As mulheres da Segunda Guerra Mundial

Surpreendentes imagens das mulheres que participaram de missões na Guerra.

Foto: Bruxas da noite-R.S.-Gasheva-I.F.-Sebrova-N.F.-Meklin-M.P.-Chechnev-N.V.-Popova-S.T.-Amosova-E.A.-Nikulina-E.D.-Bershanskaya-M.V.-Smirnova-E.A.-Zhigulenko.

As “Bruxas da Noite”: Rufina Gasheva (848 missões noturnas, Heroína da URSS), Irina Sebrova(1004 missões noturnas, Heroína da URSS), Natalia Meklin (980 missões noturnas, Heroína da URSS), Marina Chechneva (980 missões noturnas, Heroína da URSS), Nadezhda Popova (825 missões noturnas, Heroína da URSS), Sima Amosova (555 missões, condecorada seis vezes por bravura), Yevdokia Nikulina (600 missões, Heroína da URSS), Yevdokia Bershanskaya (comandante da unidade, Heroína da URSS), Maria Smirnova (940 missões, Heroína da URSS), Yevgenia Zhigulenko (773 missões, Heroína da URSS)

Toda a coisa pareceu, no início, estranha.

Um amigo – um grande amigo, pois nossa amizade subsiste a 40 anos de diferenças, sobretudo, ideológicas – enviou-me, algum tempo atrás, um artigo (quase um livro) sobre o tratamento que receberam, após a libertação do nazismo, as mulheres que, usando uma expressão educada, se relacionaram com ocupantes nazistas, sobretudo na França, mas também em outros países ocupados por Hitler.

Bem entendido, ele não estava me provocando. Pelo contrário, estava tomado por um legítimo senso de humanidade.

Os leitores devem imaginar as fotos que ilustravam esse texto: mulheres de cabeça raspada, mulheres untadas com piche e penas, mulheres desfilando nuas no meio da multidão com os filhos, que tiveram com nazistas, no colo.

Horrível, mas, sinceramente, a lamentação sobre essas mulheres pareceu-me mais revoltante que o seu destino – que, a julgar por “Malèna”, o filme de Giuseppe Tornatore, não durou muito tempo, se é que o caso da personagem interpretada por Monica Bellucci pode ser generalizado.

Talvez seja um problema pessoal: sou filho de uma senhora que considerava seu maior orgulho de militante ter participado das manifestações pela entrada do Brasil na guerra contra o nazi-fascismo, quando tinha 12 ou 13 anos.

Mas duvido. Houve coisas horríveis – moralmente horríveis – sob a ocupação. O ódio contra aquelas mulheres não foi, como dizia o texto, a tentativa de povos que se conformaram com a ocupação nazista de exorcizar seu próprio comportamento.

É verdade, aquelas mulheres que aparecem nas fotos eram, obviamente, as que não conseguiram fugir.

Quanto a, por exemplo, Madame Chanel, que passou toda a ocupação nazista no Ritz, acompanhada daquele a quem chamava “o meu alemão” (que era um membro da “inteligência” nazista), evadiu-se para a Suíça, onde ficou alguns anos contando histórias mirabolantes.

Chanel, aliás, é um exemplo importante quanto à moral dessa espécie de colaboracionismo sexual. Em 1943, em um almoço na Côte d’Azur, ela expressou o que achava da ocupação nazista: “A França teve o que merece!”, provocando a reação da esposa do príncipe de Faucigny-Lucinge, que lhe deu as costas. Alguns dias depois, a princesa de Faucigny-Lucinge foi presa pela Gestapo, que, de repente, lembrou-se que ela era, também, baronesa d’Erlanger, ou seja, era de origem judaica (cf. Antony Beevor e Artemis Cooper, “Paris After The Liberation 1944-1949”, Penguin Books, 3ª ed. revisada, 2004, pp. 134-135; depois da publicação desse livro, descobriu-se que a colaboração de Chanel com os nazistas foi muito maior, muito mais próxima – e muito mais repugnante – do que isso: cf. Hal Vaughan, “Sleeping with the Enemy: Coco Chanel’s Secret War”, NY, Knopf, 2011).

Realmente, é injusto que Chanel tenha escapado ilesa, enquanto outras mulheres tenham sido expostas nas ruas das cidades da Europa. Mas o caso de Chanel dificilmente foi único – em arrogância e em deduragem. A lógica dessa espécie de relacionamento, sob a ocupação nazista, não é, como disse um autor favorável a Chanel, “apenas envolver-se romanticamente”.

Infelizmente, quando se trata de uma guerra nacional contra uma ocupação – e, no caso, repetimos, tratava-se da ocupação nazista – é moralmente monstruoso lamentar o tratamento ao que era visto (com boas razões) como traição ao povo e ao país.

Na maioria dos casos, a atitude da Resistência foi a de impedir que o ódio do povo chegasse às últimas consequências.

Em “O Olho de Vichy”, documentário de Claude Chabrol – ele próprio filho de um dirigente da Resistência Francesa -, aparece a história da foto do garoto pescando no Sena, que virou tema da propaganda colaboracionista durante a ocupação da França.

Na verdade, o garoto tivera seus pais presos pelos nazistas – e tentava matar a fome, que era permanente para quase todos os parisienses, sob o tacão nazista.

Mas houve quem preferisse, diante dessa situação, aderir, de uma ou outra forma, ao inimigo; não se passava fome, era muito mais confortável – mas, para isso, claro, na maioria desses casos, era preciso desenvolver uma arrogância repulsiva em relação à população da qual saíram. Daí para a delação, é menos de um passo. Que depois tenham sofrido as consequências, nada tem de espantoso.

Gostaríamos muito que fosse diferente, e que tudo corresse de maneira mais civilizada. Aliás, também gostaríamos que os nazistas fossem mais civilizados, ou seja, que não fossem nazistas. Mas há coisas que não dependem da nossa vontade – muito menos quando ela é retroativa.

