Publicado 31/01/2019 23:50
As fundações partidárias integrantes do Observatório da Democracia realizaram nesta quinta-feira em Brasília, um seminário sobre as perspectivas do governo Bolsonaro.
Pela manhã os representantes das fundações debateram as características do atual governo, e durante a tarde as fundações debateram as formas de resistência às medidas de destruição de direitos propostas pelo governo de extrema-direita de Bolsonaro.
Durante a manhã, o representante daFundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini, Henrique Mathiessen destacou que o atual governo retrata a elite brasileira, que tem as seguintes características, resumidamente: sofre de um sentimento anti-Pátria,é ligada aos interesses internacionais e é uma elite apátrida. Comentou ainda que o governo Bolsonaro representa os “interessesespúrios internacionais” e promove a negação da política, apartidarização da Justiça e do conjunto do judiciário.
O representante da Fundação João Mangabeira (PSB) James Lewis, analisou o papel da disputa pelo petróleo e a Petrobras que esteve no centro de várias crises políticas brasileiras, provocadas grupos entreguistas contra governos que defendiam os interesses nacionais. “O mesmo discurso que derrubou Getúlio Vargas é o mesmo discurso que foi feito contra Jango Goulart e contra Dilma Rousseff. O Petróleo é um dos temas-chave dessa disputa”, ressaltou.
Júlio Vellozo, da Fundação Mauricio Grabois, apresentou o objetivo das fundações ao construir o Observatório da Democracia. “Buscamos uma grande convergência das forças progressistas brasileiras neste momento.”Em sua análise, Vellozo mostra a origem dos interesses defendidos pelo governo Bolsonaro. “Nasce fora do país, a partir dos interesses do capital financeiro internacional”, ressalta. “Em um cenário internacional onde se apresentam duas tendências: uma delas é que o sistema não necessita mais de nenhuma forma derespeito às regras democráticas tradicionais.”
Segundo Vellozo o papel do Brasil no novo cenário geopolítico, que está se consolidando no mundo, passou a ser relevante por causa das riquezas minerais e o petróleo. “O Estado Nacional, nessa perspectiva,não tem um mínimo de política autônoma para enfrentar essaquestão da ofensiva ultraliberal” E essa política ultraliberaladotada pelo governo Bolsonaro evidencia mais uma contradição: elese alimenta do Estado que quer desmontar.
Ele destacou também o papel violento do grupo jurídico militar nesse quadro político, ao citar o impedimento do presidente Lula de ir ao velório do irmão, causado por decisões judiciais contraditórias, numa inversão total do direito tradicional.
Pedro Otoni, da Fundação Lauro Campos, analisou o atual governo Bolsonaro, que para ele não pode ser compreendido semanalisarmos a situação internacional. Segundo ele, as elites domundo estão enfrentando três crises: a ascensão da China e deoutras potências do Oriente, que preparam sua ultrapassagem emrelação aos Estados Unidos/Ocidente; uma crise econômica que temse mostrado resistente aos mecanismos clássicos que o capitalismodesenvolveu para administrar suas crises e para a qual fica cada vezmais difícil encontrar uma alternativa dentro dos marcos docapitalismo contemporâneo; os impactos da Revolução 4.0 sob amassa trabalhadora, o que tende a criar uma imensa e inédita massade deserdados que pode colocar as bases do sistema em risco.
São três crises que se retroalimentam, e as saídas para a crise dividem a elitefinanceira internacional: um setor quer manter o liberalismoclássico, e outros setores querem partir para um autoritarismoaberto contra esse neoliberalismo clássico, conclui Otoni.
Por fim, José Sérgio Gabrielli, representante da Fundação Perseu Abramo, afirmou que o governo Bolsonaro é sim fruto de verdadeiras placas tectônicasno mundo com uma grande ofensiva sobre a soberania nacional, como aconteceu na Líbia, na Síria, e continua através dos projetos deintervencionismo da OTAN. Gabrielli destacou o papel da comunicaçãoe da imprensa para atingir esses objetivos estratégicos. Existe umgrande esforço de controle dos recursos estratégicos dos países emdesenvolvimento, como minerais estratégicos, não somente em relação ao petróleo.
Frente Ampla em defesa da democracia, do Brasil e dos direitos do povo
Durante a tarde o presidente da Fundação Maurício Grabois, Renato Rabelo, comentou a necessidade das forças progressistas de buscarem a construção de uma frente ampla.
"Essa visão de frente ampla, nas condições atuais, tem como centro de gravidade, o seu mote, a defesa da democracia ameaçada como posição para o avanço das outras grandes bandeiras. Porquanto o pressuposto da liberdade politica, partidária, sindical, minorias, de organização e mobilização popular é que permite prosseguir na luta pelos direitos do nosso povo e a soberania nacional. As ameaças à liberdade política são explícitas – o governo tem um ímpeto saliente de autoritarismo e tendência fascistizante" destacou Renato.
Para Rabelo, "Sem a liberdade política, as lutas se tornam mais difíceis".
"Como se relaciona as forças populares ou uma frente popular, que reúna a esquerda com a frente ampla? Os comunistas do PCdoB, com sua longa experiência nesses períodos antidemocráticos e de restrição às liberdades têm pontuado que o campo popular deve se constituir como um núcleo da frente democrática ampla, procurando indicá-la para as posições oposicionistas mais consequentes. São frentes de conteúdo popular dentro de uma frente maior de perfil democrático. Desse modo, a Frente Brasil Popular e a Frente Povo sem Medo devem fazer parte dessa frente sem diluir-se nela, mas sendo uma base de unidade popular dentro da frente maior. Daí a importância da crescente unidade popular" completou o presidente da FMG.
Ato de lançamento
Ao final do dia, lideranças nacionais dos seis partidos participaram de um grande ato de lançamento do Observatório. As presidentas nacionais do PCdoB, Luciana Santos e do PT, Gleisi Hoffmann, além do ex-candidato a presidente da República Guilherme Boulos participaram da atividade.
A presidenta nacional do PCdoB e vice-governadora de Pernambuca, Luciana Santos lembrou que "é preciso mais do que nunca que a gente aprofunde esse debate e faça a resistência necessária. Resistência, amplitude e muita sagacidade".
Ela reafirmou a necessidade das forças progressistas lutarem pela democracia. "Nós precisamos garantir um processo de acúmulo de forças pela democracia. Bandeira que por si só é ampla" afirmou Luciana.
O Observatório pode ser acessado no site www.observatoriodademocracia.org.br
Da redação em Brasília