Publicado 21/01/2019 11:22
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, que já não fazia comentários em público sobre o escândalo envolvendo a família Bolsonaro, foi procurado neste domingo (20) pelo jornal O Globo para dar sua opinião sobre o caso, mas respondeu "sem comentários".
Ele segue a lei do silêncio baixada no Planalto para tentar blindar o Bolsonaro pai, num momento em que o filho mais velho, o senador eleito Flávio Bolsonaro, não dá explicações sobre as transações suspeitas de seu ex-assessor Fabrício Queiroz. O silêncio do ex-juiz contrasta comseuativismo quando agia contra o ex-presidente Lula, que condenou e mandou prender sem provas.
A jurista Carol Proner, doutora em Direito Internacional e e professora da UFRJ, diz que Sergio Moro, "ex juiz justiceiro" que "conduziu mal a maior operação contra a corrupção do País", a Lava Jato, "agora já não sabe o que fazer com o monstro corrupto que criou".
"Existem muitos responsáveis por esse Brasil irrespirável, mas alguns são mais determinantes que outros", escreve ainda Carol Proner, que também é fundadora da ABJD (Associação Brasileira de Juristas pela Democracia), em postagem em seu Facebook.
Boulos: silêncio constrangedor
O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, qualificou o silêncio de Moro como constrangedor: "O silêncio de Sérgio Moro diante do agravamento do caso Flávio Bolsonaro não é apenas constrangedor. É um fato político grave. O Ministério que dirige é responsável pelo Coaf. Deve explicações sobre as estranhas movimentações do filho do chefe", escreveu o ativista no Twitter. "Coaf indica pagamento de título de R$1 milhão por Flávio Bolsonaro. Os valores estão crescendo e o escândalo também. Os negócios da família são cada vez mais difíceis de explicar. Não adianta Bolsonaro adotar a tática avestruz e fingir que não é com ele. O país exige respostas", disse.
Jornalistas cobram posicionamento
O jornalista Sidney Rezende, também no Twitter, lamentou o silêncio de Moro: "O silêncio do ministro da Justiça, Sergio Moro, a respeito de suspeitas de corrupção envolvendo aliados do Governo é péssimo. Para ele.", disse.
George Marques, jornaista de Brasília, questionou: "Os negócios misteriosos da família Bolsonaro estão crescendo e ficando cada vez mais difíceis de explicar, levando constrangimento a setores estratégicos do governo, principalmente os militares. E Sérgio Moro, que assumiu com a bandeira de combate à corrupção, como fica?"
Até Ricardo Noblat, jornalista da velha mídia bajuladora do ex-juiz, fez a pergunta que precisa ser feita no escândalo de Fabrício Queiroz e Flávio Bolsonaro no governo do Jair. No Twitter, ele perguntou: "E aí Moro?"
O cantor e apresentador Leo Jaime registrou nas redes sociais: "Poucas coisas conseguem ser mais eloquentes do que o silêncio do superministro Moro" e foi acompanhado de seu colega de TV, Xico Sá, que também cobrou: "Fala, Moro".
Oposição vai pra cima
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) cobrou providência do agora ministro Moro: "Sergio Moro. Voce disse que tomaria providências quando tivesse corrupção no governo. As revelações do Coaf são matéria prima para o combate à corrupção com suspeitas que recaem sobre teu próprio chefe. Voce escreveu livro sobre isso. Quais as providencias que vai tomar?", disse Teixeira em seu perfil no Twitter.
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, também tirou uma casquinha do ex-juiz: "Muito feio o silêncio de Moro e sua “república de Curitiba” s/ caso Bolsonaro-Queiroz. O desejo de poder, agora pela indicação de Dallagnol p/ PGR, está mostrando a natureza do grupo. Fazem alianças políticas pra conquistar o comando. A luta contra a corrupção é mero palavrório", disse Gleisi no Twitter.
O deputado Rogério Correia (PT-MG) foi mais incisivo: "Moro, Ministro da Justiça, se negou hj a falar e a agir contra o escândalo de Flávio Bolsonaro, mesmo diante dos indícios de propina e envolvimento com milícias. Age como advogado da família do chefe e fica claro seu papel no golpe que prendeu Lula!", disse Correia.
O senador Roberto Reuião (PMDB-PR), paranaense como Moro, registrou: "Estou em grande expectariva esperando as explosões de indignação do Moro e do Dalagnol. Greve de fome,videos fulminantes em jogral, pedidos de demissões , pitis alucinantes e coisas que tais!"
Memes e piadas
O silêncio de Moro virou meme no perfil do Partido dos Trabalhadores no Twitter:
7 milhões de Queiroz, 96 mil de Flávio Bolsonaro, cheques para Michele, depósitos de diferentes assessores. Cadê o combate à corrupção, seu Moro? pic.twitter.com/2Egv6OKFtf
— PT Brasil (@ptbrasil) 21 de janeiro de 2019
E a parcialidade do juiz virou tema até de marchinha de carnaval:
“O rapaz da Lava Jato me enganou e só lavou o lado esquerdo do meu carro” pic.twitter.com/vZlrgyu7zv
— Haddad Debochado (@HaddadDebochado) 21 de janeiro de 2019