Jussara Cony: Este não é um momento qualquer da luta de classes

Ao meu Partido, o PCdoB, aos camaradas, aos companheiros, aos movimentos sociais, democráticos e populares, aos amigos! Mulheres e Homens, em suas sagradas diversidades humanas e culturais! Este não é um momento qualquer da luta de classes que permeia toda a história do povo brasileiro.

Por Jussara Cony*

Jussara Cony

Venho de uma família comunista, nasci no início da década de 1940, no foco da luta pois filha de um ferroviário, liderança e exemplo de operário comprometido com as transformações de fundo da sociedade.

Tenho 76 anos. A pouco encontrei muitos lutadores e lutadoras, lá no Incra e rumo ao MPF, na luta de nossos guaranis da Ponta do Arado, em Porto Alegre, com expressivas lideranças de nossos ancestrais do RS e do Brasil a conduzir esse importante movimento de unidade e luta!

Milito desde os 16 e aos 18 já fiz parte da Juventude da Legalidade, liderada por Brizola e na qual, o Partido Comunista do Brasil, na figura de João Amazonas, aqui instalou seu Comitê Central para contribuir com aquele momento histórico da luta pela legalidade democrática no Brasil. E na qual, a nossa liderança estudantil foi o então jovem Presidente da UNE, Aldo Arantes.

Devem vocês estarem se perguntando, a troco de que eu estou a discorrer sobre esses tempos.
Pois bem, porque entendo que a História é sempre nossa aliada em momentos difíceis para que possamos refletir e tomar, em unidade, o rumo que a luta exige! O mais correto que possamos alcançar!

Sou militante, dirigente municipal e estadual e já tive a honra de ser, por vários mandatos, membro do Comitê Central do PCdoB, em épocas de históricas lutas contra a ditadura e no processo de redemocratização do Brasil e enquanto exercia alguns dos mandatos parlamentares do partido.
E como parlamentar do Partido em dois mandatos de vereadora e quatro de deputada estadual, entre os anos de 1983 a 2006, e retomando de 2012 a 2016 outro mandato municipal, aprendi, no seio do meu partido e da luta popular, o quanto é preciso estar atento e forte, estar preparado pela orientação marxista-leninista, pela compreensão do significado dialético do Centralismo Democrático, estar ligado ao dia a dia dos movimentos e dos embates entre os opressores e os oprimidos. Ou seja, na compreensão radical da luta de classes, na qual, com a politica revolucionaria do PCdoB, dei meus passos e minha dedicação, do Movimento da Legalidade até o dia de hoje. E os darei, ainda por um bom tempo, nos dias dos amanhãs!

Porque, na luta ferrenha de gerações que ultrapassaram todas essas etapas, está o grande desafio: o fascismo se instalou na nossa pátria! E me pergunto, desde sempre e agora: O que fazer? Clássico, né!

Há um preso politico neste país!

Há uma mulher e um homem, jovens, talentosos, guerreiros, que cumpriram um papel estratégico no último enfrentamento, por um Projeto de Nação, com as forças mais retrógradas que se aglutinaram, desde o Golpe a um governo eleito, para, insana e despudoradamente, destruir o Brasil, representadas por uma aliança que significa o que de mais espúrio já se juntou.

Os movimentos sociais e populares se encontram ávidos por uma Frente verdadeiramente ampla e unitária para forjar a mais decisiva Resistência!

Faço esse resumo – é um resumo mesmo meus camaradas, companheiros, amigos! Passa um período de praticamente 60 anos por minha mente e meu coração – porque não posso calar. Não me é dado o direito de calar. Tenho um incondicional e lindo amor à luta! E ele transborda para além de mim, para minha familia, para meu partido, para os companheiros de outras forças politicas, para as lutas populares onde me perfilei sempre.

O meu Partido, o PCdoB, em toda sua história e tenho vivido uma boa parte dela, nunca deixou de cumprir seu papel de buscar agregar e ampliar e luta pela democracia, pelos direitos do povo, pela soberania nacional, por um Projeto Politico, Econômico e Social que tivesse, como elemento fundante, a qualidade e a dignidade de vida do povo brasileiro. E assim o fez com seus militantes e dirigentes participando, para além das fileiras e instâncias do partido, nos movimentos populares, sociais e nos parlamentos. Isso, no parlamento burguês, sem ilusão de classe! E na institucionalidade , quando assim a conquistamos, sem ilusão de classe!

Porque aos comunistas cabe estar onde luta houver. E, pra isso, cabe não se isolar! Aliás, nosso isolamento se constitui em ânsias, conluios e prerrogativas da direita, do fascismo e, em algumas vezes, até da disputa,no mesmo campo,que se estabelece no tipo e etapa de sociedade que vivemos.

