'Senti vergonha da atuação do MP', diz conselheiro sobre veto a Lula

A jornalista Mônica Bérgamo repercute em sua coluna na Folha de S. Paulo a carta que Luiz Fernando Bandeira de Mello enviou a colegas do Conselho Nacional do Ministério Público. Na mensagem, Mello diz estar envergonhado com a postura do MP diante do caso que impediu o ex-presidente Lula de velar o irmão.

Lula triste

O veto à ida de Lula às cerimônias fúnebres de seu irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, repercutiram no CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), que fiscaliza a atividade dos procuradores do país.

O conselheiro Luiz Fernando Bandeira de Mello, que ocupa a vaga do Senado Federal no colegiado, enviou mensagem aos colegas afirmando que “pela primeira vez em minha vida, senti vergonha da atuação do Ministério Público brasileiro”.

No texto, ele afirmou que não é “petista, não compactuo com tudo o que foi feito, mas essa indignidade eu não consigo aceitar”. Nem o regime militar, disse, “negou a Lula o direito de velar a mãe”.

Bandeira de Mello escreveu ainda que o MP se “apequenou” ao aceitar o “esdrúxulo argumento” da Polícia Federal de carência de recursos para transportar Lula. “Como se de fato esse fosse um problema para a PF, que por tantas vezes demonstrou imponente estrutura.”

Procurador aposentado repudia decisão

Um outro texto, escrito pelo procurador aposentado Roberto Tardelli, também repercutiu nos meios jurídicos e nas redes sociais. Nele, Tardelli comenta que "tudo o que não se poderia fazer — e se fez — seria impedir o exercício de um direito explícito na lei, de natureza evidentemente humanitária", diz. O procurador argumenta que "Lula é conhecido o bastante para não ter onde esconder-se. Estaria entre amigos e parentes. Só uma mente perturbada poderia imaginar que aquelas pessoas fossem iniciar uma revolução."

"A negativa, a par de abusiva, é sobremaneira cruel e reflete uma polícia que parece se comprazer com o sofrimento atroz que impôs a seu preso mais ilustre. Foi uma demonstração de um poder tirânico, que se coloca acima da lei, que despreza a lei por razões burocráticas, tão vazias quanto impiedosas", afirmou.

O procurador aposentado conclui a mensagem afirmando: "Que ninguém mais duvide: Lula é preso político (…) Impedi-lo de despedir-se do irmão configura tratamento indigno, desumano e opressor. Em palavras mais cruas, Lula sofre tortura psicológica, imposta pela Polícia Federal, sob proteção do Ministério Público, com o beneplácito do Judiciário."