A prisão da comunista Elisa Branco num 7 de Setembro 

O receio era de que a manifestação no Vale do Anhangabaú, na cidade de São Paulo, terminasse em tiro.

Por Osvaldo Bertolino

Elisa Branco

Um grupo de policiais mal-encarados esgueirara até próximo ao local em que algumas mulheres erguiam uma faixa com o dizer “Os soldados nossos filhos não irão para a Coreia” e prendeu a líder delas, Elisa Branco.

“Prenderam a Elisa”, gritou-se. Os mal-encarados ameaçaram empunhar as armas, mas recuaram diante da reação da massa. Esperaram terminar o desfile para conduzir Elisa à delegacia, com o reforço da tropa de choque.

Era 7 de setembro de 1950, dia da Independência. A batalha que os comunistas travavam contra as ameaças de nova guerra mundial entrava em uma nova fase com a guerra da Coreia e o Dops de São Paulo havia proibido manifestações em defesa da paz.

Pedro Pomar acompanhou o caso com especial atenção. Sabia que aquelas faíscas eram sinais de que a fogueira anticomunista estava novamente sendo abanada. Deixou isso claro em artigo que escreveu no jornal Imprensa Popular, intitulado “Imitemos e multipliquemos o exemplo de Elisa Branco”.

Ela não praticou nenhum crime de morte, não envenenou a alimentação vendida ao povo, não falsificou remédios, não especulou com os preços, não explorou nem oprimiu nenhum ser humano, disse. “Numa palavra, não praticou nada capaz de justificar sua detenção e condenação a quatro anos e três meses de prisão”, escreveu.

Segundo ele, a atitude de Elisa Branco significou, sem dúvida, uma ação corajosa, heroica para aqueles tempos de violência. Representou um chamamento enérgico aos soldados, filhos do povo, para não seguirem ao sacrifício em uma guerra promovida pelo banditismo do imperialismo norte-americano. “Quem, como Elisa Branco, tem a coragem de defender sua opinião e lutar por ela constitui uma ameaça aos imperialistas e seus lacaios”, completou.

Elisa foi condenada a quatro anos e três meses de prisão, dos quais cumpriu um ano e pouco na Casa de Detenção em São Paulo. O advogado do Partido Comunista do Brasil, Sinval Palmeira, impetrou habeas corpus em seu favor no STF, que negou o pedido. Elisa só seria libertada depois do julgamento no STF em 20 de setembro de 1951, quando foi absolvida.

Durante o período em que ela esteve presa, os comunistas promoveram uma mobilização que ganhou proporções mundiais e contou com a participação de celebridades, como o poeta chileno Pablo Neruda. Recebida com festa ao deixar a prisão, Elisa liderou uma passeata pelas ruas do centro de São Paulo, sendo saudada com flores e espocar de foguetes.