E isso pelo significado de um Partido Comunista para, junto com as forças democráticas, populares, de esquerda e, em determinadas circunstâncias, até de centro, garantir que não haja nenhum retrocesso e sim avanços nas conquistas do povo brasileiro ao longo de séculos.

E pelo significado, também, de ter presente o papel dos movimentos sociais, sindicais, populares, democráticos e da institucionalidade burguesa – perigosa e, para os menos avisados, encantadora!

Hoje, o Judiciário tutela a Nação! O Executivo está tomado de assalto – numa eleição fraudulenta – pelas forças retrógradas e fascistas que lá se instalaram.

E o Legislativo numa correlação de forças absolutamente desfavorável à esquerda e às forças populares que, entendo, devam – na luta dentro e para além do parlamento – se aglutinar para construir a Frente Ampla para a Resistência!

E, nesse momento, brotam de meu raciocínio, alguns questionamentos. A todos nós!
Querem o que mesmo, meus camaradas, companheiros dos partidos aliados históricos? Que não forjemos espaços para o protagonismo político exigidos dos comunistas e de todos nós neste momento?

Querem nosso isolamento no Poder Legislativo – no papel que nele temos o dever de cumprir – num gueto, sem espaços políticos nas estruturas desse poder? Eu estou dizendo, pela experiência de seis mandatos, em etapas diferenciadas de lutas , sem nunca o partido abrir mão de seus princípios e ideologia! E sem nunca se isolar para cumprir o principal papel de um mandato revolucionário: abrir todos os espaços e estruturas politicas e organizativas pra luta do povo.

Para que não tenhamos, nós e nossos aliados históricos, como o PT por exemplo, possibilidade de garantir, no legislativo nacional, centro onde se dá a visibilidade da disputa entre dois projetos absolutamente antagônicos, a garantia da participação concreta do povo, lá dentro, em momentos decisivos para o diálogo e a luta se constituirem em avanços e para,principalmente, fazer o enfrentamento ao governo golpista, entreguista e antidemocrático que se instalou no Planalto?

Que Reforma Politica esperam vinda desse governo, ao qual somos oposição? Certamente, de novo, a clandestinidade, como em 1947, retirando do parlamento nossos representantes. É bom lembrar que a cláusula de barreira estava pronta pra nos tirar os espaços nessa eleição, caso não ocorresse a fusão com os camaradas do PPL.

Querem colocar sobre nós a falácia que participar da eleição para Presidência da Câmara, com a reeleição do atual Presidente (eleição anterior fruto de acordos também) é apoio ao Governo de Bolsonaro-Mourão? Ao PCdoB, partido que cumpriu papeis decisivos na política brasileira em seus quase 100 anos de existência, em grande parte na clandestinidade mas na luta? E no Golpe à Democracia com o fraudulento impeachment a Presidenta Dilma? E no Golpe sobre o Golpe das eleições de 2018?

Meus camaradas, companheiros, amigos, no popular, como dizia meu velho pai comunista: "O furo é bem mais embaixo!"

Acalmem os corações. As ruas chamam. A Frente Ampla tem pressa e o tiro certeiro é nos inimigos do Brasil, de dentro e de fora. Que estão no Executivo e no Judiciário e nos seus prepostos no Legislativo.

Finalizo, com um pensamento meu que se mistura com o pensamento sempre com a coerência do fazer a politica revolucionária de minha querida camarada Jandira Feghali.

Uma coisa é ocupar os espaços para exercer, através de nossa Bancada, a política revolucionária do PCdoB na Câmara dos Deputados e isso pressupõe, hoje, o apoio que damos à reeleição do atual Presidente da Câmara, na garantia de ser preservada nossa histórica ação parlamentar e sua relação com os movimentos populares, sociais e democráticos da sociedade em luta. Outra são, como afirma Jandira Feghali, as posições programáticas do Partido,muito claras e postas,concretamente, na campanha eleitoral de 2018 que serão agudas,fortes, firmes na luta, no Congresso, nas redes e nas ruas.

Para elevar ao mais alto patamar a Unidade do Povo: Bandeira da Esperança e Chave de Nossa Vitória, como afirmou, em outros tempos, João Amazonas, na resistência e no enfrentamento ao governo que se instalou no Brasil, fruto de um processo espúrio e fraudulento que sempre denunciamos! E com a sempre necessária e sábia paciência revolucionária!

Essa é minha contribuição com respeito a todos e todas com os quais tenho andado pelos mais diversos e necessários caminhos por uma pátria livre, democrática e, um dia, socialista.

Não vou, com toda minha sinceridade, ficar pelas redes sociais e disputar quem é mais ou menos revolucionário. Deixo, apenas, um dos meus momentos de reflexão, por dever de oficio e de amor, de uma mulher feminista, comunista, revolucionária.

Porto Alegre, 16 de janeiro de 2019