Maggi diz que retórica de Bolsonaro levará agronegócio à estaca zero

O ex-ministro da Agricultura Blairo Maggi afirmou, na quinta-feira (15), em entrevista ao Valor Econômico, que a “confusão” que a retórica de Bolsonaro e seu estafe vêm disseminando na comunidade internacional, se não for contida, levará o agronegócio brasileiro à “estaca zero”.

Blairo Maggi - Divulgação

“Estamos pagando um preço muito alto e acho que teremos problemas sérios. E como exportador te digo: as coisas estão apertando cada vez mais”, acrescentou o produtor de soja e ex-ministro.

“Após anos de esforço para imprimir o ambiente como marca dos alimentos vendidos no mercado externo, o Brasil”, na opinião de Blairo Maggi, “vai ser prejudicado com esse discurso”.

“Há anos o Brasil vinha defendendo preservação com produção, tínhamos avançado bastante, já tínhamos ganhado confiança do mercado, mas com esse discurso [do governo], voltamos à estaca zero. E aqui faço uma analogia: o Brasil tinha subido no muro e passado a perna para descer do outro lado, agora fomos empurrados de volta e para bem longe do muro. Não veja como crítica feroz, mas sim como um alerta”, disse Blairo.

“Fui criticado na época mesmo, mas depois chamei os agricultores, frequentei fóruns mundiais de ambiente e comecei a estabelecer algumas metas, parâmetros para a questão ambiental e nos últimos anos conseguimos conciliar discurso de preservação com produção. E avançamos”, lembrou.

“Agora”, acrescenta Maggi, “o Brasil já tinha avançado. O problema é que o “agro” é sempre o mais prejudicado num discurso que não é adequado. E o discurso do governo está distante da realidade .

“Quando estou exportando soja, milho, eles [importadores] querem saber mais do que nunca a origem de certificação do meu produto. Felizmente, no nosso caso, a área de soja e milho em Mato Grosso está muito certinha nos últimos anos e cumprimos todas as exigências, mas elas estão mais rigorosas do que há dois anos, por exemplo. Os importadores, principalmente europeus, vêm visitar mais as lavouras, a produção, e querem saber mais como produzimos. E, se plantamos em área desmatada, eles não compram. Então o discurso só atrapalha”, denunciou o ex-ministro.