A Inglaterra, ainda mais à direita

 Boris Johnson, que nesta quarta-feira (24) assume o governo britânico, é amigo de Steve Bannon, e inimigo autodeclarado do "socialismo de garras vermelhas" de Jeremy Corbyn – será um desastre para os trabalhadores.

Boris Johnson

O ex-prefeito de Londres e, a partir desta esta quarta-feira (24), novo primeiro ministro britânico Boris Johnson é um político de direita, amigo do presidente dos EUA Donald Trump. Sua ascensão reforça a tendência de crescimento da extrema direita que se espraia pelo mundo.

Em artigo publicado na revista eletrônica Jacobin, a militante sindical Lauren Townsend adverte contra suas opiniões xenófobas e rascistas – ele já chamou as mulheres muçulmanas de "caixas de correio" e "ladras de banco". Johnson, diz ela, fez parte de uma sociedade exclusivamente masculina, o “The Bullingdon Club” – cuja cerimônia de iniciação incluía agitar uma nota uma nota de 50 libras diante de um morador de rua. Um escârnio ante os mais de cinco milhões de britânicos que atualmente lutam para sobreviver em empregos mal pagos e precários, enfrentado também o constante aumento do custo de vida.

Johnson, diz ela, é um carreirista cuja hipocrisia não tem limites. Para ele “a maioria dos nossos problemas não são causados ​​por Bruxelas, mas pela gestão inadequada, indolência, baixa qualificação, uma cultura de remuneração fácil e subinvestimento em capital humano e físico, e infra-estrutura.”

Boris Johnson simboliza tudo o que o Partido Conservador (os Tories), conservador, representa. É um racista que ataca os negros, para quem Barack Obama tinha “aversão ancestral” à Grã-Bretanha devido a sua origem queniana. Para ele o problema com os países colonizados não somos nós, mas o fato de "não estarmos mais no comando”. Durante muitos anos ele descreveu o povo de Papua Nova Guiné como “canibais”; dizia dizendo que as mulheres só iam para a faculdade “encontrar maridos”; descrevia os gays como “garotos vagabundos”.

Ele vai ainda mais longe nesses insultos contra o povo. Sua carreira é marcada por ataques contra os sindicatos e a organização dos trabalhoadores. Nos anos 2000 foi um dos mais ativos opositores ao salário mínimo dizendo que sua existência "destruiria os empregos". Como prefeito de Londres, ele se chocou frequentemente com os trabalhadores do metrô e seu sindicato.

Boris Johnson fez sua campanha para prefeito com a promessa de não fechar bilheterias do metrô. Eleito, Johnson renegou essa promessa, e o RMT entrou em greve. Em resposta Johnson impôs o mínimo de 50% na votação em assembléias para a aprovação de qualquer greve. Esta foi a base da reforma anti-trabalhador da Lei Sindical de 2016.

O ódio de Boris Johnson por pessoas da classe trabalhadora é profundo, como manifestou por exemplo em opiniões sobre a tragédia de Hillsborough, ocorrida em 15 de abril de 1989, no jogo de futebol entre o Liverpool FC e o Nottingham Forest; deixou 96 mortos e 766 feridos, pisoteados. Johnson se referiu ao povo de Liverpool acusando-o de “chafurdar” no “status de vítima”.

Os membros, muitos deles ricos, do Partido Conservador que catapultaram Boris Johnson para o número 10 da Downing Street (a residência oficial do primeiro ministro, em Londres), não se importam com seu histórico de apoiar a austeridade, a privatização ou a desregulamentação. Ao contrário, aplaudiram quando ele disse em uma entrevista recente que "não conseguia pensar em ninguém que tivesse apoiado os banqueiros" mais do que ele na crise de 2008. "Eu os defendi", lembrou, "dia após dia".

Talvez seja por isso que está tão determinado a se opor ao que chama de "socialismo de dentes vermelhos e garras vermelhas" do Partido Trabalhista. Amigo de Donald Trump e Steve Bannon, Boris Johnson leva o país em direção a um precipício em 31 de outubro (a data em que ocorrerá o brexit).