, em 2018", lamenta.

Além da falta de memória sobre as atrocidades cometidas durante a ditadura, o professor diz que parte da população esqueceu os avanços promovidos nas gestões do PT frente à presidência da República. "Todos os programas sociais e ações afirmativas, realizadas nos últimos anos, transformaram-se em um discurso de que o PT é corrupto e irá transformar o Brasil numa Venezuela", indica.

Boaventura classifica como "vergonhosa" a postura de setores do judiciário brasileiro. "O golpe contra a presidente Dilma Rousseff e a prisão do ex-presidente Lula foram os aspectos mais salientes de que o direito foi usado politicamente", ressalta.

Resistência

Ele afirma que a direita se beneficia com desunião dos setores progressistas e que é "urgente à composição de uma frente ampla democrática". Na visão de Boaventura, "a fragmentação da esquerda representa um grande risco para o futuro do Brasil".