Para o Inferno com os Bolsonaros!

Inspirado no apelo dos pastores, eu passei a tarde da quarta-feira, 25 de março, escolhendo um lugar no Inferno para o Bozo e seus filhotes. Uai, alguém precisa punir esses filhos da Peste com o Desespero! Foi a melhor maneira que eu encontrei para comemorar o Dia de Dante (Dantedì), instituído recentemente pelo governo italiano.

Um total de 88 contas, páginas e grupos eram ligados a funcionários de Jair Bolsonaro, filhos e aliados

A excelente colunista do Valor Econômico, Maria Cristina Fernandes, noticiou na quinta-feira, 26/3, que o presidente Jair Bolsonaro poderá ser obrigado a renunciar ao cargo depois “de convencer os recalcitrantes de que hoje é um empecilho para a batalha pela saúde da nação”. A peça desse “convencimento” foi o seu discurso de negação da pandemia da Covid-19 pronunciado em cadeia de rádio e televisão na última terça, 24. 

Maria Cristina informou que a renúncia implica, como moeda de troca, a “anistia a toda a tabuada: 01, 02 e 03”, isto é, o Flávio Laranjinha, o Carluxo e o Eduardo Bananinha. A questão é como viabilizar uma anistia preventiva, tendo em conta que nenhum deles foi ainda condenado pelos crimes perpetrados.

Na quinta-feira, 26/3, Bolsonaro continuou a campanha de negação. Disse que “o brasileiro cai no esgoto e não acontece nada”, como se tivesse o corpo fechado. E continuou a insuflar a matilha para voltar ao trabalho, sem oferecer qualquer condição para que isso ocorra. Mais uma vez ele dobrou a aposta na queda de braço com os governadores, o Congresso e a lógica do coronavírus. Por tudo isso foi chamado pela revista britânica The Economist de BolsoNero. 

Nas últimas semanas, os observadores da política têm tentado levantar os crimes de responsabilidade que Bolsonaro teria cometido durante a pandemia, nos termos da Lei 1.079, de 10 de abril de 1950, recepcionada pela Constituição de 1988. Alguns jornalistas já elencaram mais de dez tipos de crimes, entre eles o atentado à segurança interna do País (inciso IV do art. 4º da Lei 1.079), consumado quando Bolsonaro convocou aglomerações públicas em todo o País, contrariando as determinações dos ministérios da Saúde e da Justiça.

Convicção

Ainda não há prova provada, mas eu tenho a forte convicção de que foi o próprio Bolsonaro quem trouxe o novo coronavírus para Brasília, depois de contraí-lo do presidente Donald Trump durante o banquete em Mar-a-Lago, Miami, no dia 7 de março. O Bozo parece ser um super-vetor do coronavírus!

Ele tentou fugir dessa provável responsabilidade de duas maneiras. Em primeiro lugar, escondendo o laudo do teste que fez duas ou três vezes no Hospital das Forças Armadas (HFA). O teste, que deve ter dado positivo e operante, seria a prova definitiva de sua atitude criminosa.

Em segundo lugar, editando, no dia 23 de março, a Medida Provisória 928, que suspendeu os prazos das respostas solicitados por qualquer cidadão, com base na Lei de Acesso à Informação, de órgãos e entidades “cujos servidores estejam sujeitos a regime de quarentena, teletrabalho ou equivalentes”, obviamente para impedir o acesso ao laudo do HFA. A manobra sem-vergonha foi suspensa pelo ministro Alexandre de Moraes, mas parece que não surtiu efeito. O comandante logístico do Hospital das Forças Armadas, Rui Yutaka Matsuda, surrupiou a informação com respaldo numa estranha interpretação do “direito constitucional de proteção à intimidade, vida privada, honra e imagem do cidadão”.

Na quinta, 26, entretanto, surgiu mais um forte indício de que Bolsonaro é de fato um ativo espalhador do vírus. Seu segurança, capitão Ari Celso Rocha Lima de Barros, deu entrada no Hospital de Base de Brasília em estado grave, com diagnóstico de Covid-19. A sua mãe, dona Julmar, informou ao jornal Metrópoles que ele não acompanhou o presidente na viagem a Miami. Logo, é evidente que pegou a doença no contato com o seu chefe.

Prevaricação

Ainda na quinta, Bolsonaro continuou a prevaricar, assinando um decreto que autoriza o funcionamento, durante a pandemia, das casas lotéricas e templos religiosos, consideradas, ambas, “atividades essenciais”. No caso dos templos, ele atende à reivindicação dos pastores neopentecostais como Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, e Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, preocupados com a queda da arrecadação do dízimo e – aleluia! –,  interessados em mandar os seus fiéis o mais rápido possível ao encontro do Salvador.

Inspirado no apelo dos pastores, eu passei a tarde da quarta-feira, 25 de março, escolhendo um lugar no Inferno para o Bozo e seus filhotes. Uai, alguém precisa punir esses filhos da Peste com o Desespero! Foi a melhor maneira que eu encontrei para comemorar o Dia de Dante (Dantedì), instituído recentemente pelo governo italiano. Os estudiosos acham que foi no dia 25 de março de 1304, talvez, que o poeta iniciou a jornada infernal acompanhado do mestre Virgílio pelos domínios do Capeta.

Ao que tudo indica, o senso de Justiça de Dante Alighieri tem como fontes, entre outras, a Ética a Nicômaco, de Aristóteles, e uma leitura não ortodoxa da Suma Teológica de Tomás de Aquino. Dante levou em conta os graus de malícia, vício, incontinência, intemperança e bruteza dos personagens que condenou e mandou para os quintos do Inferno. Ou melhor, nonos, porque o seu Inferno é composto de nove Círculos.

