A luta do povo brasileiro é bem representada na França

Durante a Festa do L’Humanité, realizada entre os dias 13 e 15 de setembro, ao norte de Paris, o Portal Vermelho conheceu algumas das pessoas que levam à Europa informações sobre a situação brasileira e promovem a militância na defesa da democracia do país.

França movimentos brasileiros

No último dia 25 de junho, o Theátre Monfort, em Paris, sediou um grande ato político cultural voltado à atual conjuntura do Brasil. Cartas foram lidas, no palco, por personalidades como Chico Buarque, Maria de Medeiros, Jean Wyllis, Cecília Boal, Márcia Tiburi, Renata Sorrah. No texto, mensagens reais de brasileiros e brasileiras, escritas para o ex-presidente Lula, que tecem unidas o sentimento de denúncia à violência institucional contra a democracia, clamam por justiça e pela retomada da normalidade no país, abalada desde o golpe de 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff.

A ex-presidenta Dilma Rousseff, capa do jornal L’Humanité desta terça-feira (17), levou, mais uma vez, as notícias sobre a situação brasileira para a primeira página dos periódicos franceses. Veículos como o Le Monde também têm dedicado espaço contínuo, em reportagens e editoriais, para descrever o que se passa no Brasil com a prisão política do ex-presidente Lula, as revelações de manipulação e conspiração dos agentes da Operação Lava Jato, a escalada fascista e autoritária do governo Bolsonaro. Nos palcos dos teatros ou nas páginas dos jornais, o Brasil é um tema recorrente no país que, historicamente, forma a opinião crítica de grande parte da Europa.

“Lula continua na prisão porque, se sair, modifica a atual correlação de forças no Brasil. Lula representa a luta pela democracia, representa a ideia de que um outro Brasil é possível”, afirma Dilma na entrevista publicada no jornal do PCF. Ela foi a principal convidada, na noite de sábado (14) , da Festa do L’Humanité, festival das esquerdas europeias que acontece há mais de 80 anos com atos políticos e atrações culturais. O Portal Vermelho esteve presente ao festival e conversou com algumas das pessoas que organizam a resistência brasileira na França, ao longo do ano, atuando em diversas frentes.

Walter Sorrentino, vice-presidente do PCdoB, fala em nome do partido durante ato de solidariedade ao Brasil

O comitê “Liberez Lula” é um desses movimentos e foi criado na última edição do Fórum Social Mundial, em Salvador, em 2018. Segundo uma de suas representantes, Solange Cidreira, trata-se de um movimento aberto, internacional, para defender de forma contínua a democracia no Brasil. “Temos a participação de sindicatos, de partidos políticos da Europa, do movimento França-América Latina, de movimentos sociais do Brasil que são muito parceiros nessa luta, como por exemplo o MST”, explica Solange, que mora na França há vários anos e se esforça para conciliar o tempo de trabalho com a organização das atividades de apoio ao Brasil.

Em junho, o comitê realizou a Caravana Lula Livre partindo da França e passando por Genebra, Bruxelas e Estrasburgo, levando suas reivindicações a organismos como a ONU e o Parlamento Europeu.

Outro eixo de apoio ao Brasil na França é o Partido Comunista Francês (PCF), aliado direto do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e de todos os movimentos progressistas brasileiros que se organizam no país. Henry Blotnik, representante do PCF, mantém contato constante com os militantes do Brasil e ajuda a receber as demandas e grupos que chegam a Paris. Ele conta que essa rede de trabalho conjunto existe desde 2003, com a realização do Fórum Social Mundial em Porto Alegre.

“Atualmente, as condições de existência dos nossos camaradas causam muitas interrogações e os franceses estão seguramente inquietos para saber quais são as condições exatas de existência no Brasil de hoje”, explica Henry, que já morou no Brasil e tem laços de amizade e proximidade com diversos representantes do PCdoB. “O povo francês quer expressar sua solidariedade aos democratas brasileiros”, completa o comunista francês.

O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) também reúne apoiadores e organização na França, colaborando com a luta brasileira pela democracia. Durante a Festa do L’Humanité, o Comitê Amigos e Amigas do MST-França realizou uma ação para promover o primeiro encontro nacional das mulheres sem-terra. Entre as participantes, uma brasileira que, atualmente, representa os movimentos do Brasil e também uma parte da população francesa.

Silvia Capanema mora no país há 17 anos e é parlamentar eleita, na cidade de Saint Denis, pelo Partido Comunista em cargo intermediário entre o que seria uma vereadora ou deputada estadual no Brasil. Também professora universitária na universidade de Paris 13, ela diz que há um grande interesse na sociedade francesa pelas lutas de acesso à terra. “Realmente o MST é um dos maiores movimentos sociais do mundo e a questão agrária mobiliza as atenções com a questão alimentar, das agriculturas saudáveis, ecológicas”, diz.

Sílvia também é criadora e presidenta da RED-Br (Réseau Européen pour la Démocratie au Brésil), formada por professores universitários, intelectuais e artistas. Ele já obteve uma primeira grande vitória: conseguiu que a prefeitura de Paris aprovasse, por unanimidade, a criação de um jardim público em homenagem a Marielle Franco, vereadora brasileira do Psol, defensora dos direitos humanos, assassinada em 2018, no Rio de Janeiro. O espaço será inaugurado no próximo dia 21 de setembro.

Saiba mais sobre os movimentos:

RED-Br

Liberez Lula