O jardineiro do convento

Por Socorro Acioli*

Zé Augusto

Ela disse que pensava em ser freira. De pronto ele respondeu: pois eu serei o jardineiro do convento. Estaria perto dela constantemente, pois todo jardim (e todo amor) exige cuidados diários. Algumas plantas são ciumentas, precisam de mais água. Outras querem as pontas dos dedos, uma limpeza cuidadosa das folhas secas. Há quem converse e cante para as flores, acho provável que ele fizesse isso na esperança de sua amada escutar. Há quem sonhe histórias enquanto faz a rega diária. Talvez ele imaginasse fugir com seu amor, como dois loucos apaixonados e dar a ela seu próprio jardim.

Pois eu serei o jardineiro do convento, ele disse. Parece um diálogo de filme italiano, mas é uma história real. Soube disso muitos anos depois do acontecido, semana passada e não consegui esquecer a frase. Eu não os conheço, nem eles a mim, mas o meu ofício me ensinou a reconhecer personagens de livros que deveriam ser escritos. Eis um par que merece ter a vida transformada em palavras.

Soube que moravam em uma casa branca de portas azuis, diante do mar e foi daí que fiquei pensando neles o tempo todo. Soube que contemplavam, juntos, a lua e o sol. Dançavam e sorriam em par. Que ele era geólogo e tinha o hábito de presentear sua amada com pedras de todos os lugares. Cada uma trazendo o recado de um morro, como disse Guimarães Rosa. As pedras guardam coisas invisíveis por dentro.

A moça da nossa história de amor também é pedra preciosa, Argentina, pepita de prata, símbolo da Lua, força materna, luz suave sobre as coisas. Ele era Augusto, quase Aurus, ouro e nobreza. Tudo que sei dele foi dito por quem o amou. Alma nobre e generosa. Partiu recentemente, chegou a hora, mas amor assim não se acaba. É só mudança de forma e lugar, como os minerais, coisa que a natureza ensina. A saudade permanece em casa, pois é a filha caçula do amor.

Em Beja, no Alentejo, uma freira chamada Mariana Alcoforado amou perdidamente um homem que ela via passar pela janela. Não viveu com ele e isso fez sua vida muito triste. Deixou cartas escritas, uma dor de partir qualquer coração. No meio do pátio do seu convento há um pequeno jardim, muito bem cuidado, onde sentei sozinha para ler as cartas de Mariana sob o sol.

É nesse jardim que penso desde que soube da frase de Augusto para Argentina, uma das declarações de amor mais bonitas que já vi. Ele foi decidido, forte como rocha. Reconheceu, desde o começo. Mostrou-se capaz de tudo por saber que estava diante de uma pedra preciosa. Sabia que seria para sempre. E foi.

Chegamos agora ao motivo que me emociona tanto desde que ouvi falar deles pela primeira vez: o felizes para sempre existe. Quando o amor é grande e quando há coragem, quando a vida é dividida e multiplicada, o felizes para sempre existe, sim. E continuará acontecendo bem aqui, perto de mim e de você, em uma casa branca de portas e janelas azuis, como olhos abertos que se reconhecem na infinitude do mar.