Leviano, eu?

Diferentemente de Dante, eu preferi ser mais rápido e pragmático, sem gastar tempo com grandes considerandos jurídicos ou apreciações de natureza teológica. Por isso levei em conta as evidências mais notórias para enquadrar a família miliciana dos Bolsonaro. Espero que Lúcifer não me tome por leviano nem me compare com o ministro Sérgio Moro, que, aliás, desapareceu de Brasília nos últimos dias!

Eia pois, sus e avante!

E già la luna è sotto i nostri piedi:
lo tempo è poco omai che n’è concesso,
e altro è da veder che tu non vedi.

Já sob os nossos pés está a lua:
é curto o tempo que nos concederam,
e há muito mais a ver à vista nua.

(Canto XXIX, 10, 11, 12)

Me desculpem aí a pobreza da minha tradução dos versos dantescos e anotem o meu veredito, que é o seguinte:

01) O senador Flávio Laranjinha será encaminhado para o quinto fosso do Oitavo Círculo, onde estão presos os corruptos das rachadinhas e de outros malfeitos, afundados em piche fervente e cercados por demônios com nomes engraçados: Malacoda (Raborruim), Calcabrina (Pisagraça), Cagnazzo (Grossocão), Barbariccia (Barbadura), Alichino, Draghignazzo (Dragorriso), Graffiacane (Esfolacão), Libicocco, Ciriatto (Porcapeta), Farfarello, Rubicante (Vermerrábio) e Scarmiglione (Desgrenhado).

Esses diabos, sob as ordens de Malacoda, guiam Dante e Virgílio até a saída para a sexta fossa, onde ficam os hipócritas. Quase na saída, irritados com os poetas, começam a persegui-los, rangendo os dentes, o que assusta Dante. Virgílio o acalma:

Ed egli a me: «Non vo’ che tu paventi:
lasciali digrignar pur a lor senno,
ch’e’ fanno ciò per li lessi dolenti.»

Per l’argine sinistro volta dienno;
ma prima avea ciascun la lingua stretta
coi denti verso lor duca, per cenno;

ed egli avea del cul fatto trombetta.

E ele a mim: “Não fique assustado:
deixe-os chiar, à vontade rilhar, 
pois isso eles fazem pros desgraçados.”

Pela esquerda decidiram voltar;
mas antes um por um fez uma careta  
mordendo a língua pro chefe mostrar;

e ele tinha do cu feito trombeta.

(Canto XXI, 133-139)

A essa altura me lembrei do pum cultural da Regina Duarte, que também está pregando o fim do distanciamento social. Quem nasce pra ser secretária do Bozo  nunca chega a Beatriz, evidentemente…

02) O Carluxo será encerrado no décimo fosso do Oitavo Círculo, onde ficam encerrados os fraudadores e os mentirosos, em meio à loucura, peste, febre e sede eternas. Ali já se encontram, entre outros, a mulher de Putifar e o grego Sinon, que induziu os troianos, contando-lhes cavilosas fake news, a recolher o cavalo de madeira cheio de guerreiros gregos para dentro das muralhas de Troia.

L’una è la falsa che accusò Ioseppo;
l’altro è ’l falso Sinon greco da Troia:
per febbre aguta gittan tanto leppo.

Uma é a falsa que acusou José;
o outro é o grego Sinon de Troia:
têm febre aguda e fedor de chulé.

(Canto XXX, 97, 98, 99)

03) O Eduardo Bananinha eu vou despachar junto com o pai, o Jair Messias, para a Esfera de Antenora, a segunda do Nono Círculo do Inferno, onde são punidos os traidores da pátria e/ou de seu partido político, no caso, o PSL. É um lugar perfeito para os dois passarem a eternidade que nem um par de picolés, enterrados num lago congelado com apenas a cabeça de fora.

Quem se lembra do Jack Torrance (Jack Nicholson – na foto, abaixo) no final do filme “O Iluminado”, do Stanley Kubrick?  Então, é parecido!

Noi eravam partiti già da ello,
ch’io vidi due ghiacciati in una buca,
sì che l’un capo a l’altro era cappello.

E come ’l pan per fame si manduca,
così ’l sovran li denti a l’altro pose
là ’ve ’l cervel s’aggiunge con la nuca.

Já afastados nós de perto dele,
eu vi dois congelados num buraco,
a cabeça dum do outro era o cabelo.

Se com fome do pão se tira um naco,
um assim ferrou no outro os dentes
onde o cérebro se junta com a nuca.

(Canto XXXII, 124-129)

A cena acima relatada refere-se a dois personagens, Tideo, pai de Diomedes, herói grego na guerra de Troia, que foi ferido mortalmente pelo tebano Menalipo, tendo conseguido, no entanto, decepar a sua cabeça, que fez questão de roer e sugar antes de morrer.

Com tanto sangue de massa de tomate escorrendo, algum idiota pode me acusar de querer o mal para a família dos milicianos, a ponto de incluir a tortura. Nada mais estrambótico e ridículo! Nesta modesta cronicaguda esboço apenas uma sanção lítero-moral. A necessária e urgente interdição dos quatro elementos, com ou sem cassação, impeachment e prisão na Papuda, são outros quinhentos mirréis, que eu, sozinho, não tenho condições de promover.

Ora, pois, quem está dizendo “Io fei giubbetto a me de le mie case.” – “Fiz a minha forca das minhas casas” (Canto XIII, 151) é a própria famiglia Bolsonaro!

Fonte: Brasiliários

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