“Apagão de Bolsonaro” deixará conta de luz mais cara até 2022
Crise hídrica e erros de Bolsonaro forçarão o governo a acionar as térmicas, mais caras, ao longo dos próximos meses, para compensar a queda na geração hidrelétrica
Publicado 15/06/2021 10:28 | Editado 15/06/2021 12:01
O aperto no bolso dos brasileiros vai continuar sob o governo Jair Bolsonaro. Depois da inflação elevada de alimentos e combustíveis, o próximo item a castigar as famílias será a conta de luz. Um “apagão” deve atingir o setor elétrico nos próximos meses, devido à crise hídrica e aos baixos níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas – problemas agravados pelo descaso de Bolsonaro.
Segundo o jornal Valor Econômico, o “apagão” vai impactar os preços da energia elétrica no segundo semestre de 2021 – e que os efeitos podem se estender também para o próximo ano, tanto no mercado regulado quanto no mercado livre. Os brasileiros – incluindo os mais pobres – vão pagar a conta desses erros, que forçarão o governo a acionar as térmicas, mais caras, ao longo dos próximos meses, para compensar a queda na geração hidrelétrica.
“Com certeza, o segundo semestre deste ano vai ter o maior custo de despacho térmico da história. Nunca houve tanta necessidade de despacho de termelétricas na base como vai ocorrer nos próximos meses”, diz Eduardo Faria, sócio-fundador da comercializadora Mercurio Trading.
No mercado regulado, no qual os consumidores são atendidos pelas distribuidoras, os impactos ocorrem por meio das bandeiras tarifárias, atualizadas mensalmente. Além disso, a escassez de água afeta o risco hidrológico (GSF, na sigla em inglês), que também tem reflexos no reajuste anual das tarifas previsto para 2022.
Já no caso do mercado livre, os consumidores devem começar a negociar no segundo semestre de 2021 renovações ou ampliações de contratos e, portanto, os acordos para o próximo ano devem refletir o atual contexto hidrológico ruim e as incertezas do mercado. Outro ponto que gera insegurança nos preços da energia no mercado livre são questões estruturais na determinação do preço de liquidação das diferenças (PLD) que impedem que o índice reflita corretamente a crise hídrica.
O PLD é usado para calcular diferenças entre contratação, consumo e geração no mercado livre. Mas o modelo que determina o índice hoje leva em consideração previsões de vazões otimistas para as hidrelétricas e acaba demorando a contabilizar a necessidade de despacho das térmicas. Com isso, embora tenha havido um aumento do risco no mercado e maior uso das usinas termelétricas, o PLD ainda não está nos seus níveis máximos e o repasse do aumento dos custos tem ocorrido por meio de encargos.
Para o diretor técnico da Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Filipe Soares, consumidores não têm como prever o aumento dos encargos. Na média mensal, esses encargos atingiram preço máximo de R$ 40 por megawatt/hora (MW/h) em janeiro e hoje estão em cerca de R$ 30 MW/h.
“Se o modelo considerasse o risco, o PLD estaria chegando no teto regulatório. O preço está errado, está baixo e, assim, os encargos são mais altos”, diz Soares. “Sem a correta correção do preço, vamos ter mais de um ano onerando excessivamente os consumidores sem que eles possam adotar nenhuma medida de proteção. Isso encarece preços de produtos e serviços e contribui para o aumento da inflação.”
Uma mudança na modelagem do PLD está em estudo na Comissão Permanente para Análise de Metodologias e programas Computacionais do Setor Elétrico (CPAMP) e deve ser adotada a partir de janeiro de 2022. Para especialistas, a atualização deve fazer com que o PLD suba a partir do próximo ano, o que deve ser compensado pela redução dos encargos.
O cenário para os preços de energia em 2022 também depende da situação das chuvas no período de novembro do ano atual a março do próximo ano. “A tendência é de regimes hídricos piores, como ocorre desde 2012. A realidade brasileira daqui para a frente é ter uma situação hídrica mais sensível”, diz o sócio e diretor da consultoria Thymos Energia, Alexandre Viana.
Um fator que ajudou a atenuar os impactos da crise hídrica nos preços da energia foi a diversidade de fontes presentes no setor elétrico brasileiro, sobretudo de renováveis como eólica e solar. Segundo Viana, essas fontes não tinham representatividade tão grande na matriz em outros momentos de crise hídrica no passado, quando foram registrados aumentos maiores de preços do que na atual escassez.
Com informações do Valor Econômico