AS MULHERES

Porém, o mais aberrante nessa literatura neo-colaboracionista sobre o fim da II Guerra Mundial – pois já existe um estoque de livros, e crescente, em todo o mundo, com esse conteúdo – é que essas mulheres de que tanto se lamenta o castigo, foram absoluta exceção (se é que existem exceções absolutas) em todos os países ocupados pelos nazistas ou em guerra com eles.

Pelo contrário, em todos esses países, as mulheres foram, se assim podemos dizer, a alma da luta. Aliás, não podemos dizer isso, pois elas foram a própria luta, ainda que não sozinhas. Por isso, dizer que elas foram a “alma” da luta é algo impreciso, que subestima o seu papel naquele momento em que a humanidade – isto é, a civilização – lutava por sua sobrevivência.

Quem ficou como símbolo da luta espanhola – que se estendeu ao mundo todo – contra o fascismo?

Dolores Ibárruri, La Pasionaria.

É dela o chamado à luta, logo depois que Franco, sustentado por Hitler e Mussolini, declarou guerra à democracia: “¡Mujeres, heroicas mujeres del pueblo! ¡Acordaos del heroísmo de las mujeres asturianas en 1934; luchad también vosotras al lado de los hombres para defender la vida y la libertad de vuestros hijos, que el fascismo amenaza!” (Discurso de 19 de julho de 1936).

Foi um símbolo tão poderoso, que o mundo somente teve certeza de que a ditadura franquista tinha caído, quando ela voltou à Espanha, em 1977. No entanto, La Pasionaria era mais que um símbolo. Era uma pessoa – uma mulher.

Ou Zoya Kosmodemyanskaya. Ou sua companheira de unidade militar Vera Voloshina. As duas tremendamente torturadas e depois enforcadas pelos nazistas durante a Batalha de Moscou.

Uma testemunha do assassinato de Vera Voloshina relatou, depois, o final do seu martírio:

– Eles a trouxeram, a pobre, de carro, para a forca, e ali o laço balançava no vento ao redor dos alemães, havia um monte deles. E eles trouxeram os nossos prisioneiros, que trabalhavam atrás da ponte. A menina estava no carro. No começo, não era visível, mas quando as paredes laterais foram abaixadas, eu engasguei. Ela estava, coitada, apenas com roupa de baixo, e, mesmo assim, rasgada e toda suja de sangue. Dois alemães gordos, com cruzes negras nas mangas, subiram no carro, para levantá-la. Mas a menina afastou os alemães e, agarrando-se ao carro com uma das mãos, ergueu-se. A outra mão parecia quebrada, pendia como um chicote. E então ela começou a falar. No começo, ela disse algo que parecia alemão, e depois na nossa língua.

“Eu”, disse ela, “não tenho medo da morte. Meus camaradas vão me vingar. Nós venceremos de qualquer maneira. Você vai ver!”

E a menina começou a cantar.

– E você sabe qual música?

– A mesma que toda vez eles cantam nas reuniões e tocam no rádio pela manhã, à tarde e à noite.

– “A Internacional”?

– Sim, essa mesma música. Mas os alemães estavam de pé e ouvindo silenciosamente. O oficial que comandou a execução gritou algo para os soldados. Eles jogaram o laço no pescoço da garota e desceram do carro.
O oficial correu para o motorista e deu a ordem de se mover. Ele se sentou, todo branco, veja, ele ainda não estava acostumado a enforcar pessoas. O oficial pegou um revólver e gritou algo para o motorista. Pareceu que ele estava xingando. O motorista pareceu acordar e deu partida no carro
.

A garota ainda conseguiu gritar tão alto que meu sangue congelou em minhas veias: “Adeus, camaradas!”.

Quando abri os olhos, vi que ela já estava pendurada (v. o livro de Georgy e Irina Frolov, “Москвички-партизанки – Герои Отечества”, Ozon.ru, 2004).

Aqui, uma pequena amostra das mulheres que lutaram contra o fascismo – e foram, muitas com a doação da própria vida, vitoriosas. Como foram milhões, não chega, nem pode, ser uma homenagem. Apenas uma amostra.

Preferimos não usar fotografias “colorizadas” – e publicar algumas (talvez muitas) cuja qualidade, em termos visuais, não é grande. Mas nos pareceu desnecessário embelezar aqueles momentos.

Espanha: “Y una mañana todo estaba ardiendo”

Guerra Civil Espanhola, 1936

A Guerra Civil Espanhola foi, para os ocidentais, o prenúncio do que viria (no Oriente, seria a segunda invasão japonesa da China, em 1937 – a primeira fora em 1931, quando a Manchúria fora anexada pelo império nipônico).

O verso acima é de Pablo Neruda, que, na época, estava na Espanha: “Y una mañana todo estaba ardiendo/ y una mañana las hogueras/ salían de la tierra/ devorando seres,/ y desde entonces fuego,/ pólvora desde entonces,/ y desde entonces sangre./ Bandidos con aviones y con moros,/ bandidos con sortijas y duquesas,/ bandidos con frailes negros bendiciendo/ venían por el cielo a matar niños,/ y por las calles la sangre de los niños/ corría simplemente, como sangre de niños” (Pablo Neruda, Explico algunas cosas).

Apesar da derrota para o fascismo – somente a URSS apoiou a democracia espanhola, enquanto Hitler e Mussolini cumularam Franco de tropas e aviação de guerra – a luta na Espanha seria decisiva para as batalhas que viriam.

