Bolsonarismo e pandemia levam 716 mil empresas a fecharam no Brasil
Apesar da crise sem precedentes, só 13% dos empresários acessaram socorro para pagar salários
Publicado 16/07/2020 11:54 | Editado 16/07/2020 12:50
Na primeira quinzena de junho, 1,3 milhão de empresas brasileiras estavam com atividades encerradas temporária ou definitivamente. Dentre elas, 716 mil não abrirão mais as portas, conforme informou nesta quinta-feira (16) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Embora a pandemia do novo coronavírus tenha acelerado a crise, tudo indica que a situação econômica do País – que vive uma recessão sob o governo Jair Bolsonaro – foi igualmente decisiva para implodir tantas empresas.
Os dados fazem parte da primeira edição da pesquisa “Pulso Empresa: Impacto da Covid-19 nas Empresas”, lançada pelo instituto na semana passada. Conforme o levantamento, um terço das empresas brasileiras demitiu e só 13% tiveram acesso ao auxílio federal para pagar empregados.
Entre as empresas que encerraram as atividades mesmo que temporariamente, apenas 40% disseram ter tomado a decisão por causa da pandemia de Covid-19. O número confirma que empresários e empreendedores já vinham enfrentando dificuldades com o quadro econômico antes da pandemia.
Segundo o IBGE, o impacto foi disseminado em todos os setores da economia, chegando a 40,9% entre as empresas do comércio, 39,4% dos serviços, 37,0% da construção e 35,1% da indústria. Entre as empresas que encerraram definitivamente suas atividades, 99,8% (ou 715,1 mil) eram de pequeno porte. Apenas 0,2% (1,2 mil) eram consideradas intermediárias e nenhuma era de grande porte, disse o instituto.
No grupo das 2,7 milhões de empresas que permaneceram em atividade, 70% relataram que a pandemia teve impacto geral negativo sobre os negócios. Para 13,6%, por outro lado, a pandemia trouxe oportunidades que resultaram em um efeito positivo sobre a empresa. No setor de serviços, 74,4% das empresas disseram ter sentido efeitos negativos, o maior índice entre os segmentos pesquisados. Na indústria, foram 72,9%, na construção 72,6% e no comércio, 65,3%.
“Os dados sinalizam que a Covid-19 impactou mais fortemente segmentos que, para a realização de suas atividades, não podem prescindir do contato pessoal, têm baixa produtividade e são intensivos em trabalho”, disse Alessandro Pinheiro, Coordenador de Pesquisas Estruturais e Especiais em Empresas do IBGE. São segmentos mais afetados pelas restrições à circulação de pessoas para tentar conter a pandemia.
Tais medidas começaram a ser adotadas na segunda quinzena de março, o que levou indicadores da atividade no comércio, serviços e indústria a tombos recordes no mês seguinte. As lojas voltaram a abrir na maior parte do País, incluindo Rio e São Paulo, mas o crescimento no número de casos vem levando governos a repensar o relaxamento das medidas de isolamento.
Para 63,7% das empresas ainda em atividade ouvidas pelo IBGE, houve dificuldades em realizar pagamentos de rotina em relação ao período anterior a pandemia. Percentual semelhante (63%) enfrentou dificuldades para fabricar seus produtos ou atender clientes. Cerca 60% das empresas mantiveram o número de funcionários na primeira quinzena de junho em relação ao início da pandemia. Entre as que reduziram o número de pessoal ocupado, 37,6% reportaram uma redução inferior a 25% do pessoal e 32,4% uma redução entre 26% e 50% do número de pessoal ocupado.
Segundo o IBGE, 12,7% das empresas relataram ter conseguido uma linha de crédito emergencial para realizar o pagamento da folha salarial dos funcionários. Outras 44,5% empresas afirmaram ter adiado o pagamento de impostos.
Com informações da Folha de S.Paulo