Oposição diz que Bolsonaro quer entregar BC ao sistema financeiro

Por conta dos estouvados cem dias de governo, Bolsonaro assinou um projeto que será enviado à Câmara dos Deputados prevendo a autonomia do Banco Central (BC). A medida foi comemorada pelos ultraliberais da área economia, mas obviamente rechaçadas por lideranças da oposição.

Por Iram Alfaia

Bolsonaro 100 dias - Antonio Cruz/Agência Brasil

O presidente da Fundação Perseu Abramo (PT), Márcio Pochmann, analisou a proposta como mais um avanço do sistema financeiro na economia brasileira.

“Com a equipe econômica dos sonhos do mercado financeiro no Ministério da Fazenda, Temer salvou os bancos do prejuízo da recessão. Agora Bolsonaro quer entregar o comando da economia aos banqueiros, com o projeto de independência do BC. Não aceitam mais comandar só a equipe econômica”, afirmou o economista.

Na mesma direção, Ciro Gomes (PDT), candidato a presidente da República nas últimas eleições, afirmou que se privatizar os dois últimos bancos públicos (Bando do Brasil e Caixa) e entregar o Banco Central ao predomínio do sistema financeiro simplesmente se está destruindo a sustentação do povo brasileiro.

Sobre uma eventual aprovação do projeto, Ciro disse ao O Globo que seria o caso de “ir pra rua e quebrar tudo”, frase pesada que ele atribuiu a reação pela surpresa que teve ao tomar conhecimento do projeto.

“Mas não acho que o povo brasileiro deva aceitar passivamente uma medida dessas. Uma maneira de reagir é ir pra rua de forma calorosa. E eu não vou mandar ir, eu vou junto”, afirmou Ciro.

O economista Luiz Gonzaga Beluzzo fez um alerta: "é perigoso manter a independência do banco durante tensões sociais que podem nascer da própria política monetária”.

Professor da Unicamp e autor do livro “Brasil dos Bancos”, Fernando Nogueira da Costa, elencou vários motivos contrários à independência do BC, entre os quais, o político. Para ele, há um problema de legitimidade.

“A defesa do direito político do cidadão de votar, ser votado, e escolher o programa socioeconômico estratégico para o país de maneira autônoma. O projeto vencedor da eleição não pode ser usurpado por um Quarto Poder não eleito, composto arbitrariamente por tecnocratas de uma linha de pensamento econômico oposta”, defendeu.