Guerra Civil Espanhola, 1936
Barcelona, 1936
Esperanza Rodríguez, combatente antifascista na Galícia, 1936
Esta é uma das fotos tiradas por Gerda Taro na Espanha. Ela e seu marido, o húngaro Endre Friedmann, creditavam suas fotos com o pseudônimo “Robert Capa”. Gerda, alemã e anti-hitlerista, morreu durante um ataque da aviação alemã a Villanueva de la Cañada. Depois de sua morte, o marido continuou utilizando o nome Robert Capa – e tornou-se um dos maiores fotógrafos da História.
Fanny Schoonheyt, voluntária holandesa no combate ao fascismo na Espanha, Barcelona, maio de 1937 (foto: Agustí Centelles).
Os intervalos da luta na Espanha
Marina Ginestá, francesa de família catalã, no telhado do Hotel Colón, em Barcelona, no dia 21 de julho de 1936 (foto: Juan Guzmán, nome adotado pelo fotógrafo alemão Hans Gutmann)
Guerra Civil Espanhola
Voluntárias antifascistas, próximas a Madri
Nas Brigadas Internacionais
Nas trincheiras
Guerra Civil da Espanha
La Pasionaria

O mundo contra o nazismo

Josephine Baker não foi apenas a rainha do Folies Bergère – isto é, do teatro de revista francês. Fez parte da Resistência, após a ocupação da França pelos nazistas. Na foto, depois da libertação de Paris, a tenente Baker, do exército francês.
Esta é Ada Gobetti, guerrilheira contra a ocupação alemã na Itália, escritora e líder antifascista. Depois da guerra, ela seria uma das fundadoras da Federação Democrática Internacional da Mulher (FDIM).
A defesa antiaérea na Inglaterra, durante os bombardeios nazistas.
O treinamento das voluntárias, na Inglaterra, à espera da invasão nazista.
As mulheres na defesa antiaérea, em Londres.
A defesa antiaérea do território inglês
Acampamento militar nos EUA
Simone Segouin, da Resistência Francesa.
Resistência Francesa
O “maquis” – a Resistência no campo da França
O “maquis”
Combatentes da França Livre, 1944
Mães de Paris protegendo seus filhos das balas dos atiradores alemães (1944)
A insurreição de Paris contra os nazistas, 1944
A libertação da França
A libertação de Marselha

Sangue derramado

Sophie Scholl, alemã antinazista, da organização de origem católica Rosa Branca, presa ao distribuir panfletos na Universidade de Munique, decapitada pelos nazistas poucos dias depois, em fevereiro de 1943. Tinha 22 anos.
Mulheres de Stalingrado, depois que o bombardeio nazista destruiu o abastecimento de água, procuram suprir-se nas fontes da cidade.
Entre os escombros da casa, destruída pelo bombardeio nazista.
Uma menina e seu gato entre os escombros.
Lepa Svetozara Radic, guerrilheira sérvia, capturada pelos alemães após a batalha do Neretva, quando transportava feridos. Barbaramente torturada, recusou-se a entregar seus companheiros: “Não sou uma traidora do meu povo. Vocês saberão quem são eles quando vingarem a minha morte”. Foi enforcada. Tinha 17 anos.
Invasão da URSS: executada pelos nazistas
Esta foto, publicada na revista Life, foi a menos chocante que encontramos sobre o massacre de Nanquim, em que 300 mil civis foram assassinados, em meio a sevícias atrozes, pelas tropas japonesas. A descrição da revista, sobre a mulher morta no chão, foi a seguinte: “Depois de ter sido despida e estuprada por um ou mais homens, enfiaram uma baioneta em seu peito e uma garrafa em sua vagina. Toda a família, inclusivre o bebê de um ano, foi massacrada“. O missionário norte-americano John Magee, que estava em Nanquim durante o massacre (provavelmente o autor da foto), fez uma descrição pouco diferente: “em 13 de dezembro de 1937 cerca de 30 soldados japoneses assassinaram todos, exceto dois, dos 11 chineses que moravam na casa número 5 de Xinlukou. Uma mulher e suas duas filhas adolescentes foram estupradas e soldados japoneses enfiaram uma garrafa e uma bengala em sua vagina. Uma menina de oito anos foi esfaqueada, mas ela e sua irmã mais nova sobreviveram. Elas foram encontradas vivas, duas semanas após os assassinatos, pela senhora da foto“. É ignorado o número de mulheres (incluindo crianças e idosas) que foram estupradas em Nanquim, durante as seis semanas do massacre. O Tribunal de Crimes de Guerra de Tóquio, estabelecido pelos norte-americanos após a rendição do Japão, estimou em 20 mil. Em seu livro “The Rape of Nanking: The Forgotten Holocaust of World War II”, Iris Chang mostra que existem evidências para muito além disso, possivelmente, 80 mil.
Cerca de 400 mil mulheres foram escravizadas sexualmente pelos militaristas nipônicos na Coreia, na China, nas Filipinas, na Indonésia e em outros países ocupados. Uma das sobreviventes, Lee Ok-seon, raptada aos 15 anos e tornada escrava sexual em uma “casa de conforto”, descreveu, em 2013, aos 88 anos, o que foi isso: “Era como um matadouro, mas não para animais e sim para humanos. Ali faziam coisas horríveis“. Ok-seon relatou que muitas preferiam a morte: “Umas se afogavam, outras enforcavam-se“. A escravidão sexual durante a II Guerra – e no caso da Coreia, bem antes – foi reconhecida como verdadeira pelo atual Estado japonês. Mas, segundo disse um político, o governador de Osaka, Toru Hashimoto, em 2013, durante uma entrevista coletiva, “essas casas eram necessárias para manter a disciplina dos soldados“.
A repressão nos territórios ocupados
Vera Voloshina, combatente soviética torturada e assassinada pelos nazistas em 29 de novembro de 1941. Tinha 22 anos.
Zoya Kosmodemyanskaya, integrante da mesma unidade que Vera Voloshina – e sua amiga. Quando lutava atrás das linhas alemãs, no dia 28 de novembro de 1941, foi presa, torturada e assassinada pelos nazistas, que tentaram humilhá-la diante da população do território ocupado. O crime foi perpetrado por membros da Wehrmacht – o exército alemão, não pelas SS ou a Gestapo. Zoya, até o fim, disse chamar-se Tanya. Depois de espancada brutalmente, foi colocada no gelo – era inverno – quase despida e suas pernas congelaram. Às 10h30min do dia 29, Zoya foi levada em direção à forca com uma placa no pescoço em alemão e russo: “Incendiária de casas”. Uma testemunha descreveu os momentos finais do crime: Ao redor da forca havia muitos alemães e civis. Eles a levaram à forca, mandaram abrir o círculo ao redor da forca e começaram a fotografá-la. Ela gritou: “Cidadãos! Você, que não levanta os olhos, precisa ajudar a lutar. Essa minha morte é minha conquista”. Depois disso, um oficial acenou, enquanto outros gritaram com ela. Então, ela disse: “Camaradas, a vitória será nossa. Soldados alemães, antes que seja tarde demais, rendam-se!” O oficial alemão gritou violentamente. Mas ela continuou: “Rússia! A União Soviética é invencível e não será derrotada”, disse no momento em que estava sendo fotografada. Um alemão se aproximou e começou a colocar o laço. Naquele momento, ela gritou:“Não importa quantos de nós sejam enforcados, nós somos mais, somos 170 milhões. Nossos camaradas me vingarão!”. Isso ela já disse com um laço no pescoço. Ela queria dizer mais alguma coisa, mas naquele momento a caixa foi removida debaixo de seus pés e ela ficou pendurada. Segurou a corda com a mão, mas o alemão apertou as mãos dela.” Zoya tinha 18 anos.
Ao saber do suplício de Zoya, Stalin emitiu uma ordem: “Não fazer prisioneiros na 197ª divisão alemã”. Era a unidade a que pertenciam os carrascos.

