Policiais matam cada vez mais com as blasfêmias de Doria e Witzel

Um é policial, Thiago Santos Sudré. O outro, Miguel Gustavo Lucena de Souza, um menino de apenas 12 anos. Na sexta-feira 6 de setembro, os dois voltaram a se encontrar num parque de diversões em São José dos Campos, interior de São Paulo. Resultado: mais uma morte violenta movida por policiais para as estatísticas.

Por Marcos Aurélio Ruy

PM-SP - Latuff

O cabo Sudré matou o menino com a justificativa utilizada em ações policiais em que ocorrem fatalidades: “Resistência seguida de morte”. E depois ainda dizem que o filme Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, é violento. “A violência está nas ruas e virou política de Estado no Brasil de Jair Bolsonaro”, afirma Vânia Marques Pinto, secretária de Políticas Sociais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil.

Assertiva comprovada pelo estudo feito pelo Instituto Sou da Paz. De acordo com o levantamento, ocorreram 581 mortes violentas na capital paulista entre janeiro e junho deste ano, sendo 197 ocorrências cometidas por policiais, 33,9% dos crimes. O Sou da Paz mostra que é o maior número de mortos por policiais desde 2010. Pasmem.

Para o ouvidor das polícias de São Paulo, Benedito Mariano, essa situação pode piorar muito com o anteprojeto de lei chamado de anticrime, do ministro da Justiça, Sergio Moro. "Sou crítico ao projeto porque vai levar a um aumento da letalidade policial", argumenta Mariano à reportagem do UOL.

O estudo do Sou da Paz mostra ainda que no primeiro semestre de 2019 foram mortos 11 policiais, representando 1,9% das mortes violentas na capital paulista. “A estatística é muito clara”, reforça Vânia. “O braço armado do Estado, que deveria proteger a sociedade e a vida, está matando à luz do dia com uma fúria jamais vista. E as vítimas, na maioria, são jovens e pobres”.

O coordenador de projetos do Instituto Sou da Paz e responsável pelo levantamento, Leonardo Carvalho afirma: “São Paulo continua numa tendência de redução de homicídios, mas o que chama a atenção é que a letalidade da polícia em todo o estado, em serviço, bate recorde”.

A pesquisa aponta também que, no primeiro semestre deste ano, ocorreram 2.037 mortes violentas no estado, sendo 432 por policiais. O dado confirma a determinação do governador João Doria durante a campanha eleitoral no ano passado, na qual o policial deve “atirar para matar”. Obedientes, os policiais estão executando suas vítimas.

O estudo comprova ainda que 45% das letalidades provocadas por policiais ocorreram na capital. “Cada vez com mais virulência, a polícia está matando nas periferias das grandes cidades, onde se concentra o maior número de pessoas pobres”, acentua Vânia.

Witzel manda matar

Pesquisa do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro mostra 1.075 mortes de civis em operações policiais na capital fluminense, entre janeiro e julho deste ano. São 20% mais mortos por policiais do que o mesmo período de 2018, antes da posse de Wilson Witzel ao governo do estado.

Witzel é aquele governador que desce de um helicóptero comemorando a morte de um sequestrador como se tivesse feito um gol num jogo de futebol. E os policiais sentem-se autorizados pelo governador a atirar sem pestanejar. Como mostra estudo da organização não governamental (ONG) Rio de Paz, 57 crianças de até 14 anos foram mortas por “balas perdidas”, entre 2007 e 2019, na capital fluminense.

Infelizmente, a menina Ágatha Félix, de 8 anos, morta com um tiro nas costas dentro de um veículo, na sexta-feira (21), no Complexo do Alemão, é uma das cinco crianças mortas por balas de policiais encontradas em seus corpos. “Engraçado notar que as tais balas perdidas sempre encontram os corpos de negros, pobres e favelados, na maioria jovens e cada vez mais jovens”, assinala Vânia.

De acordo com o estudo, os policiais foram responsáveis por 30,7% das mortes violentas ocorridas no estado do Rio de Janeiro no primeiro semestre deste ano. Como disse Witzel, “o policial deve mirar na cabeça e atirar”. Estão matando nossas crianças e a responsabilidade é do Estado brasileiro, do governador do Rio de Janeiro e do governador paulista.

“Já virou rotina os jornais estamparem, todos os dias, o rosto de crianças mortas por policiais, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo”, resume Vânia. “O Brasil está tomado pelo policial da esquina, aquele que puxa o gatilho tão criminoso quanto aquele que dá a ordem.”