Após tiroteios, Terra Yanomami segue sob risco de novos conflitos

Áudios revelam ligação entre garimpo e facções criminosas e apontam para risco iminente de massacre; MPF alerta para conflitos armados dentro da TI Munduruku

Garimpo ilegal em Terra Indígena Yanomami | Foto: Chico Batata/Greenpeace

O tiroteio realizado por garimpeiros na manhã da última segunda-feira (10/05) deu início a momentos de tensão na Terra Indígena Yanomami (TIY), em Roraima, que se estenderam pela semana. Um dia após os ataques de garimpeiros contra indígenas da comunidade Palimiú, a equipe de agentes da Polícia Federal foi recebida a tiros no rio Uraricoera, uma das áreas mais afetadas pelo garimpo ilegal de ouro na região. Áudios divulgados em grupo de garimpeiros e entrevistas revelam ligação entre garimpos e facções criminosas, além de apontarem para um risco iminente de massacre na Terra Yanomami.

Com o objetivo de evitar novos ataques por parte de garimpeiros, o Ministério Público Federal (MPF) ingressou na Justiça com pedido de liminar para que a União envie, imediatamente, tropa policial e/ou militar para permanência ininterrupta, vinte e quatro horas por dia, na comunidade indígena Palimiú. Outro pedido de intervenção realizado na terça-feira (11) pelo MPF, em decorrência de uma série de ataques e ameaças, alerta que violência semelhante pode acontecer aos indígenas Munduruku contrários à mineração, no oeste do Pará.

A grave situação enfrentada pelos Yanomami se estende por décadas marcadas pela crescente invasão do território indígena seguida por violência, contaminação de rios e doenças levadas por garimpeiros, além da crescente crise da Covid-19 que se alastra exponencialmente pelo território no decorrer deste primeiro ano de pandemia. O cenário atual já era previsto e alertado constantemente por lideranças e associações indígenas. “A gente sofre muito com a invasão do garimpo desde os anos 1970 e 1980. Os garimpeiros nos mataram, inclusive crianças, como se fôssemos animais. Nossa população reduziu aproximadamente 22%. Há muito anos falamos com todas as autoridades, que já conhecem nossa realidade, já denunciamos até na ONU, mas até agora ninguém deu nenhuma resposta para nós”, afirmou o líder Yanomami Dário Vitório Kopenawa Yanomami em reunião do Conselho Nacional dos Direitos Humanos(CNDH), em 2020.

O atual governo segue ignorando as recomendações do MPF para a retirada de garimpeiros da TIY e avança com o desmonte progressivo da Fundação Nacional do Índio (Funai). As promessas do presidente Jair Bolsonaro de legalizar a atividade garimpeira incentivam ainda mais as invasões e espalham o perigo do contágio do novo coronavírus aos indígenas. Dados atualizados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) contabilizam mais de 54 mil casos de covid-19 mais de 10 mil óbitos entre 163 povos indígenas do país.

O descaso e a ausência do Estado Brasileiro na TI Yanomami foram representadas esta semana pela triste imagem de uma criança yanomami com as costelas expostas pela desnutrição e diagnosticada com malária e verminose. O aumento da malária e da desnutrição infantil crônica, que atinge 80% das crianças de até 5 anos, podem ser agravadas pela retirada de profissionais de saúde do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y) diante da violência gerada pelos garimpeiros.

Fonte: Instituto Socioambiental (ISA)