PSDB, DEM e PSD planejam fusão para enfrentar o bolsonarismo
Com o objetivo de retomar a hegemonia do campo liberal-conservador e derrotar o bolsonarismo nas eleições presidenciais de 2022, PSDB, DEM e PSD já discutem a fusão das três siglas em um único partido, que viria a ser o maior do País. As conversas começaram nos últimos meses e ainda estão incipientes – não se discutiu qual seria o nome do novo partido, por exemplo. Por isso, participantes avaliam que o movimento não será concretizado a tempo das eleições municipais do ano que vem.
Publicado 22/08/2019 10:29
Um fator que teria estimulado as negociações foi a mudança de postura do presidente do PSD, Gilberto Kassab, inicialmente hostil à proposta. “O principal empecilho a essa junção era o Kassab. Mas, nas últimas discussões, ele mostrou uma mudança de postura – e acredito que é apenas uma questão de tempo para amadurecermos esse projeto”, diz um político do PSDB que participa das negociações. “A ideia é ter tudo concretizado até 2021, para dar tempo de participar com o novo partido das eleições em 2022.”
“É um apontamento para o futuro”, reforça um assessor ligado à direção nacional tucana, sem confirmar que a ideia será concretizada. O objetivo central do grupo é viabilizar uma candidatura competitiva para João Doria (PSDB) na disputa à sucessão do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Doria tem procurado se afastar do mote “BolsoDoria”, que ajudou a elegê-lo governador de São Paulo em 2018. Em entrevista ao blogueiro do UOL Josias de Souza, publicada nesta quarta-feira (21), o tucano fez inúmeras críticas à condução do governo Bolsonaro.
Kassab se diz aberto ao diálogo, mas avalia que o mais provável é que legendas maiores venham a se unir somente depois de 2022. “Quando fomos procurados, afirmei que essa questão não foi discutida internamente no PSD. Acredito que nenhum grande partido terá disposição de examinar isso antes das eleições de 2022.”
Para o presidente do PSD, a proibição por lei de coligações nas eleições proporcionais deve mesmo impulsionar as junções de partidos. “Essas conversas sobre fusões serão bastante naturais”, diz Kassab. Dentro da Executiva Nacional do PSD, a ideia encontra eco. “Em um futuro próximo teremos somente de seis a oito partidos no Brasil”, afirma um integrante da cúpula.
Já a aproximação entre Doria e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), tem acontecido de maneira discreta, porém gradual, desde o início do ano. Maia participou nesta semana da cerimônia de filiação do deputado federal Alexandre Frota ao PSDB. “O PSDB e o DEM estarão juntos em 2020 e em 2022”, afirmou Maia na ocasião.
Tradicionalmente, o DEM apoia o PSDB e participa da coligação encabeçada pelos tucanos nas chapas majoritárias nos principais estados e nas eleições para presidente. Mas, questionado pelo UOL, Maia negou a possibilidade de juntar as três siglas. ACM Neto, prefeito de Salvador e presidente do DEM, afirmou em resposta à reportagem que há “zero chance”.
Apesar de negar a fusão dos partidos, no evento do PSDB Maia deixou a possibilidade aberta nas entrelinhas de seu discurso. “Estamos cada vez mais próximos e mais fortes. E não tenha dúvida, o fim das coligações vai nos levar à necessidade de uma reorganização partidária onde o Brasil voltará a ter três, quatro, cinco partidos fortes e um desses será certamente uma forte possibilidade de termos o DEM e o PSDB como a mesma força e o mesmo partido de representação”, afirmou ao lado Doria.
Nos bastidores, Maia é visto como um nome forte para compor a chapa de Doria na condição de vice. Um dos tucanos envolvidos nas negociações muda o assunto: “A eleição ainda está muito longe para falarmos em nomes para a chapa.”
Questionado pelo UOL sobre a fusão, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB-SP), concorda com a perspectiva, apesar de não confirmar as conversas dos tucanos com o PSD e o DEM especificamente. “Estamos no momento de começar a discutir a tese. Essa resistência caiu. Então, ainda é algo muito incipiente”, diz Covas.
A possível nova legenda seria a maior do país. O PSDB possui atualmente três governadores (SP, RS e MS), enquanto DEM e PSD contam com dois, cada um (GO e MT e PR e SE, respectivamente). Unidos, passariam a ter sete governadores, acima do PT, sigla que mais conquistou executivos estaduais nas eleições passadas, elegendo quatro governadores (BA, CE, PI e RN).
No Congresso Nacional, a possível nova legenda seria também a maior. Na Câmara dos Deputados, o novo partido teria a maior bancada com folga: 92 deputados, sendo 34 do PSD, 29 do DEM e 29 do PSDB. Hoje, a maior bancada é a do PT, com 56 deputados. No Senado, os três partidos juntos possuem 22 senadores, superando os 12 senadores do MDB.
Caso a fusão seja concretizada, o percentual do fundo eleitoral para o financiamento público de campanhas abocanhado pelo novo partido também seria o maior do país. Nas eleições de 2018, PSDB, DEM e PSD receberam R$ 386 milhões ao todo, quantia superior aos R$ 234 milhões destinados ao MDB e R$ 212 milhões destinados ao PT, então as siglas com maior recurso.