29M: impeachment, vacina e pororoca

A luta do povo contra o genocídio começa a tomar todas as dimensões ocupando cada vez mais espaços e participando dos grandes embates até à vitória.

Protesto em Brasília contra o governo Jair Bolsonaro. Fotos: Ricardo Stuckert/Fotos Públicas

“Impeachment e Vacina Já!” são bandeiras que vão além de justos desejos, traduzem necessidades fundamentais e imediatas, as condições indispensáveis para estancar a sangria que assola o Brasil e garantir o direito à vida. Nelas repousam a esperança e a convicção mobilizadora que teceram com centenas de milhares de pessoas o 29 de Maio; o marco inaugural de um grande movimento do povo organizado, que decidiu enfrentar a letalidade da pandemia com determinação e os devidos cuidados, para derrotar a moléstia maior, o Promotor da Morte.

O 29M ocupou as ruas em sinal de boas novas com a força de sua diversidade, cheio de garra e a alegria daqueles que estão do lado certo da história. Diante dele, matizado de todas as cores e credos, animado com todos os ritmos e perspectivas, empalideceram-se os monótonos e anêmicos atos de pensamento único fascista eivados de preconceito e ódio. Sem ufanismo, o último sábado de maio não foi mais um movimento, representa os primeiros “roncos” de uma grande Pororoca que se avizinha com suas ondas arrastando os entulhos autoritários e alargando os cursos dos rios que desembocam na democracia.

A CPI do Genocídio, a exitosa pesquisa do Instituto Butantan, em Serrana/SP, e as contínuas atitudes negacionistas e cínicas do inimigo número 1 da Nação indicam, com visibilidade solar, a necessidade iminente do impedimento do mesmo. Qualquer veleidade contrária significa conivência. Existe uma realidade que segue seu curso com aproximadamente 500 mil mortes e 17 milhões de infectados; a terceira onda chegando com suas variantes mais agressivas e apenas 10,69% (22,4 milhões) de totalmente vacinados, quando precisava de 75%, no mínimo; enquanto a vacina chega a conta-gotas pela vontade de um títere psicopata. Sinceramente, quantas vidas ainda precisam findar? Quantas cepas e ondas precisam existir? 2022 está longe demais para quem só perde e tem fome, mas muito perto para o tamanho da tragédia que se anuncia.

O crescimento pífio de 1,2% do PIB (IBGE), nesse primeiro semestre, serviu de boia para um (des)governo náufrago, que alardeia mentirosamente o feito como seu. Possivelmente um alívio passageiro de fôlego curto. Segundo analistas, a formação do capital fixo (capacidade produtiva) caiu 24% devido a ausência de investimentos público e privado desde 2014; provavelmente foi um crescimento pela elevação de preços, com destaque aos comodities, mantendo na penúria a grande maioria de renda baixa, sufocada ainda mais pela alta de juros. Em consequência, o desemprego se elevou de 13,9% no último trimestre de 2020 para 14,7% no primeiro de 2021. O provável novo rebento da pandemia pode atingir em cheio um barco já avariado. Portanto, um aviso aos navegantes que lançaram âncora em 2022: a crise pode ser avassaladora ao ponto de afundar projetos bem ajustados.

Sem dúvida, a correlação de forças ainda está bastante comprometida, para as forças progressistas, pelo desejo dos dominantes de passar a boiada (privatizações, juros escorchantes, fim de Direitos e otras cositas más) e o medo confesso de que a porteira se feche. As forças ainda governistas no Congresso contam com fartas verbas e benesses na campanha eleitoral. No entanto, o preço vai ficando cada vez mais caro e o dinheiro vai perdendo valor. Até quando o Genocida manterá esses apoios com seu crescente isolamento? Mudará de rumo e humor? Abusará das prerrogativas da presidência? Concederá algumas miçangas? Sabemos que cabe tudo na pena quando a alma é miliciana.

As mobilizações alvíssaras do 29M elevaram o patamar da luta política contagiando as frentes em ação. Ao dar maior visibilidade à insatisfação popular acirra as contradições existentes, amplia o leque de forças oposicionistas e provoca aceleração às práticas de sobrevivência do (des)governo. Os dominantes acusam o baque com as atitudes pendulares da Rede Globo ao tentar esconder a magnitude do evento, veiculando notícias favoráveis ao “Dito Cujo”; em seguida, sob rasteira do mesmo, volta atrás e dá a devida dimensão do movimento e do grande panelaço, subindo os decibéis de crítica com o “Fora Bolsonaro”. Ao mesmo tempo, o hóspede indesejado do Planalto finge indiferença preparando um novo bote. Essa situação não deixa espaços para ilusão de classe, pois a luta é árdua; e nem pará domesticação do movimento, pois a palavra de ordem acima fala por si.

O Rubicão foi atravessado pelas forças progressistas e populares. Chegou o tempo de grandes batalhas em todos os campos para conquistar um amplo leque de segmentos políticos em defesa da vida, da democracia e do desenvolvimento. Cresce e torna-se determinante o papel dos movimentos político-sociais organizados junto com as forças políticas mais avançadas, capitaneados pela Classe Trabalhadora, o que exige mais unidade, foco e muita mobilização.

A luta do povo contra o genocídio começa a tomar todas as dimensões ocupando cada vez mais espaços e participando dos grandes embates até à vitória. O inimigo do povo brasileiro pode a qualquer momento verter a gota d’água necessária que rebentará a represa, e é preciso estar preparado. Que venha o 19J, e que seja maior!

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