Destruindo o mal

A invasão da União Soviética pela Alemanha nazista foi o mais criminoso e o maior banho de sangue da História, é justo dizer, o maior genocídio: 15% da população da URSS morreu na guerra, cerca de 27 milhões de soviéticos (recentemente, um último levantamento, realizado por historiadores ocidentais, elevou esse número para 28 milhões e 400 mil seres humanos, mas, aqui, mantivemos o número do levantamento soviético realizado na segunda metade da década de 80 do século passado).

Entretanto, ali o nazismo foi derrotado.

Abaixo, como de resto no conjunto desta página, as soviéticas têm mais presença do que suas companheiras de outros países. Mas isso é apenas uma contingência da História – um dever para com a verdade.

Em nenhum outro país a participação feminina foi tão intensa na guerra. Duzentas mil mulheres foram condecoradas durante a guerra – e 89 receberam o título de Heroína da União Soviética.

Portanto, a presença das mulheres soviéticas nas fotos abaixo é apenas um reflexo da realidade, que, se tem algum problema, consiste em sua sub-representação.

Durante a II Guerra Mundial, a Escola Central Feminina de Treinamento de Atiradoras do Exército Vermelho formou 1061 atiradoras e 407 treinadoras de atiradores. As atiradoras formadas pela escola abateram 11.280 soldados e oficiais inimigos.
Atiradoras soviéticas
Na Bielorrússia, a camponesa Anastasia Petrovna Shish se despede de seu filho, comandante de um destacamento guerrilheiro
Cerco de Leningrado
Esforço de guerra nos EUA
Comandante de pelotão de metralhadora A. Kochneva
Em primeiro plano, a atiradora Lyuba Makarova, Frente de Kalinin, 1943
“O fascismo é o pior inimigo das mulheres! Levanta-te e luta contra ele!”
Atiradoras do Terceiro Exército de Choque Soviético, maio de 1945
Esforço de guerra nos EUA: as mulheres substituem os homens nas fábricas
“As mulheres estão dispostas a dirigir tratores no lugar dos homens que lutam contra o fascismo”
Em Pearl Harbor
Dirigindo a moto, uma integrante do Exército Vermelho; na garupa, uma integrante do contingente polonês que lutou na Frente Oriental.
Guerrilheiras italianas
Guerrilheiras chinesas
No Exército Vermelho, 1944
Pelas leis soviéticas, a idade mínima para o serviço militar – tanto para os homens quanto para as mulheres – era 18 anos. Mas quando a guerra é de todo um povo contra um ocupante, não são apenas aqueles em idade legal que pegam em armas. Porque não se trata de serviço militar, mas de defesa da Nação.
Guerrilheiras soviéticas
Guerrilheira grega
Guerrilheiras italianas em um momento de descanso
Guerrilheira norueguesa
A Resistência na Dinamarca
A guerrilha na Crimeia
Guerrilheira soviética, 1942
Guerrilheira iugoslava
Milja Marin, guerrilheira iugoslava, inverno de 1943, norte da Bósnia (foto: Žorž Skrigin)
Guerrilheira soviética, início de 1942
Integrante do Corpo Feminino do Exército dos EUA durante a II Guerra
41% do corpo médico do Exército Vermelho era composto por mulheres; entre os cirurgiões, 43% eram mulheres.
Longa vida aos camaradas de armas
Enfermeiras durante a Batalha de Stalingrado
As enfermeiras no front
Juramento
Na manhã do domingo 7 de dezembro de 1941, Cornelia Fort, instrutora de voo civil em Pearl Harbor, pilotava um monomotor Interstate Cadet, com um aluno, quando seu olhar foi atraído por um outro avião, que mergulhava: “Ele passou tão perto de nós que nossas janelas de celuloide chocalharam violentamente e eu olhei para baixo, para ver que tipo de avião era. As bolas vermelhas pintadas em cima das asas brilhavam ao sol. Eu olhei novamente, com total e absoluta descrença. Honolulu estava familiarizada com o emblema do Sol Nascente em navios de passageiros, mas não em aviões. Então eu olhei para o alto e vi as formações de bombardeiros prateados. Algo se desprendeu de um avião e desceu brilhando. Meus olhos seguiram para baixo, para baixo, e mesmo com o conhecimento pulsando em minha mente, meu coração girou convulsivamente quando a bomba explodiu no meio do porto. Eu sabia que o ar não era o lugar para o meu pequeno aviãozinho e comecei a aterrissar o mais rápido possível. Alguns segundos depois, uma sombra passou por mim e simultaneamente balas espirraram ao meu redor“. Cornelia foi a primeira piloto norte-americana a constatar que os japoneses estavam atacando Pearl Harbor. Conseguiu aterrissar, mas ninguém acreditou no seu grito: “Os japoneses estão atacando!”. Até que, segundos depois, o inferno chegou. Depois disso, Cornelia tornou-se piloto do Women’s Auxiliary Ferrying Squadron (WAFS), depois, Women Airforce Service Pilots (WASP). Faleceu em março de 1943. Outra piloto, Adela Scharr, rememorou esse último voo de Cornelia Fort: “Alguns dos pilotos [era um voo de seis aviõesde Long Beach, na California, até Dallas, no Texas] começaram a provocá-la e começaram a fingir que eram pilotos de caça. Era um jogo fácil para eles, pois ela nunca tivera nenhum treinamento evasivo em manobras militares. Quando chegaram ao Texas, alguns homens ficaram ousados ​​demais e estavam voando perto demais. Uma piada se tornou assédio“. O avião de um desses pilotos colidiu com a asa do avião de Cornelia, destruindo-a – e matando a piloto. Tinha 24 anos.

