Bolsonaro admite sonegação, ao falar sobre depósito na conta da mulher

Presidente eleito admite ter omitido da Receita Federal valores correspondentes ao pagamento de um suposto empréstimo que teria feito ao amigo PM. O valor foi depositado na conta da mulher dele.

Bolsonaro

A menos de um mês de sua posse, o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), seus filhos e sua mulher estão enrolados em transações financeiras que eles não conseguem explicar a contento. Sem o menor constrangimento, ele admitiu hoje (8) ter sonegado do seu Imposto de Renda os R$ 24 mil que o ex assessor Fabrício José de Queiroz depositou na conta da futura primeira-dama Michelle Bolsonaro.

O depósito, segundo disse, corresponde ao pagamento de um empréstimo. A Receita Federal determina que empréstimos feitos ou tomados com valor a partir de R$ 5.000,00 devem ser declarados.

"Se eu errei, arco com a minha responsabilidade com o Fisco sem problema nenhum", disse, ao ser questionado após cerimônia de formatura na Marinha, onde compareceu.

Pela Lei nº 4.729/1965, é crime "prestar declaração falsa ou omitir, total ou parcialmente, informação que deva ser produzida a agentes das pessoas jurídicas de direito público interno, com a intenção de eximir-se, total ou parcialmente, do pagamento de tributos, taxas e quaisquer adicionais devidos por lei". E a pena para o sonegador pode chegar à detenção de seis meses a dois anos, além de multa de duas a cincos vezes o valor do tributo.

Entenda o caso

O relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que subsidia uma investigação do Ministério Público Federal, aponta uma movimentação financeira suspeita do ex-assessor do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro(PSL/RJ), o policial militar Fabrício José Carlos Queiroz.

O documento apontou "movimentação atípica" de R$ 1,2 milhão na conta do PM, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, quando era assessor do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) – filho mais velho de Jair Bolsonaro.

Uma das transações na conta do assessor de Flavio Bolsonaro, citadas no relatório do Coaf, é um cheque de R$ 24 mil destinado à futura primeira-dama Michelle Bolsonaro. A compensação do cheque em favor da mulher do presidente eleito aparece na lista sobre valores pagos pelo PM.

O documento cita também transações atípicas entre o PM e sua filha, Nathalia Melo de Queiroz. Até o mês passado ela foi assessora de Bolsonaro pai enquanto deputado federal.

Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo desta sexta-feira (6) mostra que o nome de Nathalia aparece no relatório associada a um montante total de R$ 84 mil, sem identificação individual das transações entre ela e o pai.

Nathalia trabalhou como assessora no gabinete de Bolsonaro entre dezembro de 2016 e outubro deste ano, com salário de cerca de R$ 10 mil. Coincidentemente, ela foi exonerada, em Brasília, no mesmo dia que o pai era dispensado do pelo filho do presidente, no Rio de Janeiro.

Bolsonaro minimizou os fatos e disse que o depósito, feito na conta de Michele porque ele tem dificuldade de ir ao banco, refere-se ao pagamento um empréstimo concedido ao amigo Queiroz "por solidariedade". Segundo ele, foram depositados dez cheques no valor de R$ 4 mil – o que não bate com relatório do Coaf.

Dificuldade

As declarações desencontradas tem movimentado as redes sociais. Em seu perfil, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) questionou a suposta falta de mobilidade do presidente eleito.

"O presidente eleito disse que o dinheiro foi depositado na conta da futura primeira-dama por questão de mobilidade, já que ele tem dificuldade para ir ao banco em razão da rotina de trabalho."

Enquanto o ex-juiz e futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, não comenta o caso, o vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão, afirmou hoje (8) que o governo tem de explicar imediatamente o caso do ex-motorista do filho de Bolsonaro eleito senador.

"O ex-motorista, que conheço como Queiroz, precisa dizer de onde saiu esse dinheiro. O Coaf rastreia tudo. Algo tem, aí precisa explicar a transação, tem que dizer', afirmou Mourão ao blog da colunista Andréia Sadi, do portal G1.

O líder do PT na Câmara, deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), entrou com pedido de investigação na Procuradoria-Geral da República (PGR) para apurar “possíveis ilícitos criminais e administrativos” envolvendo o deputado estadual Flávio Bolsonaro e Michelle.