Trabalhadores dos Correios denunciam governo e iniciam greve nacional

Em protesto contra o desmonte na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), trabalhadores da categoria iniciaram uma greve nacional às 22 horas desta terça-feira (10). Há carteiros parados em São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão, Tocantins e outros estados. Segundo a Findect (Federação Interestadual dos Empregados da ECT), a paralisação é uma resposta à gestão Jair Bolsonaro (PSL), que tenta achatar salários, reduzir direitos e privatizar a empresa.

Por André Cintra

Assembleia Correios SP

Um dos pontos em pauta é o Acordo Coletivo de Trabalho. Os Correios pretendem anulá-lo – ou, no mínimo, esvaziá-lo –, mirando a suspensão de diversos benefícios. O desmonte seria um atalho para a privatização da companhia. Já os trabalhadores lutam para renovar o Acordo e preservar direitos. Até o momento, o diálogo entre as partes não avança – a Findect acusa tanto o governo federal quanto a empresa de “se negarem a negociar e quererem esfolar a categoria”.

Nas assembleias realizadas nesta terça, o apoio à greve foi geral. Além de grandes mobilizações, sob a liderança da Findect e dos sindicatos da base, houve unidade na tomada de decisão pró-paralisação. “A decisão foi uma exigência para defender os direitos conquistados em anos de lutas – os salários, os empregos, a estatal pública e o sustento da família”, afirma a Federação, em nota. “A intenção do governo e da direção da ECT é acabar com os benefícios da categoria.”

Na proposta do governo/Correios, os trabalhadores da categoria não teriam nem sequer o salário reajustado conforme a inflação do período. Mesmo sem a reposição salarial e com direitos sob risco, a categoria buscou, por meio das entidades, fazer rodadas de negociação com a empesa. Está cada vez mais claro, porém, a intenção do governo de “enxugar” os Correios – à custa dos trabalhadores – para facilitar sua privatização. Não por acaso, o governo insiste em repetir que a empresa tem lucro operacional em apenas 324 municípios do País.

Com ou sem a entrega da empresa à iniciativa privada, essa política de desmonte já compromete a qualidade na prestação dos serviços e a segurança nas operações. A categoria tampouco descarta a ameaça de demissões, em diversos setores da ECT, em todo o Brasil.

Pesquisa Datafolha divulgada na segunda-feira (9) apontou que a população brasileira rejeita a privataria. Na primeira pesquisa sobre privatizações que o instituto dez desde a posse de Bolsonaro, a maioria dos entrevistados se mostrou contrária à venda dos Correios, dos bancos públicos, da Petrobras e de outras estatais. No caso da ECT, 60% discordam da venda da entrega da empresa, e apenas 33% são favoráveis.