CPI quer saber se Bolsonaro acionou PF para apurar caso da Covaxin

O deputado Luís Miranda (DEM-DF) disse que levou ao presidente documentos que comprovam irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin. O chefe do executivo ficou de acionar a Polícia Federal para apurar as denúncias, mas não deu retorno

(Foto: Reprodução)

O presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD), disse que o colegiado vai questionar a Polícia Federal (PF) para saber se houve abertura de investigação a respeito das denúncias apresentadas pelo deputado Luís Miranda (DEM-DF) sobre irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin. O parlamentar disse que entregou pessoalmente a Bolsonaro as provas contendo as falcatruas nas negociações. Aziz considerou “preocupante” se o presidente recebeu a denúncia e não pediu abertura de investigação.

Para a cúpula do colegiado, a denúncia coloca Bolsonaro no centro das investigações. O presidente se envolveu diretamente nas negociações. Além de telefonar ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, em favor das empresas privadas EMS e Apsen, para receber insumos visando o aumento da produção de cloroquina, o presidente também pediu ao premiê a intermediação para facilitar a compra da Convaxin.

O deputado e o irmão Luís Ricardo Fernandes Miranda, chefe da divisão de importação do Ministério da Saúde, vão depor na sexta-feira (25) na CPI e já podem estar sob proteção policial.

“A CPI da Covid estará requisitando segurança para o deputado Luís Miranda, ao irmão e aos familiares. As informações que o deputado está declinando à imprensa e que trará a esta CPI, são de extremo interesse público. Sua vida e de sua família precisam estar resguardadas”, publicou no Twitter o vice-presidente do colegiado, Randolfe Rodrigues.

As denúncias

Em entrevista à CNN, o deputado disse que entregou ao presidente “provas contundentes” de irregularidades nas negociações para a compra da vacina Covaxin. Ele disse que o presidente sabia que tinha crime e se compromete a acionar “imediatamente” a PF.

“Entreguei a Bolsonaro. O caso não é só de pressão. É gravíssimo: tem desvio de conduta, invoice [nota fiscal] irregular, pedido de pagamento antecipado que o contrato não previa, quantidades diferentes”, disse Miranda ele à emissora.

O deputado explicou que foi ao presidente porque seu irmão estava sofrendo retaliação, sendo pressionado a assinar a nota fiscal da compra das vacinas. “Quando eu vi que o caso era grave e vi que poderiam ter pessoas envolvidas do alto escalão, fui direto no presidente. Fiz a pedido do meu irmão, que não confiava em ninguém e estava com medo”, afirmou.

Segundo ele, o encontro com o presidente ocorreu no dia 20 de março, às 16h30. Miranda conta que ele, o irmão e a esposa, que ficou na antessala, se encontraram com o presidente e entregaram provas concretas: a cópia do contrato, a nota fiscal que seria fraudulenta e a comparação entre elas.

“O presidente demonstra que se convenceu dos indícios de irregularidade, disse que ia encaminhar para o DG [Diretor-geral] da Polícia Federal para devidas providências”, disse.

Miranda disse que levou a Bolsonaro uma série de documentos para que não houvesse dúvidas sobre a acusação. “Relatos? Ele não ia acreditar em mim, não. Os amigos dele que estão lá dentro, ué. Levei provas contundentes. Ele [Bolsonaro] se convenceu e ficou de chamar o DG [diretor-geral da Polícia Federal]”. Depois disso, não houve retorno e o parlamentar passou a não ser recebido nos ministérios.

Pagamento adiantado

Ao O Globo, o irmão do deputado contou que caso tivesse sido assinado o recibo a empresa poderia cobrar um pagamento adiantado, o que a área técnica considerava indevido, no valor de US$ 45 milhões (R$ 222,6 milhões). O contrato para a compra da Covaxin com o Ministério da Saúde não prevê pagamento antecipado. O recibo previa ainda só 300 mil doses, menos que as 4 milhões previstas para o primeiro embarque no contrato.

Apesar da gravidade da denúncia, os senadores vão atuar no caso com cautela, pois muito ainda precisa ser apurado com a quebra de sigilos e depoimentos.

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