Morte ao invasor!

Na linha de frente, no Exército Vermelho
Lyudmila Pavlichenko – 309 nazistas abatidos, entre os quais 36 atiradores.
Lyudmila Pavlichenko
Rosa Shanina – 59 nazistas abatidos, inclusive 12 atiradores.
Rosa Shanina
Esta é a última foto de Rosa Shanina, tirada em 1º de janeiro de 1945 – 28 dias depois, ela foi morta em ação. Tinha 22 anos.
Maria Limanskaya, atiradora do Exército Vermelho
A comandante Yevdokia Zavaliy foi a única mulher do corpo de fuzileiros navais da Marinha Vermelha. Depois de ver a sua aldeia destruída pela aviação nazista, incorporou-se às forças armadas com 16 anos, declarando que tinha 18. Foi condecorada 40 vezes por bravura, durante a guerra. Os soldados alemães a apelidaram de “Frau Morte Negra” (o uniforme dos fuzileiros era negro).
Esta é Yevdokia Zavaliy aos 85 anos. Apesar de ferida quatro vezes, com gravidade, durante a guerra, depois desta voltou à vida civil, casou e tornou-se administradora de um mercado em Kiev. Mas sempre reverenciada por seus atos heroicos.
Nancy Wake, apesar de neozelandesa, vivia na França quando a guerra estourou, pois era casada com um milionário francês, Henri Edmond Fiocca (posteriormente preso, torturado e assassinado pela Gestapo, por se recusar a dar informações sobre o paradeiro da esposa). Nancy somou-se à Resistência Francesa, tornando-se a pessoa com maior recompensa por sua cabeça, estabelecida pelos nazistas (5 milhões de francos). Depois de escapar da Gestapo, fugindo para Londres, ela voltou, de paraquedas, ao território francês, onde coordenou o “maquis” – a guerrilha rural. Nancy faleceu em 2011, aos 98 anos.
Anna Zakrzewska, da Resistência Polonesa. Cercada pelos nazistas, tombou em combate no Levante de Varsóvia, aos 18 anos, em 11 de agosto de 1944.
Shirley Slade. piloto da Força Aérea dos EUA, no Texas, em 19 de julho de 1943 (foto: Peter Stackpole/Life).
Alexandra Samusenko foi comandante de T-34, o tanque mais importante do Exército Vermelho na II Guerra. Foi condecorada com a Ordem da Estrela Vermelha pela destruição, na Batalha de Kursk, de três tanques “Tigre” (a última linha dos nazistas, com os quais Hitler, depois de Stalingrado, pretendia virar a guerra a seu favor). Nesta batalha (julho/agosto de 1943), quando o comandante do batalhão teve seu tanque (e sua vida) destruído em uma emboscada alemã, a vice-comandante, Alexandra Samusenko, assumiu e rompeu o cerco. Em 1945, lutando já em território alemão, Alexandra tombou a 70 km de Berlim, na aldeia de Zülzefirz, poucas semanas antes da rendição alemã. Tinha 23 anos.
Anna Maslovskaya – mesmo numa guerra em que, nas palavras de um personagem de Polevoi, quase “só se conhecem heróis”, o que Anna fez é impressionante. Membro da Juventude Comunista, voluntária do Exército Vermelho, passou a atuar na clandestinidade na Bielorrússia, após a ocupação. Trabalhou em uma confecção que reformava uniformes para os SS. Desse modo, soube dos planos de “limpeza étnica”. Centenas de judeus, que os nazistas já haviam confinado em um gueto, escaparam através de um túnel, cavado pela Resistência, graças a Anna, e foram para as florestas. Ao mesmo tempo, ela dedicou-se a ganhar membros do “exército russo livre”, que os nazistas haviam formado, para a Resistência. E foi bem sucedida. Nas palavras de um autor bielorrusso: “Havia criminosos inveterados. Mas a maioria era de meninos da aldeia e ex-prisioneiros de guerra, a quem os invasores haviam ameaçado e enganado a usar um uniforme odiado. Sentindo o humor de várias pessoas, Anya começou a falar sobre a verdadeira situação na frente, voltada para a consciência dos interlocutores“. Ela organizou um destacamento guerrilheiro inteiro com essa base, inclusive com um chefe de guarnição do exército fantoche, que forneceu armas para o ataque aos SS. “Maslovskaya“, relatou Pyotr Kalinin, comandante geral da guerrilha na Bielorrússia, “realizou um trabalho imenso para desagregá-las [as tropas fantoches]. Em maio de 1943, eles levantaram uma revolta armada, os comandos do batalhão da SS (23 pessoas) foram mortos e Maslovskaya levou 90 homens com armas para a guerrilha“. Porém, após o abate do general nazista que comandava a guarnição de Postavy, a vida clandestina, para Anna, se tornou insustentável. Foi, então, para as florestas, onde estavam os guerrilheiros. Lá, comandou, entre outros, o ataque à guarnição de Polesie. Após a guerra, resolveu empreender um outro projeto: adotou 15 crianças cujos pais haviam morrido na guerra. Heroína da URSS, Anna faleceu aos 60 anos, em Moscou (todas as informações são do Arquivo Nacional da Bielo-Rússia – onde, aliás, há muito mais sobre Anna Maslovskaya).
Aliya Moldagulova – Aliya era kazak. Nas palavras de uma de suas colegas: “Em agosto de 1943, uma atiradora de elite, Aliya Moldagulova, chegou à nossa brigada. Uma menina frágil e muito bonita do Cazaquistão. Ela tinha apenas 18 anos, mas, em outubro, ela somava 32 nazistas abatidos“. Em 14 de janeiro de 1944, Aliya tombou em combate. O comissário político da unidade de Aliya relatou seus últimos atos: “No início de janeiro, marchamos para Novosokolniki. Tendo rompido as defesas do inimigo, nossa brigada avançou para o norte da cidade. Fomos à linha férrea, na estação Nasva. O inimigo respondeu com fogo pesado. À noite, chegamos à posição de partida para o ataque. A ofensiva começou ao amanhecer. O batalhão, junto com o qual os franco-atiradores marcharam, deveria cortar a ferrovia Novosokolniki-Bottom perto da estação de Nasva e capturar a vila de Kazachikha. A primeira linha de defesa foi quebrada com sucesso. Mas logo o inimigo lançou um fogo feroz e nossos soldados de infantaria se deitaram. O ataque fora sufocado. Nesse momento crítico, Aliya Moldagulova ficou de pé e gritou: ‘Irmãos, soldados, sigam-me!’. E ao chamado da garota, os combatentes se levantaram… A ofensiva de nossas tropas continuou“. Aliya recebeu, postumamente, o título de Heroína da União Soviética (v. o artigo de Galya Galkina, Дочь Ленинграда).
