17 de abril, dia da vergonha nacional

 Há três anos, num domingo, o Brasil parou para assistir, na TV, a votação do impeachment de Dilma Rousseff. Foi o início do desastre que o país vive desde então.

Por José Carlos Ruy*

Michel Temer e Eduardo Cunha

17 de abril, dia da vergonha nacional – nesta quarta-feira (17) se completa o terceiro aniversário da estarrecedora sessão da Câmara dos Deputados que, em 2016, aprovou o início do processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff.

Era o golpe de estado – agora midiático-judicial-parlamentar – em pleno andamento. Manipulado por dois criminosos que, pouco tempo depois, foram desmascarados e presos pelos atentados que cometeram em suas funções públicas: o então vice-presidente da República Michel Temer, traidor não só de Dilma, sua companheira de chapa, mas do Brasil e do povo brasileiro. E Eduardo Cunha, que se comportou como verdadeiro chefe de gangue na presidência da Câmara dos Deputados.

Aquela sessão escandalosa foi programada para ser um verdadeiro espetáculo de propaganda do golpe. Como uma atração circense, foi marcada para um domingo e a Rede Globo, protagonista da ação contra Dilma, a democracia e o governo democrático-progressista, foi mobilizada para transmitir as longas horas que durou aquele espetáculo deprimente. Chegaram ser instalados telões nas praças de muitas cidades, para que todos pudessem acompanhar.

As declarações hipócritas de voto "pela família", "por Deus", "pelo Brasil", feitas naquela sessão começaram a ser desmentidas já no dia seguinte, 18 de abril, com a prisão, acusado de desvio de dinheiro público, do prefeito de Montes Claros (MG), Ruy Muniz, marido da deputada federal Raquel Muniz que, ao votar contra Dilma, disse: “Meu voto é pra dizer que o Brasil tem jeito, o prefeito de Montes Claros mostra isso para todos nós com sua gestão." Em 30 de abril, poucos dias após a malfadada sessão, foi preso também Nárcio Rodrigues, pai do deputado Caio Nárcio (PSDB), acusado de crime semelhante.

Soube-se depois, pelo próprio Eduardo Cunha – em delação premiada logo depois de sua condenação, em 30 de março de 2017, a 15 anos e quatro meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas – que a maioria dos deputados que votaram pelo impeachment foram comprados: receberam dinheiro para isso!
O atentado contra Dilma e a democracia foi cometido pelos 367 deputados que votaram pelo impeachment, mesmo que a presidenta não tenha praticado nenhum delito ou crime de responsabilidade.

As ações vexatórias se multiplicaram, envergonhando mesmo pessoas que, no meio do povo, eram contrárias ao PT e governo da presidenta Dilma. Uma dessas ações foi protagonizada pelo então deputado Jair Bolsonaro, que homenageou o mais notório torturador da ditadura militar, e não teve a vergonha de dizer: ''Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.''

Dilma Rousseff, lembrando aqueles acontecimentos, disse recentemente que foi o início do desastre que o Brasil e os brasileiros vivem. Ela tem razão, e o mero exame de alguns números sobre a economia, o nível de emprego, a situação do povo demonstra isso – sem falar na vergonha internacional a que o Brasil, de joelhos perante o imperialismo dos EUA, vive desde o golpe de 2016, submissão agravada sob o mando de Jair Bolsonaro.

O golpe teve consequências arrasadoras para os brasileiros, que empobreceram devido aos maus governos que o sucederam. Agravou as dificuldades que o Brasil já vivia desde 2015. Em 2016 a queda no PIB foi de 3,5%, e a "recuperação" de 2017 e 2018 foi pífia – em torno de 1% por ano. O IBGE registrou o tamanho do desastre. Em 2015 havia 20,4 milhões de pessoas em situação de pobreza. Em 2016 esse número mais que dobrou: 53,1 milhões, atingindo quase 26% dos brasileiros. Pobreza causada principalmente pelo desemprego, que era de 8,5% em 2015 (10 milhões de trabalhadores) e pulou para 11,5% (12,3 milhões) em 2016, e superou os 13 milhões em 2017 (12,7% dos trabalhadores).

Estes dados lembram que a vergonha do dia 17 de abril foi cometida por aqueles que, insatisfeitos com os rumos democráticos que o país vivia, mesmo enfrentando problemas, tomaram o governo para assaltar os cofres públicos, comprometer o desenvolvimento nacional e subordinar o Brasil às ordens de Washington.