Legalidade em detalhes

"O filme perde a oportunidade de abordar em paralelo aos acontecimentos no Rio Grande do Sul a viagem de Jango em seus precisos detalhes, para mostrar ao Brasil as razões que o fizeram aceitar o regime Parlamentarista".

Por Christopher Goulart*

Legalidade Brizola

Badalado filme do talentoso Zeca Brito, com memorável atuação do saudoso Leonardo Machado, o drama histórico Legalidade é inquestionavelmente uma bela homenagem a um dos grandes brasileiros da história recente, inesquecível Leonel Brizola. Episódio marcante nas páginas do Brasil, o conhecido movimento popular, que teve apoio da Brigada Militar e do velho III exército, comandado pelo General Machado Lopes, tinha como objetivo a posse do Vice-Presidente da República, Senhor João Belchior Marques Goulart.

Em cartaz nos cinemas de todo o país, sinto-me no dever de expor minha modesta opinião, que também poderá ser a mesma de muitos brasileiros atentos aos detalhes da linda história brasileira. Há quem diga que os pequenos detalhes são sempre os mais importantes. No objetivo deste texto, sob a ótica da história de Jango, não restam dúvidas.

Antes, um pequeno introito. Jango, foi o primeiro líder latino-americano a abrir fronteiras comerciais com a China, vislumbrando talvez a grande potência no plano Geopolítico mundial que se tornaria o atual principal parceiro comercial do Brasil. Na década de sessenta do século passado, nas cabeças golpistas, flertar com países orientais era algo como assinar um pacto fictício com o diabo. Hoje, sabemos, pura paranoia. Com a renúncia inesperada de Jânio Quadros, os três Ministros Militares da época posicionaram contrariamente à posse de João Goulart, por entender que ele seria “Comunista”. Acreditem: Ridículo, mas verdadeiro!

A partir daí, inicia-se a famosa campanha da legalidade, no filme, um pano de fundo, que tem como foco um triângulo amoroso da atriz Cléo Pires. Desde a renúncia de Jânio, até a chegada de Jango, uma longa e planejada viagem de Singapura até o Brasil, entre as datas de 25 agosto e 1 de setembro, foi meticulosamente planejada por João Goulart, e nesta viagem formou-se, depois de muitas articulações, a decisão dele por assumir a Presidência no regime Parlamentarista. Ao tomar essa decisão, Jango evitou uma provável guerra civil.

O filme, além de conter alguns equívocos grosseiros, perde a oportunidade de abordar em paralelo aos acontecimentos no Rio Grande do Sul, a viagem de Jango em seus precisos detalhes, para mostrar ao Brasil as razões que o fizeram aceitar o regime Parlamentarista, contrariando o objetivo da campanha da Legalidade. Uma justa e merecida homenagem a Brizola, em detrimento de uma justa e merecida homenagem a verdadeira história brasileira.