Anna Yegorova era piloto de um Ilyushin IL-2 Sturmovik – o melhor avião de ataque ao solo da II Guerra Mundial. Realizou 277 missões, até que seu avião foi derrubado, sobre a Polônia, em 22 de agosto de 1944. A artilheira do avião, Yevdokia Nazarkina, morreu na queda. Muito ferida, com queimaduras extensas, Anna foi feita prisioneira pelos nazistas e passou por um rosário de campos de concentração. Foi libertada em janeiro de 1945. Heroína da União Soviética (tal como sua artilheira, Yevdokia Nazarkina), condecorada 22 vezes por bravura, Anna casou-se, após a guerra, com seu comandante, o coronel Vyacheslav Timofeev, teve dois filhos e escreveu sua memórias. Faleceu em 2009, aos 93 anos.
Antonina Lebedeva foi piloto durante os combates em Saratov, Stalingrado, Oryol e Kursk, sempre com excepcional coragem. Em 17 de julho de 1943, ela não voltou à base. Dada como desaparecida em ação, aos 27 anos, seus restos mortais somente foram encontrados em 1982.
Antonina Petrova era contadora do Konsomol (a Juventude Comunista) em Luga, região de Leningrado. Quando os nazistas atacaram, apresentou-se como voluntária. Foi designada como enfermeira para uma unidade que atuava atrás das linhas alemãs. Antonina pediu ao comandante para que tivesse atividade no combate direto aos invasores. Logo na primeira missão, ela se destacaria pela coragem e iniciativa. Incorporada às unidades guerrilheiras, ela fez parte de missões que destruíram seis pontes, quatro aviões, interromperam ferrovias e minaram os caminhos dos alemães. No dia 4 de novembro de 1941, o destacamento de Antonina, composto por 11 guerrilheiros, foi cercado pelos nazistas em um distrito de Luga. A última a morrer foi Antonina Petrova, que sustentou o fogo de metralhadora. Quando acabou a munição, ela detonou uma granada, matando os inimigos que se aproximaram. Recebeu postumamente o título de Heroína da União Soviética. Tinha 26 anos.
As atiradoras Catarina Golovakha (67 nazistas abatidos) e Nina Kovalenko (100 nazistas abatidos)
Sonya Galushkina, Valentina Polyanskaya e Antonina Mochalina, da 202ª Divisão de Artilharia Antiaérea
Yevdokia Motina (56 nazistas abatidos)
Katia Petliuk queria ser piloto de avião. Mas foi recusada, devido à altura, que mal ultrapassava um metro e meio. Tornou-se tanquista, Membro da tripulação de um T-60 (um tanque leve), que batizou de “Bebê” (“Gostei do T-60, só que era muito pequeno. ‘Nada’, tranquilizei-me, ‘pequeno, mas jovem. Vamos ser sinceros, meu amigo!’. Encontrei um pote de tinta branca e pintei ‘Bebê’ na torre. Os tanquistas brincaram: ‘Olha, outras torres têm nomes: ‘Terrível’, ‘Águia’, ‘Horror’! E você tem ‘Bebê’, não é sério’. Bem, não era para eles…“), lutou em Stalingrado e esteve na rendição do marechal von Paulus. Depois, participou de uma série de batalhas, até a libertação de Kiev, em novembro de 1943, e, em fevereiro de 1944, nos combates em torno de Shepetivka. Condecorada 15 vezes por atos de bravura, ferida quatro vezes em ação, Katarina Petliuk, após a guerra, casou, teve um filho, formou-se em Direito, e teve uma longa trajetória pública. Faleceu em 1998, aos 79 anos, em Odessa.
Klavdiya Kalugina tinha 15 anos quando os nazistas invadiram a URSS. Membro do Konsomol, aos 17 anos ela tornou-se a mais jovem aluna da Escola de Atiradoras. Abateu 28 nazistas.
Lida Parpontov, guerrilheira,. 17 anos.
Maria Koshkina abateu 85 ocupantes fascistas. Entretanto, seu maior ódio aos nazistas era porque a tinham forçado a “matar pessoas”. Sua ojeriza a matar chegava ao ponto de não usar, jamais, suas condecorações, porque “as recebeu por matar pessoas”. Mas ela o fez para defender seu povo, seu país, sua família. E não se arrependia disso.
Marytė Melnikaitė, Heroína da União Soviética, foi uma guerrilheira lituana e dirigente do Konsomol da Lituânia. A 8 de julho de 1943, o grupo de Marytė, atuando na Bielorrússia, foi cercado pelos nazistas. Marytė foi ferida, capturada e torturada, mas se recusou a dar informações sobre os guerrilheiros. Morreu a 13 de julho de 1943, em meio a sevícias. Tinha 20 anos.
Olga Bordashevskaya (108 nazistas abatidos)
Maria Shcherbachenko – ucraniana, Maria entrou no Exército Vermelho em março de 1943, como enfermeira. Entretanto, as contingências fizeram-na pegar em armas. Na noite de 24 de setembro de 1943, Maria e sua unidade atravessaram o Dniepr, no distrito de Kagarlyksky, na região de Kiev. Em 10 dias, ela retirou 112 feridos do campo de batalha, prestou os primeiros socorros e transportou-os até o hospital de campanha. Um mês depois, ela recebeu o título de Heroína da União Soviética. Após a guerra, Maria se formou em Direito na Faculdade de Tashkent, Uzbequistão. Posteriormente, mudou-se para Kiev.
Esta é Nastya, guerrilheira bielorrussa, em 1943. O sorriso é justificado: a arma em suas mãos é uma submetralhadora alemã MP38, capturada dos nazistas.
Nina Petrova, apelidada de “Mamãe Nina”, tinha 48 anos quando os nazistas invadiram a URSS. Não era obrigada, nessa idade, a ir para a frente. Mas foi voluntária, formou-se na Escola Central Feminina de Treinamento de Atiradoras do Exército Vermelho. Abateu 122 soldados inimigos. Morreu em um acidente de carro, sete dias antes da rendição alemã, em 1945.
Yelizaveta Mironova era oficial da Marinha Vermelha, o que, por si só, era um prodígio: a Marinha sempre foi especialmente resistente à participação de mulheres em seu efetivo. Yelizaveta abateu, com certeza, 34 nazistas, embora, provavelmente, mais. Na noite de 9 para 10 de setembro de 1943, durante o desembarque de Novorossiysk, Yelizaveta foi ferida gravemente. Faleceu em 26 de setembro. Tinha 19 anos.
Alexandra Vinogradova (83 nazistas abatidos) e Nina Belobrova (70 nazistas abatidos), atiradoras do Terceiro Exército de Choque, em 4 de maio de 1945.
Uma pausa no front
Repouso no front

