Maioria da população rejeita golpe de 1964, aponta Datafolha
A maioria da população brasileira despreza a comemoração da data que marcou o início da ditadura militar no país em 1964. Essa é a opinião de 57% dos 2.086 entrevistados pelo Datafolha entre os dias 2 e 3 deste mês, em 130 municípios em todo o Brasil. A informação foi divulgada neste sábado, no jornal Folha de S. Paulo.
Publicado 06/04/2019 17:52
A pesquisa foi realizada baseada na ordem do presidente Jair Bolsonaro (PSL) que determinou ao Ministério da Defesa que sejam realizadas comemorações em unidades militares no 31 de março.
Com a polêmica instaurada e a Defensoria Pública da União tentar barrá-la na Justiça "a comemoração", a cúpula militar brasileira teria pedido discrição nas comemorações para evitar um acirramento das tensões políticas. Mesmo assim, um vídeo que celebrava os 55 anos do golpe militar foi divulgado pelo Palácio do Planalto no dia 31 de março em grupos de Whatsapp.
Na pesquisa, o desprezo à data do golpe tem maior apoio entre os mais jovens, mais escolarizados e mais ricos da população. "Entre as pessoas de 16 a 24 anos, 64% são contrários à comemoração da data. A porcentagem chega a 67% entre quem tem ensino superior e a 72% entre pessoas com renda familiar mensal superior a dez salários mínimos", aponta a reportagem.
Ditadura não se comemora
Depois de um debate intenso sobre a crueldade do período ditatorial no Brasil, sendo o principal tema debatido nas redes sociais nos últimos dias e a hastag "DitaduraNaoSeComemora" estar em primeiro lugar no tópico de discussão no Twitter, há quem considera a ideia de Bolsonaro, de incentivar a “comemoração” do golpe de 1964 como boa.
Uma parcela considerável da população, 36% acham que a data merece ser comemorada, apontou o instituto. Outros 7% não souberam responder ou não quiseram opinar sobre o tema.
Ainda assim, a pesquisa aponta que em todas as faixas de idade, escolaridade e renda, a maioria refuta a celebração do golpe de 1964.
Religião
O instituto apurou também na pesquisa qual era a religião dos entrevistados. O levantamento indicou que a maioria de todos os seguimentos dos evangélicos (base eleitoral de Bolsonaro), também rejeitaram as comemorações relativas ao início da ditadura militar no Brasil: 53% acham que 31 de março deve ser desprezado e 39%, comemorado. Já entre os neopentecostais, 65% apontam desprezo sobre as celebrações.
Católicos (56% a 38%), espíritas (59% a 32%) e adeptos de religiões afro-brasileiras (73% a 24%), também se manifestaram majoritariamente contra a comemoração. Quem não tem religião ou é agnóstico segue o mesmo padrão: 73% a 23%.
Voto em Bolsonaro
Entre as pessoas que declararam terem votado no presidente Jair Bolsonaro nas eleições do ano passado, a disputa é apertada: 49% deles acham que a data deve ser comemorada e 43%, desprezada.
Segundo o Datafolha, as pesquisas ocorreram em todo o Brasil. A margem de erro máxima é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o nível de confiança (que é a chance de a pesquisa retratar a realidade) é de 95%.