Caso Boechat: ilustrador homenageia a “heroína” que socorreu motorista

De um dia para o outro, a vendedora Leiliane Rafael da Silva saiu do anonimato. Na segunda-feira (11), em plena Rodovia Anhanguera, em São Paulo, ela socorreu o motorista de caminhão João Adroaldo Tomanckeves, que se envolveu no acidente com o helicóptero onde estava o jornalista Ricardo Boechat. As cenas de seu desprendimento para tirar João Adroaldo das ferragens comoveram o ilustrador Angelo France, que fez um desenho em HQ para homenagear Leiliane.

Leilaine

Segundo reportagem do G1, Angelo, de 40 anos, acordou na terça-feira (12) com uma imagem fixa na memória: a força da mulher foi o que o inspirou para desenhar. A tragédia causou a morte de Boechat e do piloto de helicóptero Ronaldo Quatrucci. Em meio à tristeza, a reação de Leiliane trouxe alento para o ilustrador – que mal sabia que a jovem sofre de uma doença grave e rara.

Ele, então, esperou o filho de 4 anos ir para a escola. Sozinho em casa, foi ao computador e pegou um frame do vídeo em que a Leiliane aparece e colocou ao seu lado. Na tela, começou a reproduzir a imagem digitalmente. Não demorou muito e, sem ainda perceber o feito, surgiu um desenho em HQ que viralizaria nas redes sociais.

Além do desenho, ele deixou uma mensagem no Instagram: “Minha visão da imagem marcante no momento do acidente que vitimou o jornalista Ricardo Boechat e o piloto do helicóptero, Ronaldo Quattrucci. Heróis reais existem! Leiliane, que assistiu de perto a queda do helicóptero, desce da moto e corre salvar a vida do motorista do caminhão atingido no acidente. Uma mulher forte, de coragem, que arriscava sua vida enquanto os homens a sua volta apenas se importavam em filmar ao invés de ajudar. Parabéns Leiliane!! Verdadeira Heroína!!!”.

Angelo não fazia ideia de onde o HQ chegaria. “Foi tudo muito estranho, não fiz nessa intenção. Fiz a arte hoje [ontem] de manhã sem nenhum propósito. Queria homenagear a imagem, retratar a imagem que eu vi, tanto na televisão como na internet.” Ele diz que ficou impressionado com a força de Leiliane: “Ela no meio de um monte de homem, subindo no caminhão, e todos filmando. Eu pensei: é uma heroína, aquela mulher escorada no caminhão, aqueles escombros. Fiz o desenho para homenageá-la”.

Antes do post, ele tinha 1.600 seguidores no Instagram. Agora, está com mais de 8 mil. A imagem chegou a mais de 15 mil curtidas. No Facebook – onde o post está com 1.100 compartilhamentos –, Angelo tinha em torno de 1.600 seguidores e agora está com 7.700.

A velocidade com que a imagem circulou pelas redes o assustou. “Ainda não consegui ter noção. Tem vários contextos na imagem. As pessoas que estão se comovendo, a força da mulher tentando ajudar e sendo forte, tem a simbologia da visão fantasiosa da Mulher Maravilha”, disse. “A reação dela foi sair correndo da moto e tentar ajudar. Tinha pensado na indignação de outros homens com celular na mão que poderiam ter ajudado”.

Apesar da repercussão – que pode, naturalmente, projetar sua carreira –, o ilustrador tem um desejo mais singelo: saber a reação de Leiliane à imagem em HQ. “Espero um dia poder encontrar com ela. Espero que ela tenha visto o desenho e gostado da homenagem.”

Doença rara

A “heroína” Leilane, de 28 anos, é mãe de três filhos e tem uma anomalia vascular cerebral, que foi diagnosticada em novembro de 2018. Trata-se de uma enfermidade grave e rara. A Malformação Arteriovenosa, também conhecida como MAV, afeta as conexões entre veias e artérias, sem a presença de um sistema capilar, e atinge o sistema nervoso central.

Em entrevista à TV Record, Leilane explicou que, de início, os médicos acharam que seu problema era um tumor inoperável. “Eu estava em casa com meus filhos quando me senti mal e procurei um hospital”, conta. Segundo ela, o médico afirmou que os sintomas eram por causa da amamentação – Leilane havia tido um filho havia quatro meses.

Na segunda tentativa de buscar ajuda, outro médico pediu para que Leilane ficasse internada e passasse por uma série de exames, nos quais foi diagnosticado um possível tumor. Com novos exames, mais sofisticados, a MAV foi finalmente diagnosticada. Leilane agora espera liberação para fazer uma cirurgia na rede pública de saúde.

Da Redação, com agências