Combatendo nos céus

Os aviões, sua pilotagem e navegabilidade, eram, com razão, consideradas as armas mais complexas, as que mais exigiam de quem estivesse em seu comando, na II Guerra Mundial. Isso fez com que a resistência a permitir que mulheres entrassem em combate aéreo fosse especialmente grande. Uma piloto russa descreveu, depois da II Guerra, em suas memórias, como foram as suas primeiras tentativas de entrar para a Força Aérea do Exército Vermelho. Em uma delas, o oficial do alistamento militar disse algo equivalente a “minha filha, o que você pode fazer de melhor nesta guerra é ir para casa e cuidar da sua mãe”.

Entretanto, em alguns países, especialmente na URSS, as mulheres, antes da guerra, já haviam se destacado na aviação – mas não eram, evidentemente, muitas.

A mais famosa era Marina Raskova, que, com sua tripulação, estabelecera quatro recordes mundiais de aviação em 1937 e 1938 – e recebera, já em 1938, o título de Heroína da União Soviética.

Foi dela que, logo após a invasão nazista, em junho de 1941, partiu a iniciativa de reivindicar que as mulheres também fossem ao combate contra os nazistas para limpar os céus da União Soviética.

Em outubro de 1941, o Comandante Supremo, Stalin, emitiu a Ordem nº 0099, estabelecendo três regimentos aéreos femininos: o 586º Regimento de Caças, que operava aviões Yak-1; o 587º Regimento de Bombardeiros (aviões Pe-2); e o 588º Regimento de Bombardeiros Noturnos (aviões Po-2), que ficou conhecido como “as Bruxas da Noite”.

O primeiro foi liderado pelas comandantes Yevgenia Prokhorova e Tamara Kazarinova.

O segundo era comandado pela própria Marina Raskova, que também era comandante do 122º Grupo Aéreo, formado pelos três regimentos femininos.

E o terceiro, as “Bruxas da Noite”, pela comandante Yevdokia Bershanskaya.

Era necessário treinar mulheres para o combate aéreo – em 15 de outubro de 1941, o 122º Grupo Aéreo foi deslocado para Engels, uma cidade às margens do Volga onde ficava a Escola de Aviação para Pilotos da Força Aérea do Exército Vermelho.

Elas aprenderam rápido.

Abaixo, além das aviadoras soviéticas, mostramos, também, algumas de outros países. Que elas não tenham, ao contrário das soviéticas, conseguido fazer tudo o que podiam – e queriam -, não é um problema delas.

