Lula: “Não vamos permitir que eles destruam o nosso país”
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, voltou a reunir milhares de pessoas em torno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que retornou ao local depois ser libertado na tarde desta sexta-feira (8) beneficiado pela decisão do STF que considerou inconstitucional a prisão de réus condenados em segunda instância. No discurso que encerrou o ato em sua homenagem, Lula criticou o presidente Bolsonaro e afirmou que é preciso resistir ao desmonte do país.
Publicado 09/11/2019 18:54
O ex-presidente Lula voltou à sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, exatos 581 dias depois de sair do mesmo lugar preso pela Polícia Federal por determinação do então juiz federal Sergio Moro, que o havia condenado num processo judicial eivado de irregularidades denunciados pelo advogados de defesa e confirmados pelas revelações do site The Intercept. No dia 7 de abril de 2018, ao anunciar para a multidão presente ao sindicato há mais de 24 horas, que iria se entregar, Lula afirmou que ele já não era mais apenas um homem, mas uma ideia e as ideias não podem ser presas. Neste sábado (9), ele voltou a reafirmou o que havia dito e disse que está disposto a andar pelo país para ajudar a recuperar o país.
Diante de milhares de pessoas que ocuparam as ruas em torno do sindicato e cercado por dirigentes e parlamentares de partidos de esquerda, lideranças sindicais e do movimentos sociais, velhos amigos dos tempos em que dirigiu a entidade, Lula afirmou que “é uma questão de honra a gente recuperar esse país. A gente tem que seguir o exemplo do povo do Chile e resistir.” Afirmou que pretende juntar sua experiência de 74 anos à energia de quem tem 30 anos para fazer muita luta, todos os dias, para brigar pelo país. "Aos 74 anos de idade eu não posso ter ódio mais no meu coração. Eu estou de bem com a vida e vou lutar nesse país”, enfatizou Lula, relembrando seus tempos de Lulinha paz e amor.
Com a experiência de já ter participado de várias caravanas e de cinco campanhas eleitorais como candidato, Lula afirmou que está disposto a andar pelo país. Na sua opinião “não é possível que a gente viva nesse país vendo cada dia mais os ricos ficarem mais ricos e os pobres ficarem mais pobres." O ex-presidente acredita que “só iremos salvar esse país se a gente tiver coragem de fazer um pouco mais. Nós estamos vendo o que está acontecendo com o Chile, que é o modelo de país que o Guedes quer construir.” Lula disse ainda que "eles têm que explicar por que estão apresentando um projeto econômico que vai empobrecer ainda mais a população brasileira” e destacou o retrocesso provocado pelo governo Bolsonaro demonstrado pela pesquisa recente do IBGE que identificou 50% da população ganhando 413 reais por mês
Sobre sua condenação pelo juiz da Lava Jato, Lula disse que o única objetivo foi retirá-lo da disputa eleitoral de 2018. “O que eles não sabem é que um povo como vocês não depende de uma pessoa, mas é um coletivo. Cassaram o Lula e o Haddad quase foi eleito”, afirmou. Apesar de ter obtido sua liberdade, o ex-presidente não desistiu da luta na justiça. "Nós ainda não ganhamos nada. O que nós queremos agora é que seja julgado um habeas corpus anulando todos os processos feitos contra mim, porque já existe argumento suficiente pra provar que o Moro é mentiroso”, destacou.
Demonstrando ter clareza que a luta não se restringe apenas ao Brasil, Lula lembrou que na Bolívia Evo Morales foi eleito para quarto mandato, mas a direita, a exemplo do que fez no Brasil em 2014 contra Dilma Rousseff, não quer aceitar o resultado. Destacou ainda a luta em curso no Chile, contra o modelo excludente que impera naquele país, lembrou a vitória de Alberto Fernandez contra Maurício Macri, na Argentina, e enfatizou que “nós temos que ser solidários ao povo da Venezuela. Quem decide o problema do país é o povo do seu país. O Trump não foi eleito para ser xerife do mundo."
Ao final, Lula afirmou que pretende fazer um pronunciamento à nação dentro de algumas semanas. Afirmou que pretende reunir com muitas pessoas para analisar mais detalhadamente a situação do Brasil e apresentar algumas ideias para ajudar a superar as dificuldades que o Brasil vive.
Encontro com o PCdoB
Antes de subir ao palanque de onde discursou para as milhares de pessoas que foram homenageá-lo, Lula ficou um longo tempo na sede do sindicato. Entre as muitas pessoas com quem esteve, recebeu uma delegação de membros do Comitê Central do PCdoB liderada pela presidenta nacional, Luciana Santos e composta por Renato Rabelo, presidente da Fundação Mauricio Grabois; Jandira Feghali, deputada federal; Vanessa Grazziotin, ex-senadora; Carina Vitral, presidenta da União da Juventude Socialista (UJS); Flávia Calé, presidenta da Associação Nacional dos Pós-Graduandos, acompanhada da filha Aurora, e Rubens Diniz, ex-dirigente da Organização Continental Latino Americana de Estudantes. O PCdoB é autor da Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) 54, que, junto outras duas ações, uma da OAB e outra do Patriota, foram julgadas pelo STF na quinta-feira (7) e possibilitaram a libertação de Lula.