Bispos da Amazônia exigem medidas urgentes de proteção à floresta
Diante do quadro crítico do desmatamento e aumento da queimada na floresta amazônica, movimentos da igreja católica realizaram nesta quarta-feira (04), na Câmara dos Deputados, o “Ato pela Amazônia: em defesa da vida dos povos da floresta”. Dom Evaristo Spengler, da Prelazia do Marajó (PA), entregou ao presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), uma carta na qual os bispos da região exigem medidas imediatas “frente à agressão violenta e irracional à natureza”.
Por Iram Alfaia
Publicado 04/09/2019 15:33
Dom Evaristo diz que são vários os modelos de presença na Amazônia, sendo os mais importantes os povos indígenas e quilombolas que preservam o meio ambiente por causa da convivência harmônica com a natureza.
“O outro modelo chegou de forma muito agressiva e que destrói a Amazônia como as mineradoras, criadores de gado e madeireiros”, disse.
No documento, os bispos afirmam que há uma destruição inescrupulosa da floresta que mata a flora e a fauna milenares com incêndios criminosamente provocados.
“Ficamos angustiados e denunciamos o envenenamento de rios e lagos, a poluição do ar pela fumaça que causa perigosa intoxicação, especialmente das crianças, a pesca predatória, a invasão de terras indígenas por mineradoras, garimpos e madeireiras, o comércio ilegal de produtos da biodiversidade”, diz um trecho da carta.
Para os bispos, que estiverem reunidos recentemente em Belém (PA), a soberania brasileira sobre essa parte da Amazônia é inquestionável. Porém, apoiam as manifestações internacionais por entenderem que a região desempenha “função reguladora do clima planetário”.
O ato foi organizado pela Rede Eclesial Pan-Amazônica/REPAM-Brasil, em parceria com outras organizações da Igreja, líderes indígenas e quilombolas. Além do uso da palavra na sessão da comissão geral sobre a Amazônia, no plenário, integrantes do movimento ocuparam o Salão Verde da Casa.
A deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) ressaltou o trabalho voluntário da igreja católica no País e na Amazônia. “A igreja católica tem a pastoral da terra, indígena e outras preocupadas com a questão ambiental (…) O Papa Francisco, que é um argentino, sabe da importância da Amazônia para o país”, explicou.
Segundo ela, a manifestação também revela a importância da unidade de vários segmentos em favor do meio ambiente.
“Ou nos unimos em um grande movimento em defesa da Amazônia e, impomos ao governo Bolsonaro uma agenda de soberania nacional, ou vamos continuar ouvindo desaforos de países que não tem moral para falar do brasil sobre a questão da Amazônia”, defendeu.
Perpétua Almeida fez referência ao discurso de internacionalização da Amazônia. “Ele vem (sendo feito) exatamente por que o governo Bolsonaro está descuidado com a Amazônia. Soberania você exerce cuidando. Então se o Brasil tem um presidente que convoca queimada e desmatamento, vai esperar o quê?”
Presidente da Frente Parlamentar Ambientalista da Câmara, Nilto Tatto (PT-SP), diz que todos estão atentos ao fato de que Bolsonaro é o maior responsável pelos atuais problemas na Amazônia.
“Ele desde o início do governo desestruturou todo o programa de monitoramento, fiscalização e controle. Desestruturou o Ibama, ICMBio e Funai que são instituições importantes e que tinham o papel de articular o apoio nos estados e, assim, fazer o controle para que nessa época de seca lá não houvesse aumento do foco de incêndio e desmatamento”, explicou.
Líder quilombola
Anacleta Pires da Silva, do Território Santa Rosa Quilombolas do Preto, no Maranhão, diz que seu povo e seus irmãos indígenas sofrem por falta de responsabilidade de todos: cuidar da natureza.
“Cuidar da natureza é cuidar de si mesmo, temos que puxar a responsabilidade de cada um para defender a vida da mãe natureza. É ela que nos dá a sustentabilidade parta tudo. Todo esse processo é causado pelo ódio, o ódio está dominando o ser humano”, lamentou.
O líder indígena Junior Xukuru diz que não há como aceitar um presidente que quer diminuir as terras indígenas, colocar as mineradoras e garimpeiros nas áreas. Assim como a igreja católica, ele diz que a união pode ser feita com todos os segmentos que defendem a vida.
“Essas alianças com a CNBB e parlamentares tem dado um verdadeiro recado: o Brasil e a floresta amazônica têm dono: que é o povo brasileiro. Muitas coisas já foram perdidas. Se for para morrer junto com a floresta nós estamos dispostos com guerra ou sem guerra “, disse.
A secretária executiva da REPAM-Brasil, Ir. Maria Irene Lopes, uma das organizadoras do ato, diz que “somar forças com os diferentes organismos da sociedade em vista da Amazônia no atual contexto é um imperativo para aqueles que estão continuamente ao lado das pessoas que vivem no território amazônico”.
Fizeram parte da organização da atividade a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o Conselho Indigenista Missionário/Cimi, o Núcleo de Estudos Amazônicos/Neaz da Universidade de Brasília, o Observatório de Justiça Socioambiental Luciano Mendes/OLMA, a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos/SMDH, a Conferência dos Religiosos do Brasil/CRB Nacional, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil/CONIC, a Associação Nacional de Educação Católica do Brasil/ANEC, a União Marista do Brasil/UMBRASIL, entre outras.