Marina Raskova, que teve a iniciativa de reivindicar a formação de regimentos femininos de aviação de combate contra os nazistas. Comandante do 122º Grupo Aéreo e do 587º Regimento de Bombardeiros, depois rebatizado como 125º Regimento da Guarda de Aviação de Bombardeiros de Mergulho Marina Raskova. O título “da Guarda” era concedido às unidades que se destacavam excepcionalmente no combate. O Regimento recebeu o nome de Marina Raskova depois de sua morte, a 4 de janeiro de 1943, quando sobrevoava o rio Volga em meio a um nevoeiro intenso. Suas cinzas foram colocadas, junto aos heróis da Revolução Russa, na muralha do Kremlin. Tinha 31 anos.
Polina Osipenko, Valentina Grizodubova e Marina Raskova, em 1938, com o Tupolev ANT-37 “Pátria”, em que estabeleceram o recorde mundial de distância para aviação feminina (5.900 km em 26 horas e 29 minutos)
Lydia Litvyak, apelidada “Lilia”, não tinha completado 22 anos quando desapareceu em ação, durante a Batalha de Kursk, a 1º de agosto de 1943. Seus restos mortais somente foram encontrados 30 anos depois. Derrubou, individualmente, 12 aviões alemães (mais 4 em grupo). Pertenceu ao 586º Regimento de Caças. Em Stalingrado, os pilotos alemães chamaram-na “A Rosa Branca de Stalingrado”.
As pilotos dos EUA, na II Guerra Mundial, foram enquadradas no Women Airforce Service Pilots (WASPs). Eram cerca de 1000 mulheres. Faziam missões de transporte (inclusive transporte de caças e bombardeiros) e treinavam os homens para pilotar bombardeiros. Não podiam entrar em combate. Mesmo assim, 34 delas morreram em ação.
Pilotos dos EUA
Aeródromo do 46º Regimento Taman de Aviação da Guarda de Bombardeiros Noturnos (antes, 588º Regimento), as “Bruxas da Noite” – o apelido foi dado pelos alemães, horrorizados ou perplexos com a destreza dessas pilotos soviéticas.
Major Yevdokia Nikulina, comandante de esquadrilha (600 missões, Heroína da União Soviética)
A comandante do 588º Regimento, Yevdokia Bershanskaya, e as tripulantes Yevdokia Nosal e Nina Ulyanenko, em 1942
A técnica Antonina Vakhromeeva, a navegadora Polina Gelman e a piloto Yevdokia Nosal, no verão de 1942.
A comandante das “Bruxas da Noite”, Yevdokia Bershanskaya (à esquerda), a navegadora e chefe de comunicações do regimento, Polina Gelman, e, em pé, a comandante de esquadrilha Maria Smirnova. Todas três, Heroínas da União Soviética pela coragem em ação e dedicação em missões de comando.
Nancy Nesbit, em voo de treinamento, comunica-se com a torre de controle do Exército em Campo Avenger no Texas, EUA.
A subcomandante das “Bruxas da Noite”, Antonina Khudyakova, também Heroína da União Soviética, em 1943.
O aeródromo do 588º Regimento de Bombardeiros Noturnos, as “Bruxas da Noite”, em 1942. Progressivamente, as demais tarefas – sobretudo mecânicas – do regimento, passaram a ser efetuadas também por mulheres.
A comandante Yevdokia Bershanskaya com a navegadora senior do regimento, Larissa Rozanova.
Yekaterina Ryabova, Heroína da União Soviética, com um bombardeiro Po-2, em maio de 1945.
Maureen Dunlop, nascida na Argentina, serviu na RAF durante a II Guerra, inclusive pilotando Spitfires, Lancasters e Hurricanes na Inglaterra, embora não em situação de combate real.
Maria Dolina foi comandante de esquadrilha no 587º Regimento de Bombardeiros, liderado por Marina Raskova, e, depois, vice-comandante do regimento, rebatizado como 125º Regimento da Guarda de Aviação de Bombardeiros de Mergulho Marina Raskova. Lutou nas Batalhas de Stalingrado, Kursk, na libertação da Bielorrússia e no Bolsão da Curlândia. Condecorada várias vezes por bravura, Heroína da União Soviética, desfilou na Parada da Vitória, em 1945.
Phyliss Jarman, piloto do Esquadrão Feminino Auxiliar, no Texas, EUA
Natalya Meklin cumpriu 980 missões de bombardeio noturno, como piloto, durante a guerra. Condecorada 24 vezes por destemor durante o combate. Recebeu o título de Heroína da União Soviética em fevereiro de 1945. Depois da guerra, formou-se em filologia, casou e tornou-se escritora. Faleceu em 2005, aos 83 anos.
A comandante Bershanskaya com as tripulantes Marina Chechneva (980 missões noturnas, Heroína da URSS) e Tatyana Sumarokova (725 missões noturnas, Heroína da Rússia).
As comandantes (da esquerda para a direita) Maria Tipikina, Yevdokia Nikulina, Nina Reutskaya, Natalia Meklin, Lidia Tselovalnikova, em 1944.
As mecânicas Katya Titova, Alla Kazantseva e Tanya Korobeynikova
Mecânicas de aeronave Dusya Korotchenko e Shura Popov, em 1942.
Rufina Gasheva (848 missões noturnas, Heroína da URSS)
Esta é a capitã Yevdokia Pasko, nascida no Quirguistão e uma das lendas mais verdadeiras da II Guerra Mundial. Seu registro militar: 790 missões de bombardeio noturno; 10 missões especiais; tempo de voo: 1.220 horas. Mais de 100 toneladas de bombas sobre as posições inimigas, com a destruição confirmada de quatro depósitos de combustível, três depósitos de munição, três holofotes, duas pontes, 11 carros de combate, uma aeronave no solo; 157 explosões fortes, 109 incêndios; 2 milhões de panfletos lançados atrás das linhas inimigas. Condecorada 24 vezes, recebeu o título de Heroína da União Soviética. Após a guerra, casou-se e tornou-se matemática. Faleceu em 2017, aos 98 anos.
Raissa Aronova (Heroína da URSS, 914 missões de bombardeio noturno), na frente de um Po-2 com camuflagem.
Nadezhda (Nadia) Popova (825 missões de bombardeio noturno, Heroína da URSS). Fascinada desde muito jovem pela aviação, tornou-se piloto de bombardeiro depois que seu irmão foi morto – aliás, heroicamente – na guerra.
Maria Smirnova
As “Bruxas da Noite”

(Para Sandra, Lulu e Maria, por ordem de chegada, um presente de Natal)

Fonte: Hora do Povo

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