Caminhoneiros criticam Bolsonaro e ameaçam greve: “Estamos no limite”

“Estão fazendo marketing em cima da categoria”, diz o presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores

Wallace Landim, o “Chorão”, presidente da Abrava (Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores)

Os caminhoneiros do Brasil ameaçam fazer uma nova paralisação em protesto contra as promessas não cumpridas pelo governo Jair Bolsonaro. “Estão fazendo marketing em cima da categoria”, criticou, nesta quarta-feira (16), o presidente da Abrava (Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores), Wallace Landim, conhecido como “Chorão”.

Uma nova greve, segundo o sindicalista, é cogitada pelos caminhoneiros. “Possibilidade há. Estamos no limite, na UTI – estamos tomando esse remédio para salvar a categoria”, afirma Chorão.

Em janeiro, um grupo de motoristas tentou mobilizar a categoria para uma paralisação nacional prevista para o dia 1º de fevereiro, com base numa série de reivindicações. O governo Bolsonaro correu e anunciou um pacote de medidas para tentar evitar a greve. A principal delas foi a inclusão dos caminhoneiros no grupo de prioridade na vacinação contra a Covid-19, ao lado, por exemplo, de profissionais de saúde e indígenas.

Cerca de cinco meses depois, a promessa não foi cumprida pelo governo, de acordo com Chorão. “A gente vem participando de muitas reuniões no governo – e nada. Temos várias situações, uma delas é referente à vacina”, diz. “Estamos no grupo prioritário desde janeiro, mas até agora não fomos imunizados.”

O grupo também reclama da linha de crédito criada pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico) no valor de R$ 500 milhões para caminhoneiros autônomos manterem seus veículos. Na época, o governo disse que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal ficariam responsáveis, inicialmente, por oferecerem os empréstimos.

“Não conheço nenhum caminhoneiro que pegou (esse empréstimo). A vigência terminou agora”, afirma Chorão, exemplificando com seu próprio caso: “Pedi, mandei ofício para Ministério da Economia – e o Ministério da Economia nem sequer me retornou. Conversamos com vários setores financeiros, e esse plano nunca existiu”.

Chorão não é a única liderança dos caminhoneiros a manifestar divergências com Bolsonaro. Carlos Alberto Litti, diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL) – que tem mais de 800 mil associados –, também fala em uma nova paralisação. “Queria perguntar o que o presidente Bolsonaro fez pela categoria”, afirma.

“Se os caminhoneiros avaliarem que a situação não é ideal, é preciso que todos se unam e só tem um caminho – que é a greve”, reforça Litti. Segundo o dirigente da CNTTL, o preço do litro do diesel está na média em R$ 4,20 – e o estopim da greve de 2018 foi o valor ter chegado a R$ 2,83. “Só os fanáticos não enxergam que a situação está dramática.”

Segundo o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Três Cachoeiras (RS), Jair Marques, a categoria está trabalhando em condições precárias. “Estamos voltando a nos mobilizar para buscar formas de fazer valer nossas reivindicações.”

Diante da nova pressão da categoria, os ministérios da Economia e da Infraestrutura fecharam em maio detalhes de um pacote de benefícios para os caminhoneiros que seriam divulgados por etapas. Além de um voucher para amenizar os efeitos dos reajustes do diesel, o governo estuda linhas de crédito e até um programa de renovação de frota. Mas nada avança.

Desde fevereiro, os motoristas sinalizam que os reajustes dos afetaram seus ganhos, o que causa temores no governo sobre uma paralisação nos moldes da que ocorreu em 2018. Hoje, 87% do transporte de cargas no País é feito pelas estradas.

Com informações do UOL