Jornal português destaca ataques do governo Bolsonaro à China

Diário de Notícias destacou a postura hostil do Brasil ante seu maior parceiro comercial e disse que o atual governo tem “histórico de ataques” ao país asiático.

Jair Bolsonaro - Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

As recentes declarações de Jair Bolsonaro contra a China na última semana repercutiram no exterior. Em matéria publicada neste domingo (9), o jornal português Diário de Notícias destacou que o Brasil assume uma posição hostil com seu maior parceiro comercial.

“Além da China ser o destino de quase 30% das exportações do Brasil, a produção de vacinas na Fundação Oswaldo Cruz, principal laboratório do Brasil, depende da importação de matérias primas da China – o laboratório pediu ajuda à área internacional do governo de Bolsonaro para desbloquear a aquisição desses insumos depois de o Escritório de Vacinas do Governo da China exigir uma manifestação do governo brasileiro nesse sentido”, ressalta a matéria.

O jornal destaca também que uma semana antes das declarações de Bolsonaro, que insinuou que o novo coronavírus teria sido fabricado em laboratório e que a China estaria lucrando com a pandemia, o ministro da Economia, Paulo Guedes, havia afirmado que “a China criou o vírus”.

As declarações de Guedes levaram a um telefonema de urgência do ministro das Relações Exteriores, Carlos França, ao embaixador chinês em Brasília, Yang Wanming, para resolver o mal-entendido, pontua o Diário de Notícias.

O jornal ainda deu destaque à reação “enérgica” do presidente da Frente Parlamentar Brasil-China, deputado Fausto Pinato (PP-SP), que propôs a interdição civil de Jair Bolsonaro diante das declarações.

Em suas falas, Bolsonaro evitou citar nominalmente a China, mas disse que se referia ao país cujo PIB mais cresceu. Em janeiro, o governo de Xi Jinping anunciou crescimento do PIB de 2,3% em 2020, um dos maiores do mundo, mas ainda assim o menor do país em 40 anos. Sobre a eventual criação do novo coronavírus em laboratório, a posição oficial da Organização Mundial de Saúde é que é “extremamente improvável”, ressaltou o jornal.

Histórico de ataques

O Diário de Notícias disse ainda que o governo Bolsonaro tem um “histórico de ataques” ao país asiático, citando episódios com o filho do presidente, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e com os ex-ministros da Educação, Abraham Weintraub, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

Eduardo Bolsonaro comparou a pandemia ao desastre de Chernobyl, documentado em série de TV. “Quem assistiu Chernobyl vai entender o que ocorreu. Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. Mais uma vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas que salvaria inúmeras vidas. A culpa é da China [pela crise da Covid-19] e liberdade seria a solução”, escreveu no Twitter o terceiro filho do presidente.

O jornal diz que Weintraub, por sua vez, “usou a personagem de livros infantis brasileiros Cebolinha, que troca os “rr” pelos “ll”, como supostamente os cidadãos asiáticos, para outro ataque” e que Ernesto Araújo referiu-se ao coronavírus como “comunavírus”. O Diário destacou ainda que Araújo terá que se explicar na CPI da Covid devido ao fato de sua postura no ministério ter dificultado a compra de vacinas.

Não será comprada”

No entanto, de acordo com o jornal, “a maior fatia dos ataques à China partiu do próprio Bolsonaro, a propósito da aquisição, por decisão do governo de São Paulo, liderado pelo seu rival político João Doria (PSDB), da vacina chinesa Coronavac. Após ter afirmado que também compraria essa vacina, o então ministro da saúde Eduardo Pazuello acabou desautorizado pelo presidente da República em público”. A matéria pontua que, em 21 de outubro do ano passado, Bolsonaro escreveu “NÃO SERÁ COMPRADA” em letra maiúscula nas redes sociais, em referência à vacina da Sinovac.

O jornal diz que, 24 horas depois, o presidente da República reforçou a posição em entrevista à rádio Jovem Pan, dizendo que “a [vacina] da China nós não compraremos, é decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população (…) já existe um descrédito muito grande por parte da população, até porque, como muitos dizem, esse vírus teria nascido por lá”.

Devido à pressão da opinião pública, o governo Bolsonaro foi obrigado a voltar atrás e adquirir a Coronavac. A vacina chinesa, hoje, é responsável pela maior parte da imunização da população brasileira.

Autor