Tratamento simples, eficaz e barato ajudaria tranquilizar contra Covid

Para o médico Jorge Kalil Filho, o novo coronavírus veio para ficar. Além da vacina de ampla cobertura, que pode não existir, um tratamento inicial precisa surgir.

© Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Jorge Kalil – Foto: Ramon Moser/UFRGS

Nesta segunda (14), a USP reuniu alguns de seus maiores especialistas nos vários aspectos envolvendo a imunização da população brasileira contra o coronavírus. O evento Vacinas e covid- 19: Uma visão multidisciplinar foi transmitido pelo Canal USP no YouTube para uma audiência que atinge, só neste primeiro dia, mais de 10 mil usuários. A maioria cheia de perguntas e atenta a um tema que neste momento interessa a qualquer pessoa: uma vacina que, se não der fim a esta pandemia, ao menos poderá inaugurar um capítulo menos trágico dela – são mais de 180 mil mortos pela doença até agora no País.

Na primeira sessão, Jorge Kalil Filho, professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), resgatou o histórico de mortes durante a pandemia, chamando a atenção para o cenário que voltou a ficar crítico na Europa e para o fato de que os Estados Unidos parecem ter “perdido absolutamente o controle da doença”, com números que chegam a mais de 3 mil mortes por dia.

No Brasil, observou que os casos que tinham crescido bastante, diminuíram, mas que agora temos uma tendência de subida novamente. “Sabemos que o Sars-Cov-2 veio para ficar. Enquanto a curva for ascendente o risco é muito alto, e quando for descendente é preciso muito cuidado para não haver um novo pico. Muitos não tomaram esses cuidados, frequentando bares, festas privadas – parece que para a nova geração a doença não existe. Os números subiram, hospitais e UTIs lotados, começando pelas classes A e B”, alertou.

Para que nós pudéssemos voltar à tranquilidade, diz ele, seria preciso haver ou um tratamento eficaz, simples e barato – o que nós não temos (há alguma perspectiva de estudos com anticorpos monoclonais, mas que seriam de alto custo); ou imunidade comunitária, com 80% a 90% das pessoas tendo sido infectadas (até se discutiu que seria menos, no começo da pandemia, mas voltou-se atrás); ou uma vacina com ampla cobertura, eficaz e disponível para os brasileiros.

E para se obter uma vacina, segundo Kalil, não há uma receita final definida, “idealmente é preciso conhecer sua resposta imune, ela não deve causar uma doença mais grave, com anticorpos que não neutralizam o vírus mas aumentam os sintomas; tem que induzir uma resposta imunológica longa; deve estar disponível com um custo acessível; e se adaptar à necessidade nacional caso haja alguma mutação no vírus que exija atualização da vacina”.

Durante sua exposição, Jorge Kalil também explicou como o novo coronavírus, que infecta humanos, surgiu a partir de mutações que o permitiram pular de uma espécie para outra, e esclareceu por que a proteína spike é o alvo das principais vacinas contra a covid, vacinas essas que que buscam induzir à chamada resposta imunológica adaptativa: além de anticorpos contra o vírus (imunidade humoral), estimulam células de defesa (imunidade celular) que reconhecem e destroem células infectadas.

Ele mencionou algumas abordagens das principais vacinas em desenvolvimento contra o coronavírus, e abordou também a importância das que estão sendo desenvolvidas no Brasil, mesmo que em estágio menos avançado, uma delas pelo seu grupo (Incor/HC/FMUSP) e outra pelo grupo de Ricardo Gazinelli (Fiocruz), no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Vacinas (INCTV).

Como questões para reflexão, o médico mencionou a necessidade de verificar eficácia em diferentes idades, minorias e grupos de risco; a importância do Brasil deter a tecnologia de produção; nossa capacidade de produção, distribuição e estocagem, considerando temperatura; a prioridade na ordem de vacinação dos diferentes grupos, e o efeito esperado – ele explicou que as vacinas atuais, até pela urgência, estão sendo feitas com objetivo de evitar doença, mas o ideal seriam vacinas cujo efeito fosse a esterilização, ou seja impedir também que a pessoa vacinada continuasse transmitindo o vírus, que pode circular no nariz e orofaringe e ser transmitido.

O evento foi organizado pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação, pelo Instituto de Estudos Avançados e pela Superintendência de Comunicação Social.

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