Criador do Plano Real defende investimento público contra recessão

“Até agora não houve uma única iniciativa, nem mesmo propostas, de políticas públicas para garantir uma recuperação sustentada”, afirmou André Lara Resende ao jornal Estado de S.Paulo.

O economista André Lara Resende, um dos criadores do Plano Real, criticou em entrevista publicada nesta quinta-feira (26) “o equilíbrio fiscal como o único objetivo da política econômica”. Ele disse à jornalista Adriana Fernandes, do Estado de S. Paulo, que o investimento público no momento é muito mais importante que a política de juros para a retomada econômica no pós-pandemia.

“Até agora não houve uma única iniciativa, nem mesmo propostas, de políticas públicas para garantir uma recuperação sustentada, uma vez superada a pandemia. Quando a pandemia parece recrudescer, volta-se a falar na necessidade de encerrar o auxílio em nome do equilíbrio fiscal. Mais uma demonstração clara de que o governo continua dominado por restrições ideológicas”, declarou.

Com relação ao crescimento da dívida pública, que deve atingir 100% do Produto Interno Bruto (PIB), Lara Resende disse que é uma “preocupação infundada”.

“Em várias ocasiões na história, sobretudo depois de guerras ou catástrofes, inúmeros países tiveram dívidas superiores ao PIB. Hoje, Japão, EUA, Itália, entre outros, têm dívida superior ao PIB. A dívida pública não pode ter uma trajetória explosiva, mas, desde que o seu crescimento acelerado seja transitório, que passada a crise, com as contas reequilibradas e restaurado o crescimento da economia, a relação entre dívida e PIB volte a cair, não há qualquer problema em ultrapassar os 100% do PIB”, afirmou.

O economista também chamou de “camisa de força” a obsessão pelo equilíbrio fiscal. “Antes de mais nada, é preciso superar a camisa de força imposta por um arcabouço analítico anacrônico e equivocado que impõe o equilíbrio fiscal como o único objetivo de política econômica. Dizem que com equilíbrio fiscal todos os nossos problemas estarão milagrosamente resolvidos. Sem ele, caminhamos a passos largos para o abismo. Nada mais falso”, afirmou.

Ele disse ainda que é necessário que volte a existir um projeto de país. “Precisamos urgentemente voltar a ter um projeto para o país, ter objetivos de políticas públicas que balizem os investimentos públicos e privados, que norteiem a transição para uma matriz energética limpa e não nos deixe perder o bonde da revolução digital em curso. Precisamos refletir sobre as políticas de emprego, saúde e educação neste novo mundo do século XXI”, disse.

Disse ainda que é “falso” dizer que o governo não tem recursos para investir e que os investimentos públicos não deveriam estar sujeitos ao teto de gastos, regra que limita o crescimento dos gastos públicos à inflação do ano anterior.

“Os investimentos públicos são muito mais importantes do que juro básico baixo tanto para atenuar os efeitos da recessão quanto para o desenvolvimento de longo prazo. É mais importante ter um órgão sério e competente, protegido das pressões políticas ilegítimas, para definir os investimentos públicos, do que um Banco Central independente”, defendeu.

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