Luciana Santos prega unidade e amplitude para derrotar bolsonarismo

Em encontro promovido no sábado (29) pelo site Brasil 247, em Olinda, a vice-governadora de Pernambuco e presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos, defendeu que as eleições de 2020 podem ser um ponto de virada para a oposição. Na sua avaliação, é preciso unir a esquerda em torno das candidaturas mais fortes e formar frentes amplas para derrotar o bolsonarismo, em especial nas capitais do país.

Luciana Santos - Foto: Diego Galba/VG

“Temos que derrotar os bolsonaristas nas eleições do ano que vem. Para isso, precisamos de alianças amplas, sagacidade política, observar com amplitude. Por mais que, no nosso campo, alguns atores tenham cometido erros, precisamos compreender que temos um inimigo principal, que está muito forte. Precisamos colocar os pés no chão sobre a verdadeira correlação de forças e a adversidade que vivemos e ter capacidade de resistir com sagacidade e amplitude”, disse.

Luciana destacou que o momento é de abrir o leque das alianças, como tática para atrair setores diversos que tenham diferenças com essa agenda, bem como explorar as contradições no seio do governo. “Nós precisamos fazer essas alianças para sair do canto do ringue em que eles tentaram nos botar”, analisou.

Ela contou que, na visita que fez, com o governador do Maranhão Flávio Dino, ao ex-presidente Lula, no último mês, as eleições municipais entraram na pauta. “Dissemos a ele que precisamos ter um projeto pelo menos das capitais. Ver quem tem mais força e um apoiar o outro. Ter uma aliança em que a gente se complemente. Essa é a política do ganha-ganha, a lógica que deve pautar a resistência”.

Ela lamentou o fato de as esquerdas não terem conseguido marchar de forma coesa na eleição presidencial, da qual a extrema-direita saiu vencedora. “Nessa derrota que tivemos, nem a esquerda se uniu, nem mesmo no segundo turno. Esse é um desafio permanente”, afirmou, citando que os partidos de oposição têm buscado aproximações, com a criação de um fórum de presidentes de partidos e conversas que envolvem PCdoB, PT, PDT, PSB, PSOL, Rede e PCO. “Temos procurado reunir as forças possíveis. As fundações ligadas aos partidos têm conseguido ampliar até mais. Elaboraram um programa comum bom e precisamos retomar isso com força”, sugeriu.

“Não há, na história brasileira, nenhum momento em que a esquerda tenha sido alternativa sem que isso tenha acontecido dentro de uma grande aliança. (…) Os comunistas têm isso como algo muito importante, desde a época da internacional socialista”, resgatou.

A vice-governadora fez questão de contextualizar a guinada à direita no país, como parte de uma onda conservadora global. Para ela, esse movimento está atrelado a questões econômicas, gestadas desde a crise de 2008 e que só repercutiram em nações como o Brasil algum tempo depois.

“Houve um rebatimento na política e o que vimos nas eleições foi a radicalização ideológica no Brasil, que pode ter como marco as manifestações de 2013 e depois foi se acentuando”, opinou. Segundo ela, fatores objetivos, como o crescimento do desemprego e a recessão ainda no governo Dilma, criaram condições para uma narrativa contra a política e a esquerda, que teve como consequência a eleição de Jair Bolsonaro.

A presidenta do PCdoB também fez uma autocrítica. Para ela, a esquerda também cometeu erros, especialmente ao não levar adiante as reformas da superestrutura do Estado brasileiro. “Nós não enfrentamos as chamadas reformas democráticas. A reforma do poder judiciário, dos meios de comunicação. Fizemos flexões na política macroeconômica, de ter um projeto nacional de desenvolvimento – embora não no tamanho merecido -, interiorizamos universidades, combatemos desigualdades regionais, mas não enfrentamos o fator subjetivo de debate de ideias, necessário para vingar um projeto nacional e popular”, afirmou.

Como consequência, as forças progressistas acabaram vítimas de uma narrativa que não é nova no Brasil, que é o discurso instrumentalizado e falacioso do combate à corrupção e da ameaça comunista, apontou. “Bolsonaro navegou nisso. Ele não era o candidato das elites, mas virou, por falta de alternativa. Ele conseguiu incorporar a imagem do antissistema, embora seja o retrato do sistema e do que há de mais velho na política e mais retrógrado no pensamento brasileiro”, resumiu.

Luciana repetiu que o país está diante de um governo retrógrado nos costumes, ultraliberal na economia e autoritário na política. “E o autoritarismo é irmão do obscurantismo. A agenda nesses seis meses é de retirada de direitos, de um governo que ainda não saiu do palanque”, disse, dividindo as forças no poder em quatro polos: militar, da toga, da banca, e o clã Bolsonaro, que inclui os filhos do presidente e o seu guru, Olavo de Carvalho, considerado por ela o grupo mais autoritário e agressivo.

“Muitas vezes se diz que o presidente é maluco, mas não é, é uma estratégia. Eles querem falar para essa base raiz deles, de pensamento conservador. E, nesse sentido, precisa que ele se afaste da institucionalidade. Por isso ele vai para cima do Supremo, do Congresso. Para eles, interessa isso, já que querem incorporar essa coisa do antissistema, do que vai enfrentar as instituições”, completou.

De acordo com a vice-governadora, a luta democrática está associada hoje à luta pelo Lula Livre – pois a prisão do ex-presidente seria parte desse processo de rasgar a Constituição –, e à luta pela resistência à agenda de retrocessos. Ela valorizou as manifestações de rua que têm acontecido nos últimos meses e também os vazamentos de conversas entre o ex-juiz e atual ministro Sérgio Moro e procuradores da Lava Jato. “A divulgação pelo The Intercept Brasil é um cavalo selado, no qual precisamos montar bem, para destruir e desmascarar um dos pilares importantes do bolsonarismo que é o que se tornou a Lava Jato”, concluiu.